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'Sabia onde o governo Collor ia dar'

Cara-pintada destaca manifestações no Grande ABC para derrubar presidente do cargo

Cynthia Tavares
do Diário do Grande ABC
29/09/2012 | 07:03
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Jovens unidos por um único ideal, sem levar em conta questões raciais ou religiosas. Escandalizados com o esquema de desvio de dinheiro público no governo de Fernando Collor, os brasileiros resolveram deixar o conforto de suas casas dispostos a lutar para derrubar o presidente da República.

Esse foi o caso de Solange Torino. Aos 29 anos e com diploma de Jornalismo nas mãos, ela resolveu se engajar na luta que, para ela, não era tão desconhecida. "Já era do movimento que trabalhou para eleger (Luiz Inácio) Lula (da Silva) em 1989. Conhecia o Collor, acompanhei de perto a campanha. Sabia no que o governo ia dar", destacou.

A jornalista lembrou que montou grupo de teatro com intuito de conscientizar a população sobre a índole do ‘Caçador de Marajás'. "A gente montou espetáculo que era uma sátira do presidente. Era o candidato inflável. A população resolveu votar nele. Levamos o espetáculo para a rua. Saímos vestidos de palhaço", ressaltou.

Mais tímido, o cartunista Gilmar Machado Barbosa também não resistiu à mobilização. "Não me envolvia muito. Eu exercia o meu trabalho e preferia não tomar partido nessas questões. Agora, do movimento Fora Collor não tinha como fugir", disse Gilmar, que na época tinha 27 anos.

O cartunista destacou que as denúncias de corrupção lhe tiraram da zona de conforto. "O presidente era um político folclórico e patético. Pregou durante toda a campanha o combate aos marajás, mas o governo parecia a Casa da Mãe Joana diante dos escândalos", avaliou.

Os dois caras-pintadas lamentam a falta de engajamento do jovem na política atual. "Hoje os protestos são virtuais, pelas redes sociais. Eles não saem do seu quadrilátero. Isso deu certo em países árabes, mas é preciso ter algo que comande e sensibilize", avaliou Gilmar. Solange salientou que faltam incentivos culturais à juventude.

O professor da Fesp-SP (Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo), Marcos Tarcísio Florindo, destacou que o engajamento do jovem era maior no início dos anos 1990. "A crise de Estado era grande. Os altos índices da inflação causavam desigualdade social. A conjuntura mobilizava mais as pessoas", avaliou.

Maurício Soares, prefeito de São Bernardo pelo PT na época, recordou a dificuldade de governar durante os dois anos e meio de gestão Collor. "Cheguei a ir a Brasília para tentar viabilizar verbas, mas ele nunca me atendeu", lembrou.

Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos em 1992, o deputado federal Vicentinho (PT) recordou o dia em que a Câmara dos Deputados votou o pedido de impeachment. Cerca de 40 mil pessoas estavam no Paço de São Bernardo acompanhando ao vivo, em telão, o trabalho em Brasília. "Todos ficavam vibrando a cada voto favorável e reagia mal aos contrários. No final, tudo mundo se abraçou e virou uma grande festa", disse.

O deputado federal José de Filippi Júnior (PT), chegou a parar a campanha ao Paço de Diadema para acompanhar a votação. "Estávamos perto da eleição, mas entendi que aquele momento era um marco para a democracia", avaliou.

 

EX-ALIADO

Em 1989, o advogado de São Caetano Éder Xavier era filiado ao PRN, mesmo partido de Collor. Ele foi homem-forte do presidente no Grande ABC. Mas, antes mesmo da eleição, a relação foi cortada. "Não concordei quando usaram a ex-mulher do Lula na campanha. Pedi afastamento e já imaginava que o governo fosse ser maluco pelo grupo que estava em torno do Collor", pondera Éder, hoje.




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