O PSDB do Grande ABC deve dar um passo para trás na eleição de 2012. Os tucanos não devem lançar candidatura própria nas duas principais cidades da região: Santo André e São Bernardo.

Lideranças do partido se articulam para ter representante nas urnas nas corridas pelos dois paços, cujos municípios juntos administrarão no ano que vem R$ 6,3 bilhões (R$ 3,7 de São Bernardo e R$ 2,6 de Santo André), o que representa 70% de toda a receita prevista nas sete cidades em 2012. As justificativas são mais pessoais do que partidárias ou ideológicas para a disposição em sustentar a candidatura majoritária.

Mas, segundo informações apuradas pela equipe do Diário, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) irá interferir no cenário eleitoral, apesar de ele negar a atitude em entrevistas. Entre os meses de fevereiro e março, quando as articulações estiverem mais adiantadas, o mandatário paulista intercederá nas cidades para que não haja chapa tucana.

Os motivos são simples, sem malabarismos políticos. O primeiro fator é local. Os quadros tucanos nos municípios não têm fôlego suficiente para disputar as prefeituras de igual para igual com as candidaturas que tentarão a reeleição e com outras chapas de oposição.

O outro elemento é mais abrangente, engloba a situação da legenda no Estado. Alckmin vai retirar os nomes de tucanos pré-candidatos a prefeito nos municípios em que não tiver chances reais de vitória e compor com aliados que garantirão apoio à sua reeleição ao Palácio dos Bandeirantes em 2014.

Uma eleição refletir na outra não é novidade. "Pode ser isso, se o movimento for no conjunto dos municípios do Estado, não só numa região. Mas ainda sim temos de ir com calma. Há questões determinantes como quantidade populacional e poderio econômico das cidades que devem ser levados em consideração. Se os candidatos forem realmente limitados, faz sentido recuar", analisa o cientista político Rui Tavares Maluf.

Apesar de no Grande ABC a situação mais notória ocorrer no ninho tucano, essa manobra não é exclusividade do PSDB, pois outros partidos como PT e PMDB também entram no jogo do ‘toma lá, dá cá'. "O próprio ex-presidente Lula tem trabalhado para preservar alianças históricas do PT, por exemplo", discorre o especialista. "É uma ação tática. Dar um passo para trás, às vezes, reflete em avanço no futuro", completa Maluf.

O coordenador regional do PSDB, deputado federal William Dib, não foi encontrado para comentar o assunto.

Pré-candidatos ainda atuam para viabilizar chapas

Em Santo André, o vereador Paulinho Serra trabalha para viabilizar sua candidatura ao Paço. Inclusive divulgou encontros com o governador. Neles, Alckmin teria garantido legenda à empreitada do parlamentar, segundo o próprio Paulinho. Mas publicamente o comandante estadual não declarou apoio. Pelo contrário: reiteradamente, o governador afirma que é parceiro da administração Aidan Ravin (PTB).

Na cidade, haverá a candidatura de reeleição do petebista, as chapas de oposição do ex-sindicalista e deputado estadual Carlos Grana, pelo PT, e do advogado Raimundo Salles, pelo PDT. Assim, o PSDB teria dificuldade em chegar ao segundo turno. Como ocorreu em 2008, quando Newton Brandão ficou na quarta posição no primeiro turno ao obter apenas 8,32% dos votos válidos (31.044 sufrágios).

Em São Bernardo, o presidente da executiva municipal tucana, vereador Admir Ferro, é o único pré-candidato do partido ao Paço. O deputado estadual Orlando Morando (PSDB) ainda não se posicionou. E o deputado federal William Dib (PSDB), talvez o maior cacique da legenda no Grande ABC, já declarou que não pretende concorrer em 2012.

Ferro, apesar de estar em seu quarto mandato e ter sido o vereador mais votado de São Bernardo e da região em 2008, corre o risco de não decolar.

Uma das causas é em função do histórico do partido na cidade, que ganhou maior projeção no município a partir do ingresso de Dib, em setembro de 2009. Há oscilação de participação e resultados. Das seis eleições municipais realizadas desde que foi criado, em 1988, o PSDB encabeçou chapa a prefeito em três oportunidades: 1996 (Maurício Soares venceu o pleito), 2000 (Carlos Buch Pastoriza angariou irrisórios 6.353 votos, ou 1,8%) e 2008 (Orlando Morando foi para o segundo turno, mas perdeu para o petista Luiz Marinho).