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Motoqueiros selvagens

Viajar sobre duas rodas não é para qualquer
um: é preciso paciência e também prudência

Miriam Gimenes
06/02/2014 | 11:34
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Raphael Karan/Arquivo pessoal


Quatro amigos de meia-idade estão há tempos com a vida monótona. Durante um encontro, Wood (John Travolta), que está falido, sugere que eles realizem um antigo sonho e façam uma viagem de motocicleta pela Califórnia. Juntos, têm experiências surreais, que em nada lembravam a rotina que levavam antes desta peripécia. Trata-se da história da comédia norte-americana Motoqueiros Selvagens, dirigido por Walt Becker.

A coragem para enfrentar uma viagem como essa parece ser algo que acontece só na ficção, até por conta de sua atmosfera de aventura. Mas para os apaixonados por motocicletas não há limites, mas sim desafios. É o caso do palestrante motivacional Raphael Karan, que enveredou na realização de um sonho e viajou durante oito anos sobre duas rodas.

Da experiência lançou o livro Projeto 5 Continentes – Uma Viagem de Descobertas pelos Confins da Terra, onde relata os lugares que viu, quem conheceu e o que aprendeu nos 60 países por onde passou durante a viagem, o que totalizou 164 quilômetros. “No final dos anos 1970, li a matéria de um colombiano que havia decidido mudar sua vida. Partiu para voltar 11 anos depois. Nunca mais deixei de pensar nisso. Essa viagem era o grande sonho da minha vida.”

Para realizá-lo, buscou patrocínio, planejou com seis meses de antecedência, deixou para trás um emprego e estremeceu o primeiro casamento – a mulher o deixou tempos depois. Não teve medo? “Sou uma pessoa medrosa, ao contrário do que parece. Se senti coragem foi no momento da decisão. Era casado, tinha uma carreira consolidada, ganhava muito bem e abri mão de tudo isso para ir atrás de um sonho que não sabia se ia dar certo”, lembra. Mas deu e ele não se arrepende nem por um segundo da decisão.

Além do prazer de conhecer paisagens maravilhosas e culturas diferentes, Raphael ressalta a oportunidade de vivenciar in loco a realidade de cada país, o que nem sempre é retratado com fidelidade pelos noticiários. O que mais o surpreendeu, por exemplo, foi a hospitalidade dos países árabes, inclusive o irã.

Raphael também destaca a vantagem de viajar de motocicleta. “Você está exposto a cheiros, cores, calor, frio, intempéries, tudo chega a você sem filtros. Não existem portas nem janelas que te impedem de sentir o que você está olhando.” Há dificuldade sim, principalmente com o clima, mas nada supera a experiência vivida sobre as duas rodas.

E não pense que existe um modelo ideal de moto para viajar. Ele chegou a cruzar durante o seu longo percurso com pessoas viajando a bordo de uma pequena Scooter. Ele diz, no entanto, que a Pig Trail, por deixar a postura mais ereta e por ter aros maiores, deixa o motociclista mais confortável.

O palestrante revela que as estradas em melhores condições são as dos Estados Unidos, até por conta da obsessão deles por rodovias. “Lá tem um ditado que eles são cabeça, membro e rodas”, brinca. Destaca, no entanto, a Cordilheira do Karakoran, no Norte do Paquistão, como inesquecível por ser cheia de curvas e ter uma paisagem deslumbrante.

O custo de cada viagem de moto depende do percurso e do tempo que ela leva. Mas Raphael dá sua dica para economizar: leve uma barraca a tiracolo e acampe. “Um dos maiores custos é com hospedagem.” Ele também portava fogareiro onde preparava a maioria das refeições.

CONTEMPLAÇÃO
Como seu maior intuito na viagem foi conhecer bem os lugares, não teve pressa de chegar ao fim do trajeto. Ficava de três meses a um ano em cada país. “Demoro mais para chegar nos lugares, porém enxergo mais.” Também se preocupou com segurança e, por isso, preferia passear apenas durante o dia.

Inclusive porque em alguns países, como a Austrália, por exemplo, tem cangurus cruzando a pista a todo momento, o que à noite ocasionaria acidentes. Já no Canadá, o que ele mais viu foram ursos-pretos atropelados.

Duas grandes virtudes para que um viajante permaneça em pé e respirando, na sua opinião, é abusar da prudência e paciência. E, principalmente, acreditar que conseguirá chegar ao destino final. “Não existe sonho impossível. Não importa o que você faça, tem de fazer de todo seu coração, porque dá certo.” 

