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Demitidos pela ditadura militar

Mauá recebe hoje depoimentos de trabalhadores da Petrobras que foram dispensados após o golpe de 1964 e retornaram à empresa anos depois

Júnior Carvalho
Especial para o Diário
16/05/2014 | 07:31
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Orlando Filho/DGABC


Mathias de Meira Barbosa tem hoje 76 anos e é servidor aposentado da Petrobras. Mas quem não o conhece jamais imaginaria o que teve de lutar para conseguir permanecer na empresa a qual sempre admirou. Mathias foi demitido da Refinaria União quando houve o golpe militar, em 1964, e só retornou à companhia 21 anos depois, com a Lei de Anistia. Esse e outros depoimentos serão contados hoje, em debate sobre os 50 anos da destituição do presidente João Goulart, o Jango, do poder e as consequências do regime militar (1964-1985) no Brasil e no Grande ABC. O evento ocorrerá a partir das 18h, no clube Independente, Centro de Mauá.

Assim como Mathias, outros operários também foram dispensados por atuar junto aos sindicatos na luta por igualdade entre os trabalhadores da indústria petroleira. “Quando a gente chegava para trabalhar, o exército ficava na porta da refinaria e impedia que a gente entrasse”, relatou. “Foi uma época muito difícil, a gente não sabia direito o que podia acontecer. Não podíamos nos reunir nem reivindicar”, conta.

Mathias atuava no setor de logística da refinaria, que na época era privada, mas estava prestes a ser encampada pela Petrobras – denominada atualmente como Refinaria de Capuava. Ele conta que, mesmo não sendo ligado a partidos políticos, sua postura incomodou os patrões. “Eu não cheguei a sofrer tanto como os companheiros da direção do sindicato. Muitos, inclusive, chegaram a ser presos”, discorreu.

Com o fim da ditadura, em 1985, Barbosa viu a possibilidade de retornar à empresa, onde ficou por mais quatro anos e ali se aposentou. “Eu fiz questão de voltar porque era um ideal meu e porque lutei para que a indústria passasse (a integrar) a Petrobras. Isso ocorreu depois, quando eu saí de lá. Tiraram essa oportunidade de mim”, desabafou.

Antes de reintegrar a companhia, Mathias teve dificuldades para arrumar outro emprego. “As empresas viam que eu havia passado pela refinaria e arrumavam alguma desculpa para não me contratar.”

Ele afirma que, mesmo de volta à indústria, ainda teve de enfrentar intimidação por parte dos antigos chefes. “Muitos dos dirigentes eram os mesmos de quando a gente foi demitido. Tentaram me deixar de canto, não me passavam serviço, eu ficava horas sem fazer nada. Mas isso mudou com o tempo”.

No evento de hoje também haverá palestras de líderes da Igreja Católica que ajudaram os ativistas na resistência ao regime ditatorial. O debate será organizado por diversas entidades sindicais, com o apoio da Prefeitura de Mauá. O ato ocorrerá no salão nobre do clube Independente, na Rua Japão, 170. Na semana passada, Santo André abrigou seminários sobre as ditaduras na América Latina.

Por reformulação, presidentes de comissões da verdade se reúnem

Presidente das comissões da verdade instaladas nas câmaras do Grande ABC se reúnem hoje, em São Bernardo, para dar fôlego às investigações da atuação de militares durante a ditadura.

O objetivo será reformular a metodologia de oitivas, que hoje se restringem a escuta dos convidados e confecção de relatório baseado nos depoimentos. Lideranças das comissões querem avançar na apuração e trazer fatos inéditos à tona como forma de motivar o público a comparecer nas atividades.

“Precisamos avançar. Não é só ouvir o convidado. Isso é importante, claro, mas precisamos saber se há mais detalhes dos desmandos do regime militar”, comentou o vereador José Ferreira (PT), que preside a Comissão da Verdade na cidade.

No Grande ABC há comissões em Santo André (proposta pelo petista José Montoro Filho, o Montorinho), São Bernardo, Diadema (de autoria da petista Lilian Cabrera) e Mauá (apadrinhada pelo petista Wagner Rubinelli).




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