Economia Titulo Terceira idade
Financiamento de imóvel é quase inviável para idosos

Prazos menores, seguros mais caros e renda exigida se combinam para dificultar aquisição

Andréa Ciaffone
Do Diário do Grande ABC
15/12/2013 | 07:15
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Arquivo/DGABC


De tão intenso, o desejo do brasileiro pela casa própria se tornou onipresente. Está no noticiário econômico, na publicidade das construtoras, nas falas dos governantes e até nas promoções de produtos que prometem sorteios de moradias. Toda essa exposição faz da compra do imóvel uma obsessão nacional. Entretanto, os idosos estão bem prejudicados nas suas chances de conquistar um teto para chamar de seu por meio de financiamento bancário.

Atualmente, a maior parte dos bancos exige entrada de 20% do valor total do imóvel para financiar os outros 80%. Vamos supor que um cidadão deseje comprar apartamento de R$ 300 mil, que é o valor médio de um apartamento de 70 metros quadrados de dois dormitórios na região, segundo o índice FipeZAP, e tenha os 20% para dar de entrada.

A partir desse exemplo, basta fazer algumas simulações nos sites dos bancos para perceber como a situação do idoso é desfavorável.

Pela ferramenta disponível no site do Bradesco, é possível ver claramente como os bancos tratam a questão da idade. Numa simulação feita para um comprador de 30 anos, com o prazo de 178 meses (14,8 anos), os juros cobrados são de 8,9% ao ano. O valor da prestação mensal, pelo sistema SAC (Sistema de Amortização Constante), é de R$ 3.160 e a renda mínima exigida é de R$ 10.540.

No sistema da TP (Tabela Price), as parcelas caem para R$ 2.484, mas a renda mensal necessária sobe para R$ 16.395.

PRAZO CURTO

A escolha desse prazo de 178 meses não foi aleatória. Ela representa o prazo máximo que o sistema permite para que pessoa de 65 anos financie um imóvel. Isso porque a somatória do prazo do financiamento mais a idade atual do cliente não pode ultrapassar 80 anos e seis meses.

Se nesse mesmo prazo, a simulação for feita para pessoa de 65 anos, o resultado é bem diferente. Para começar a taxa de juros aumenta para 10% ao ano. O valor da prestação pelo SAC vai para R$ 3.788, ou seja, dá um salto de R$ 628 – quase um salário-mínimo, que é R$ 678 – enquanto a renda mensal exigida é arremessada para R$ 12.544.

No sistema da TP (Tabela Price), as parcelas do comprador de 65 anos caem para R$ 3.056, mas a renda mensal pedida pelo banco é de R$ 20.207, valor que representa praticamente cinco vezes o teto da aposentadoria pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), que é de R$ 4.159.

Consultada pelo Diário, a administração regional da Caixa esclareceu que lá os juros não mudam, mas o seguro é proporcional à idade de quem está financiando. Nas modalidades sem uso do FGTS, a taxa mínima é de 7,8% ao ano e máxima de 8,51% anual, dependendo da reciprocidade do cliente. Como o prazo mínimo de financiamento é de 92 meses, a idade limite para financiar na Caixa é de 73 anos.

DIFÍCIL

“Para comprar um imóvel, eu teria que compor renda com a família toda e, ainda assim, teria muita dificuldade para pagar as prestações mensais”, diz uma funcionária pública aposentada, que não quer se identificar, de 67 anos, moradora de Diadema e que, inclusive, ganha mais que o teto do INSS. “O interessante é que quando eu era mais jovem o acesso ao financiamento era difícil, o valor de entrada era mais alto e os juros, também. Agora que o acesso melhorou, a minha idade complica. Ou seja, toda a minha geração está condenada a não conseguir a casa própria”, desabafa.


RADICAIS

Pressionados pela impossibilidade de comprar a casa própria por meio de financiamento bancário, alguns idosos da região resolvem radicalizar.

“Trabalhei a vida toda e hoje, aos 62 anos, só tenho perspectiva de ter um teto meu porque me arrisquei a participar de uma invasão e passei um ano e meio em baixo da lona preta”, disse uma invasora, durante a desocupação da comunidade de Novo Pinheirinho, em 10 de novembro.

Organizada pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), a invasão de um terreno no Jardim do Estádio, em Santo André, só terminou depois de muita negociação entre a Prefeitura, o movimento, a Caixa e o dono do terreno para que no local seja construído um condomínio.

“O valor dos imóveis na região é muito alto e é quase impossível encontrar um que tenha um valor que caiba no Minha Casa, Minha Vida. Diante da dificuldade de conseguir crédito imobiliário por causa da minha renda, da minha idade e do custo dos imóveis, a invasão foi a minha única opção”, explicou. 




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