DIÁRIO DE MOTOCICLETA

Cumplicidade não se restringe a juntar as escovas de dentes. É também dividir sonhos, experiências, trabalho e, principalmente, viagens. O casal Guga Dias, 41, e Elda Silveira, 38, preenchem estes requisitos e dividem, além do mesmo teto, uma paixão em comum: a moto. Com o know how de quem já passou por mais de 100 destinos – 23 Estados brasileiros e países da América Latina –, eles mantêm o site de moto turismo Diário de Motocicleta www.diariodemotocicleta.com.br.

Quando criaram o portal, há seis anos, o objetivo do casal foi compartilhar em tempo real experiências e incentivar outros motociclistas a viajarem. E Guga, por ser jornalista, tem talento de sobra para descrever com detalhes os locais visitados.

Destinos como Machu Picchu, Lago Titicaca, Linhas de Nazca, Deserto do Atacama, Patagônia, Ushuaia, Nordeste brasileiro, Rio Amazonas, Floresta Amazônica são alguns da vasta lista do casal aventureiro. Elda, que nunca havia viajado de moto, embarcou no convite do marido e não se arrepende. “A surpresa dos lugares que visitamos sempre vem acompanhada de uma sensação de familiaridade, pois passamos meses planejando e pesquisando o roteiro, as cidades e principalmente os pontos turísticos. Eu e meu marido nos interessamos muito por história e cultura. Em viagem, quando vamos visitar uma igreja, sabemos ao entrar nela qual foi a sua data de construção, fatos curiosos de sua história, qual seu estilo e até quem foi seu arquiteto e construtor”, relata.

É claro que este tipo de empreitada não é nem um pouco fácil para mulher. Além de lidar com muito mais roupas e acessórios do que o marido, ela também tem de administrar a vaidade. “Mas quando viajamos de moto precisamos nos adequar ao pouco espaço que temos (no caso dois baús laterais de 46 L e um traseiro de 52 L).” Quando eles adquiriram um “uniforme” de viagem, com roupas específicas para isso, diminuíram drasticamente na bagagem.

Deixar de lado a vaidade, até porque quem está na garupa também está sujeito a intempéries, e os capacetes bagunçam os cabelos, é recompensador. “Viajar de moto não é simples e não se aprende, se aperfeiçoa uma paixão que nasce junto com você. Aquelas que optarem em sair do comum, da sua faixa de conforto certamente serão recompensadas pela satisfação da superação alcançada e pelos lugares e pessoas incríveis que podemos conhecer”, aconselha Elda.

O Diário de Motocicleta costuma organizar viagens em grupos e para este ano levará motociclistas para destinos como as Serras Catarinenses (Serra do Rio do Rastro), as Cavernas de Iporanga, Bonito, Montevidéu e Buenos Aires. Mais informações no site ou pelo e-mail falecom@diariodemotocicleta.com.br.

Paixão é combustível de morador de Diadema

O operador de máquina e funcionário da Mercedes Benz em São Bernardo Valdemir José Januário, 37, já passou por quatro países se nove Estados brasileiros em cima de sua moto. Apaixonado pela adrenalina proporcionada pelas duas rodas, 

O morador de Diadema fez a primeira viagem pela América do Sul, passando por São Paulo, Acre, Peru, Equador, Colômbia, Venezuela e Amazonas, ente outros locais. A mais emocionante, segundo ele, foi a terceira, quando foi para a Venezuela, em 2012, e por lá ficou durante 35 dias, totalizando 7.000 mil quilômetros. 

Valdemir, que aproveita as férias para se aventurar nas estradas, diz que gosta mais de estar em cima da moto do que aproveitar os lugares visitados. “As viagens que faço não tem nada de luxo, não faço turismo. Passo pelos lugares como expedicionário. Não paro e fico curtindo. Gosto é de andar de moto.” 

Suas experiências são relatadas no valdemirjanu.blogspot.com.br e ele pretende viajar o quanto antes com a namorada, Simone Marquini, 36. O que falta é defenir o destino.

PLANEJAMENTO

- Para quem quiser se aventurar pela primeira vez sobre duas rodas é importante tomar alguns cuidados. Especialistas recomendam, principalmente para quem for sozinho, ter noções básicas de mecânica – para selecionar problemas mais simples – e portar ferramentas específicas para o modelo de moto utilizado. 

- Também deve-se preparar o equipamento essencial para usar (roupas impermeáveis, outras específicas para dias quentes, luvas, capacete de boa qualidade, no caso de camping a barraca, colchonete inflável, fogareiro etc). 

- Buscar informações essenciais dos locais a serem visitados (melhor hora para viajar, condições das estradas, estação do ano, costumes da população local, onde se hospedar)

-Para quem for utilizar avião, inclusive para a moto, estudar as tarifas e documentação necessária para o transporte. Prezar também pela segurança, inclusive em países em que há bastante travessia de animal na pista, como na Austrália 




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