Primeira eleição direta para presidente após ditadura militar ocorreu em 1989, com 22 candidatos, e teve como vencedor o ‘caçador de marajás’
Em 1989, o brasileiro voltou a escolher o presidente da República por meio do voto direto após 21 anos de ditadura militar (1964-1985). O último chefe da Nação eleito democraticamente havia sido Jânio Quadros (PTN), em 1960. Ainda sob o reflexo da recente redemocratização, a disputa eleitoral de 25 anos atrás gerou grande expectativa e registrou diversas peculiaridades.
A principal particularidade foi o excesso de candidatos, 22 no total – até hoje o maior volume de presidenciáveis da história brasileira. Dentre os postulantes, nomes tradicionais da política brasileira como Paulo Maluf (PDS, hoje no PP), os ex-governadores de São Paulo e Rio de Janeiro Mário Covas (PSDB) e Leonel Brizola (PDT), respectivamente, e Ulysses Guimarães (PMDB), um dos idealizadores da Constituição Federal de 1988.
Mas os protagonistas da disputa foram dois candidatos com perfis completamente diferentes: Fernando Collor de Mello (PRN, hoje PTB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ambos desbancaram Brizola, favorito nas pesquisas eleitorais.
No dia 15 de novembro, 70 milhões de brasileiros utilizaram as antigas cédulas de papel para registrar o voto. Collor teve 22.601.11 votos (32,47% dos válidos). Lula alcançou 11.622.673 sufrágios (16,69%), superando Brizola, que contou com 11.168.228 adesões (16,04%).
A eleição foi decidida no segundo turno. Ex-governador de Alagoas, Collor ganhou fama nacional como o ‘caçador de marajás’, ao prometer acabar com privilégios de funcionários públicos. Era visto como homem a livrar o País da hiperinflação de 30% ao mês.
“O Collor surgiu como remédio para a corrupção. Como se vivia situação econômica desesperadora, as pessoas queriam o Messias”, explica o historiador Renato Dotta.
Líder do movimento grevista que desafiou a ditadura militar nas décadas de 1970 e 1980, Lula foi presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e se colocou como candidato de esquerda, o que incomodava a elite brasileira. O aspecto operário de Lula criou identificação com a massa de trabalhadores. “Naquela época houve crescimento dos movimentos sociais, que simpatizavam com a figura do Lula”, avalia o professor da FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado) Mário Sérgio de Moraes.
Em 17 de dezembro, os brasileiros elegeram Collor com 35.089.998 de votos (53,03% dos válidos), derrotando o petista, que registrou 31.076.364 de sufrágios (46,97%). Collor foi destituído três anos depois.
VIDA APÓS 1989
Dos 22 personagens da eleição de 1989, apenas sete ainda figuram na vida pública. Collor é senador por Alagoas pelo PTB e disputará a reeleição.
Depois de perder o pleito presidencial em 1994 e 1998, Lula foi eleito para governar o País em 2002 e reeleito em 2006. Alguns aliados ainda defendem seu nome para concorrer à eleição deste ano, tirando a presidente Dilma Rousseff da cabeça de chapa do PT.
Maluf é deputado federal de olho na reeleição. Guilherme Afif Domingos (PL, hoje no PSD) é ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa. Acumula o cargo de vice-governador de São Paulo.
Roberto Freire (na época no PCB) é deputado federal e presidente nacional do PPS. Ronaldo Caiado (então no PSD) é parlamentar federal eleito pelo DEM de Goiás.
Ex-deputado federal, Fernando Gabeira (PV) hoje se dedica à carreira jornalística. Disputou o governo do Rio de Janeiro e a prefeitura carioca.
Lula perdeu para Paulo Maluf em São Caetano no primeiro turno
Líder máximo do petismo e morador de São Bernardo, Luiz Inácio Lula da Silva foi o mais votado no Grande ABC no primeiro e no segundo turnos da eleição de 1989. A exceção ocorreu em São Caetano, na primeira fase do pleito. Na cidade que tradicionalmente rechaça políticos do PT, o campeão de votos foi Paulo Maluf.
Maluf teve 33.026 votos (28,60% dos válidos) em São Caetano. Lula ficou logo atrás, com 28.567 sufrágios (24,74% dos válidos). Fernando Collor teve resultado modesto na cidade na etapa inicial da eleição, conquistando 16.355 adesões (14,16%).
No primeiro turno, o retrospecto de Lula foi mais expressivo em Santo André (132.464 votos, 34,31% dos válidos), São Bernardo (110.860 votos, 34% dos válidos) e Diadema (68.417 votos, 40,12% dos válidos).
Ao todo, 916.972 sufrágios foram registrados na região na fase inicial do pleito. No segundo turno, 908.336 eleitores foram às urnas.
Lula venceu em todas as cidades do Grande ABC na etapa derradeira da disputa presidencial, mas viu o eleitorado de Collor avançar justamente em São Bernardo – no município, o duelo ficou 170.330 votos ao petista contra 130.128 para o futuro presidente.
Disputa teve regras flexíveis, jingles e frases históricas
Em período de regras eleitorais menos rígidas, era comum durante as atividades de campanha a distribuição de brindes como bonés, camisetas e chaveiros. Nessa época também eram comuns os showmícios – comícios eleitorais precedidos de apresentação de artistas populares, estratégia para atrair público aos eventos políticos.
A prática foi comum até 2006, quando foi vetada pela Lei 11.300, numa minirreforma eleitoral. As novas regras, que incluíam também proibição de propaganda política em outdoor e a prestação de contas dos candidatos pela internet, foram validada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em maio daquele ano, a tempo de ser aplicada na disputa eleitoral de 2006.
Com a informática incipente no Brasil, o eleitor tinha de definir seu candidato a presidente por meio da cédula eleitoral. Com o sistema manual de contagem de votos, o resultado final das duas fases da eleição foi oficializado dias após a votação.
Houve também jingles e frases imortalizadas, como o ‘Lula Lá’ e ‘Meu nome é Enéas.’
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