Política Titulo Investigação
MP vai oferecer denúncia do caso Semasa em 60 dias

Com dois anos de investigação, promotoria
apontará responsáveis por cobrança de propina

Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
04/03/2014 | 07:34
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Reprodução


Exatamente dois anos após o Diário denunciar com exclusividade a existência de suposto esquema de corrupção na sede do Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), a fase de investigação criminal da Polícia Civil e Ministério Público está perto do desfecho. Sem mandato no Executivo, o ex-prefeito Aidan Ravin (PSB) é colocado como um dos principais mentores da lista. A promotoria tem apenas mais um depoimento a colher no Fórum e depois vai oferecer denúncia do caso à Justiça em cerca de dois meses.

O promotor Roberto Wider Filho sustentou que há “provas seguras” da materialidade do crime cometido na autarquia por conta de documentos remetidos e apreendidos, inclusive comprometendo Aidan. “Algumas delas indicam atuação direta do prefeito na gestão daquela crise”, disse ele, ao completar que existem elementos de autoria dos delitos. “Por isso deve ser oferecida a denúncia. Quando o inquérito voltar novamente com pedido de prazo ou conclusão da autoridade policial, quero ter realizado a oitiva e já dar esse encaminhamento. Isso vai levar no máximo 60 dias.”

O procedimento de denúncia é a manifestação do MP para que se inicie a ação penal. A promotoria apresenta a medida e se o juiz que ficar à frente do caso acolher a acusação, abre processo criminal. Depois disso, os envolvidos denunciados podem ser chamados de réus. Delegado que presidia o inquérito policial, Gilmar Camargo Bessa foi transferido para São Paulo. Ele não comentou o andamento ao justificar que o caso está sob segredo de Justiça. Anteriormente, alegou que havia indícios para condenação no escândalo.

Depois do oferecimento da denúncia, o processo deve demorar mais 90 dias para apresentação da defesa preliminar, por envolver servidores públicos. Finalizado esse período, a expectativa é que se tenha a sentença do juiz.

No momento, o MP levanta a participação de cada envolvido na suposta fraude no setor público. “A identificação de alguns dos responsáveis pela cobrança indevida (de propina) necessariamente não faz prova contra outros. Estamos verificando a responsabilidade individual”, frisou Wider, ao salientar que as acusações feitas posteriormente pelo advogado Calixto Antônio Júnior se confirmaram. “Ficou comprovado que ele representava o prefeito dentro do Semasa.”

O advogado foi indicado para atuar na autarquia, mesmo sem ser funcionário, para fazer fundo de caixa para campanha eleitoral, segundo a denúncia. No processo administrativo interno do Semasa número 5.463/11, apresentado por Calixto ao MP e à polícia, é detalhado que o ex-assessor de gabinete Antônio Feijó determinou a servidores da autarquia que os pagamentos a fornecedores seriam liberados somente pelo ‘novo funcionário’ (Calixto) a partir de novembro de 2011. A orientação havia sido feita por Aidan, de acordo com o documento. O advogado também entregou cópia da conta de seu celular, em que constam ligações a Aidan e a Feijó.

Questionado, Aidan diz estar tranquilo ao relatar que não teve participação nem conhecimento de qualquer irregularidade no Semasa. “Acreditei na capacidade do (então) superintendente (Ângelo Pavin) e minha orientação sempre foi a legalidade e a transparência. Não posso ser responsável por possíveis atos de outras pessoas. Sei o que eu fiz e foi sempre muito correto e ético”.

Pavin não foi encontrado para comentar o assunto.

O CASO

Em 4 de março de 2012, o Diário publicou denúncia de que empresas que aguardavam licença ambiental no Semasa eram procuradas por representantes da autarquia, que estariam cobrando propina para garantir a liberação do documento. Representantes de construtoras e um diretor do Semasa confirmaram o esquema. Durante a investigação do MP e da polícia, constatou-se também possível extorsão de credores do Semasa – a autarquia só pagava por produtos e serviços se recebesse verba de volta.

Coaf foi acionado para obter provas

Além do pedido de quebra de sigilos telefônicos e bancários dos envolvidos, os órgãos de investigação acionaram o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) para identificar movimentações suspeitas de dinheiro. Entre as atribuições do órgão federal está prevenir a utilização dos setores econômicos para a lavagem de dinheiro. Quando uma pessoa adquire imóvel, carro, faz pagamento à vista, o que demonstra atitude anormal, a ação é comunicada ao Coaf.

Esse levantamento seria uma das provas documentais anexadas ao processo, hoje com cerca de dez volumes. A averiguação foi submetida a diversos atrasos. Situação que atrapalhava a evolução dos trabalhos era, à ocasião, o foro privilegiado de Aidan. “Quando houve solicitação de quebra, estava ali incluído pedido contra o prefeito. Foi remetido ao TJ (Tribunal de Justiça), que envia à Procuradoria-geral. Essa tramitação burocrática gera demora natural até por conta da participação de novos operadores do direito”, mencionou o promotor.

Outra circunstância que amarrou a apuração foi o retardamento no envio dos documentos de quebra de sigilo requeridos. Após seis meses de espera pelos dados, por exemplo, a informação da operadora telefônica veio errada, em período diferente daquele requisitado, obrigando a novo pedido.




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