O importante para Isabelle Huppert - Mademoiselle Huppert, porque uma atriz francesa é sempre Mademoiselle, informou ao repórter ninguém menos que a grande Jeanne Moreau - é sempre o prazer que ela experimenta fazendo teatro e cinema em casa, na França, ou dando a volta ao mundo. Muitos atores dizem que é um desafio interpretar tal ou qual papel. Que o desafio encerraram para Mademoiselle Huppert papéis como a diretora - inspirada na própria Catherine Breillat - que fica doente e, fragilizada, cai nas mãos de um espertalhão em Uma Relação Delicada/Abus de Faiblesse? Ou a mulher casada que vive no campo com o marido e enfrenta a erosão dos sentimentos em Um Amor em Paris, de Marc Fitoussi. Foram duas atrações do festival que terminou ontem, mas todos os filmes terão lançamento comercial e o de Catherine Breillat vai estrear em maio.
"Desafio não é bem a palavra. Não creio que um papel, qualquer papel, encerre, em si, um desafio. Para mim, desafio foi interpretar As Criadas em inglês, uma língua que não é a minha. Posso falar, mas representar numa língua estrangeira é sempre mais difícil. E eu insisto que atuar, seja no cinema ou no teatro, é sempre um prazer. O prazer do texto, dos reencontros." Foram dois encontros com o público - nas sessões de Um Amor em Paris e Uma Relação Delicada - e uma coletiva de imprensa. Isabelle foi sempre receptiva. Eventualmente, foi monossilábica. Não foi agressiva nem deixou de responder a perguntas.
Qualquer cinéfilo enumera as vezes que ela trabalhou com autores como Claude Chabrol e Michael Haneke, mas Isabelle também trabalhou mais de uma vez com Benoit Jacquot, Bertrand Tavernier e Marc Fitoussi (seu diretor em Copacabana, no qual contracenou com a filha). Como ela explica sua fidelidade a tantos cineastas - "Mas é o contrário, eles é que são fiéis a mim! Posso ter vontade de trabalhar com alguns diretores, e tenho, mas o desejo tem de ser deles. Eles é que me escolhem." E quando surgem os convites? "Existem papéis que penso que seriam bons, mas em geral, senão quase sempre, é o diretor. Pode ser um primeiro filme. Existem diretores que seduzem os atores sem ter currículo para mostrar. É preciso confiar."
E o Brasil? "Gostaria de filmar com diretores brasileiros."Deixa subentendido que nunca foi convidada. Admite que conhece pouco o cinema do País. "Walter Salles, Cacá Diegues, Glauber Rocha." Conhece mais São Paulo, aonde tem vindo com certa frequência, com peças e em eventos de cinema. O que ela teve tempo de conhecer na cidade: "as lojas, os museus. Conhecer os museus não é pouco, hein? Os teatros (Sesc Pinheiros e Consolação, onde se apresentou em peças de Bob Wilson - ela pronuncia Bób Uílsôn). Os restaurantes." Uma jovem atriz, que diz que Isabelle é seu farol, lhe pede conselhos. O que ela diria a uma principiante? "Não sou muito boa para dar conselhos e, quanto a ser principiante, eu mesma me sinto muitas vezes assim. Mas acho que é importante experimentar e tentar de tudo. Apostar na diversidade." Comédia ou drama? "Não faço nenhuma distinção. Existe humor em muitos dramas pesados de Michael Haneke e muitas comédias são impregnadas de melancolia." OK, os diretores escolhem, mas com quem ela gostaria de trabalhar, ou de ter trabalhado? "Alfred Hitchcock." Senhoras e senhores, Mademoiselle Huppert. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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