Política Titulo Reunião
Passos da queda do
PT em Diadema

Bastidores mostram reunião de Filippi, pedido de troca
de secretários e o atrito com o funcionalismo público

Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
12/11/2012 | 07:20
Compartilhar notícia


Período de recesso parlamentar na Câmara Federal em 2011, e o deputado federal José de Filippi Júnior (PT) decide fazer reunião emergencial com seu afilhado político, o prefeito de Diadema, Mário Reali (PT). O encontro, realizado às escondidas e com presença de raros integrantes da cúpula petista, foi o presságio da queda de um império: o de 30 anos de governos do PT ou de aliados em Diadema.

Filippi convocou a reunião para falar sobre pontos que Reali precisava atacar se quisesse ser reeleito. Petistas mais íntimos da dupla contam que o parlamentar federal sugeriu ao pupilo: "Mário, você precisa trocar o comando das secretarias de Saúde, Defesa Social, Comunicação e Esportes". As Pastas eram comandadas por Aparecida Linhares Pimenta, Arquimedes Andrade, Denise Gorczeski e Antônio Vanderly Lima.

Ouvinte dos conselhos do padrinho político, Reali decidiu manter os secretários. O petista confiava em todos de seu primeiro escalão. Externava otimismo com o secretariado, mesmo quando críticas eram disparadas pela própria base aliada. Só que outro assunto também preocupava Filippi: funcionalismo.

Meses antes da reunião com Reali, o Sindema (Sindicato dos Servidores Públicos de Diadema) tinha declarado greve geral. Não aceitou, em abril, proposta de reajuste de 2% feita pelo governo petista. Exigia 11%, no mínimo. Reali confiava na relação costurada com a vereadora Irene dos Santos (PT), amiga de Jandyra Uehara Alves, presidente do Sindema. Pela primeira vez na história dos 30 anos de gestões petistas, a Articulação de Esquerda (tendência petista em que Irene e Jandyra estão inseridas) recebera espaço no primeiro escalão. Rubens Xavier, marido de Jandyra, virou secretário de Esportes.

Todo relacionamento costurado não foi suficiente para que Reali conseguisse contornar a crise. Exato um ano e seis meses após deflagrada a greve, Reali sentiu na pele a máxima que corre no folclore do funcionalismo: prefeito não vence eleição com apoio de servidores, mas pode perder sem apoio deles.

Na campanha, Reali começou a ver nas ruas que a cidade tradicionalmente petista estava avessa ao PT. Em reunião de comissionados, disse que "Diadema estava nervosa". Dificilmente passava um dia sem receber reclamações. No entanto, pesquisas de intenções de voto não vislumbravam dificuldades para Reali vencer no primeiro turno. Ele não tinha adversário, até então. Até afirmou aos jornais não conhecer seus rivais.

O cenário mudou completamente no fim de agosto. Os institutos mostravam que Lauro Michels (PV) crescia nas pesquisas a ponto de provocar segundo turno. Reali decidiu então tirar licença do Paço. Ficou nas ruas quase 18 horas por dia e entendia que a peregrinação seria recompensada no dia 7 de outubro. Só que um assunto começou a dominar a eleição: a instalação das catracas nos terminais Diadema e Piraporinha, que representava o fim da integração gratuita no sistema de Transportes.

O diademense estava acostumado com a baldeação de graça. O benefício foi conquistado 20 anos atrás, no governo do PT. Mas o governo do Estado já havia anunciado o encerramento do convênio. E Michels, então, decidiu bater na tecla que o fim da integração era obra de Reali. O verde espalhou que o prefeito petista não teve competência para manter a ETCD pública e viável. A crítica colou em Reali, que não conseguiu evitar o segundo turno.

Na etapa final do pleito, a cúpula do PT mudou a estratégia de campanha. Passou a atacar o verde. Questionou o currículo do vereador de dois mandatos. E tentou transferir a culpa pelas catracas ao parlamentar municipal, principalmente depois da adesão oficial do PSDB à candidatura oposicionista. O dia 28 de outubro mostrou que todas as alterações feitas em 120 da eleição não foram suficientes para manter a hegemonia petista.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;