Cultura & Lazer Titulo Intercâmbio
Rumo ao berço da
música clássica

A Orquestra Jovem do Estado viaja nesta quarta para a
Alemanha; jovens do Grande ABC integram a formação

Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
12/08/2012 | 07:04
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Grande ABC. São Paulo. Alemanha. Três paradas de uma longa jornada para alguns dos músicos da Orquestra Jovem do Estado. O grupo embarca para a região da Saxônia na quarta-feira, onde faz concerto em duas cidades: Bad Elster, na sexta, e Tambach-Diethars, no domingo.

Oportunidade única de sentir-se prestigiado como grupo selecionado para tocar em região onde se valoriza a música clássica e sorver um leque de inspirações e aspirações para seguir adiante no árduo caminho que é dedicar-se à música erudita no Brasil.

A expectativa é grande. Muitos deles jamais pisaram fora do País. "A preocupação em tocar direito é tão grande que nem consegui parar para pensar sobre como vai ser a viagem. Os ensaios estão puxados, e só penso em fazer tudo certo", diz o andreense Nicolas Nemitz Moura, 16 anos, que toca oboé.

Em 33 anos de carreira esta é a primeira vez que a orquestra é convidada a ir para o Exterior. E é o primeiro grupo jovem a participar do 'Festival MDR Musiksommer'. No repertório dos concertos listam a 'Suíte Sinfônica nº 2 - Pernambucana', de Guerra-Peixe; a 'Pequena Suíte', de Debussy; e a 'Sinfonia nº 9', de Dvorák. As mesmas peças serão exibidas no dia 26, às 11h, na Sala São Paulo. Eles atuaram sob a regência do maestro Cláudio Cruz, também diretor musical.

A agenda da formação, que conta com 90 músicos, prevê ainda a visita deles a Leipzig, onde Bach desenvolveu a maior parte das suas composições.

MUDANÇAS
A Orquestra Jovem passou por mudanças radicais nos últimos tempos. "Como participo do grupo desde o ano passado, passei pela transição de maestro, direção etc. Posso dizer que é outra orquestra, pois com uma bolsa de estudos maior, melhores condições, e ainda uma viagem para a Alemanha, o número de candidatos triplicou, e, consequentemente, entraram muitos músicos de excelente qualidade na formação", conta a violinista andreense Marcela Macedo de Oliveira, 19 anos.

A reestruturação fez com que a bolsa de estudos passasse de R$ 460 para R$ 1.000. Também aumentou o número de concertos agendados, além da participação de renomados regentes e solistas.

"Ha 15 anos o número de orquestras, projetos e escolas era pouquíssimo. Hoje, o quadro é diferente. As oportunidades aumentaram de forma significativa, mas há muito que se investir para chegarmos ao nível dos europeus", comenta Marcela.

Ensaios e mais ensaios

A vida de músico é frenética. Ensaios e mais ensaios compõem o dia a dia de quem deseja se destacar entre os pares. Na Orquestra Jovem a rotina de ensaios toma duas semanas por mês, além das apresentações. "O que nos permite ter duas semanas de folga é que temos, em média, sete ensaios por semana, praticamente o dobro do que outras orquestras", diz o trompetista Denis Tampelini Bezerra, 22 anos, de Santo André.

Mas não é porque estão de folga na metade do mês que ficam parados. "Independentemente da semana, com ou sem ensaios, temos aulas. Uns fazem faculdade, dão aulas em escolas, fazem eventos. Rigorosamente, temos que estudar o instrumento de quatro a oito horas por dia", revela a violinista Marcela Macedo de Oliveira.

"Ser músico no Brasil não é fácil, mas também não é impossível. Dependemos majoritariamente de nossa dedicação e vontade, mas também temos que enfrentar as armadilhas do mercado. Não são tantas orquestras como em outros países, não se paga o justo na maioria das vezes etc. Mas tudo isso fica de lado quando estamos no palco trabalhando para ‘tocar' o ouvinte", considera Denis.

"Estudo o instrumento umas cinco horas por dia, mesmo quando não tenho ensaios", conta Nicolas Nemitz Moura, que toca oboé.

Como oportunidades na área não brotam sempre, o caminho e os sonhos da maioria dos músicos passam pelos mesmos objetivos. "Em comparação com os países europeus, estamos bem atrasados. Por isso, muitos vão estudar no Exterior, uns formam carreira lá e outros voltam para cá", fala Marcela.

"Atrair público para esse tipo de música é um desafio, mas isso tem mudado lentamente e nossos concertos estão atraindo cada vez mais pessoas que não têm contato direto com um instrumento ou orquestra", pensa Denis.

Mas, com a sorte de fazerem parte do grupo que fazem, valorizados cada dia um pouco mais, eles não perdem a esperança de ver um futuro todo blue com as suas profissões em nosso País. "Como boas oportunidades não são muitas, continuo me dedicando por aqui como se estudasse na melhor escola do mundo, já que o principal da música é a nossa dedicação como aluno", arremata o trompetista.




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