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Setor de veículos tem hoje 3.950 metalúrgicos de licença ou férias

Restrição às linhas de crédito e imposição de barreiras pela Argentina derrubam ritmo do mercado

Pedro Souza
Do Diário do Grande ABC
12/05/2014 | 07:27
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Orlando Filho/DGABC


A desaceleração da indústria de veículos da região deixará, a partir de hoje, aproximadamente 3.950 metalúrgicos em casa. Eles fazem parte do grupo dos trabalhadores que entraram nas listas de licenças, suspensões de contratos e férias coletivas na região.

Além disso, a Mercedes-Benz divulgará o balanço dos profissionais que aderiram ao PDV (Programa de Demissão Voluntária). O último balanço oficial da empresa era de 700 adesões. Porém, a montadora reconheceu excedente de 2.000 trabalhadores na fábrica de São Bernardo, que mantinha 11.700 empregados antes da medida.

Além disso, em Santo André e Mauá, lembrou o secretário geral do Sindicato dos Metalúrgicos das cidades, Sivaldo Silva Pereira, o Espirro, cerca de 2.000 operários foram dispensados das fábricas. “A maioria, da cadeia automotiva”, observa o sindicalista.

O cenário conturbado no setor automotivo se deu, principalmente, no mercado de caminhões. Para começar, a atividade econômica desacelerada do País contribuiu para que a demanda desse tipo de veículo diminuísse, tendo em vista que está relacionada a investimentos das empresas.

Outro ponto citado foi o atraso na divulgação de novas regras do PSI-Finame, do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), para este ano. Essa é a principal linha de crédito disponível no País para a aquisição desses produtos. E a demora na publicação de suas características gerou queda na demanda.

Soma-se a isso a crise econômica na Argentina, principal comprador de caminhões do Brasil, e que tem peso significativo nas vendas de duas montadoras de pesados da região, a Scania e a Mercedes. Por causa das condições internas do país vizinho, houve também imposição de barreiras comerciais com o Brasil, desde o último trimestre de 2013, que só agora estão em discussão positiva pelos governos dos países para um acerto comum.

Dentre os 3.950 profissionais que ficarão em casa, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do Grande ABC, 250 já estavam em suas residências desde março. Eles são funcionários da Karmann Ghia, que perdeu demanda após o fim das linhas de produção da Kombi e do Gol G4, na Volkswagen.

Outros 3.000 são funcionários da Scania. Eles entrarão em férias coletivas hoje e retornam ao trabalho no dia 26. A montadora, que se concentra em caminhões extrapesados e em chassis de ônibus, pretende adequar sua produção ao novo cenário. Por isso, está reestruturando seu ritmo de fabricação e garantiu que avaliará mês a mês o mercado antes de tomar nova decisão.

A Mercedes, também direcionada, na região, principalmente aos caminhões e chassis de ônibus, colocou cerca de 700 funcionários em licença remunerada. Eles, que estão incluídos no 2.000 trabalhadores das linhas de caminhões e agregados (motores, eixos e câmbio), correspondem à redução de um dos dois períodos de produção da seção de caminhões.

CARROS

Na sexta-feira (9), a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) divulgou os resultados da produção de automóveis em abril. O estoque correspondia, no fim daquele mês, a 40 dias. No primeiro quadrimestre, houve retração de 5% sobre o mesmo período do ano anterior, com 1,16 milhão de unidades comercializadas. No caso das exportações, a queda atinge 31,9%.

Um dos principais agravantes para a formação desse cenário foi a retirada gradual da desoneração do setor. O IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) reduzido contribuiu para que a indústria atingisse recordes de produção e vendas em 2012 e 2013. E os preços dos automóveis acompanharam essa elevação de alíquota neste ano.

Tendo em vista que a bonança do IPI garantiu o acesso à compra de carros a muitas famílias, e também o endividamento por meses pelas facilidades de crédito, hoje essas dívidas acabaram reduzindo o poder de compra do brasileiro. Como resultado, houve resfriamento da procura por veículos zero-quilômetro após a retomada de parte do tributo.

Dentro deste cenário está a Volkswagen, que colocará, a partir do dia 19, cerca de 900 funcionários em lay-off (suspensão temporária de contrato de trabalho) por cinco meses. Assim, na teoria, o número de operários em casa saltará para 4.850 na segunda-feira.

Os profissionais com contratos suspensos da Volks terão ajuda de custo do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), do governo federal, de R$ 1.306,63, e a montadora completará o restante do salário liquido. Eles deverão realizar cursos de qualificação profissional e ficarão, em casa, por esse período, com garantia de retorno ao ofício. 




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