Política Titulo Ex-comissionado
Fantasma diz que firmou
acordo para não trabalhar

Orlando Peixoto revela que o governo Marinho
aceitou pedido de licença após sua contratação

Raphael Rocha
Do Diário do Grande ABC
11/12/2013 | 07:04
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André Henriques/DGABC


Funcionário fantasma do governo do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), e exonerado na quinta-feira, Orlando Peixoto (PSD) afirmou que tinha acordo verbal com a gestão para não trabalhar na Prefeitura durante dez dias, apesar de estar nomeado para cargo comissionado de consultor de Obras desde o dia 8 de novembro e ter tomado posse na vaga no dia 19 do mesmo mês.

Em entrevista gravada para o Diário, Peixoto disse não saber quem decidiu por contratá-lo para atuar no Paço, numa função apadrinhada com salário mensal de R$ 8.079,17. Argumentou ter sabido da nomeação oficial apenas no dia 12 de novembro, porque no dia 8 estava em viagem na Argentina – ele retornou a São Bernardo no dia 11. E apenas no dia 19 levou documentação para efetivar admissão.

“Dia 20 foi feriado (da Consciência Negra) e no dia 21 pedi dez dias (de folga) para que pudesse fazer transição no meu escritório. Não trabalhei entre os dias 19 e 30. Foi de comum acordo com ele (secretário Alfredo Buso, de Planejamento Urbano, a quem respondia) e foi verbal. Não assinei nada (oficializando pedido de licença). Disse que não poderia trabalhar, como não trabalhei e não recebi”, discorreu o ex-candidato a vereador.

No dia 29 de novembro, também ao Diário, numa entrevista que precedeu a denúncia sobre sua atuação, o político garantiu que passava todos os dias no Paço e, em algumas vezes, ficou além do expediente (veja mais abaixo).

Indagado sobre o fato de o Executivo nunca ter oficializado sua licença, Peixoto discorreu que não “podia fazer nada”. “Se for marcado como falta, eu faltei”, afiançou ele, garantindo não ter “ganhado nenhum centavo nem assinado folha de ponto” durante as semanas em que era servidor público. “Como não fui trabalhar, não tinha como bater cartão.”

Peixoto negou que tenha acordado sua contratação diretamente com o prefeito, dizendo não saber por que foi admitido pela gestão petista. “Se foi decisão do governo do Marinho ou do Marinho, não sei. (Posso ter sido contratado) Devido ao meu currículo, meu legado”, alegou.

O pessedista rejeitou o rótulo de funcionário fantasma, justificando que não trabalhou nem recebeu salário da Prefeitura. Ele afirmou ter “perdido dinheiro” com o caso, “porque teve de pagar condução do próprio bolso” para ir à Prefeitura levar a documentação e, posteriormente, assinar carta de exoneração do Paço. “Mas não espero receber nada (de vencimentos)”, adicionou.

Gestão petista não se pronuncia sobre entrevista, mas pressiona pessedista

O governo do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), não se pronunciou sobre a afirmação de Orlando Peixoto (PSD), dizendo ter firmado acordo verbal com a administração para não comparecer ao trabalho comissionado durante dez dias.
Contatada pela equipe do Diário, a gestão petista não respondeu aos questionamentos feitos ontem à tarde.

Apesar de não se posicionar oficialmente sobre o caso, a administração Marinho pressionou Peixoto a mudar o discurso de entrevista concedida no começo da tarde de ontem. Secretários do prefeito ligaram para o pessedista, obrigando-o a revelar o teor das afirmações feitas ao Diário horas antes.

No início da noite, Peixoto foi convocado a comparecer na sede da Prefeitura, para prestar esclarecimentos, mesmo não sendo funcionário público desde quinta-feira. Ele foi alvo de investigação interna e teve sua demissão retroagida ao dia 2.

Durante entrevista, o servidor fantasma evitou criticar o chefe do Executivo. “Eu agradeço o prefeito Luiz Marinho. Porque teve confiança na minha pessoa. Quando me convidou, confiou em mim”. Mas ao ser questionado se retornaria aos quadros da administração se houvesse novo convite, afirmou que “desta vez iria pensar melhor.”

Político culpa sinal de celular por contradição de justificativas

Orlando Peixoto (PSD) culpou sinal de celular para justificar o discurso contraditório sobre sua atuação no governo Luiz Marinho (PT). No dia 29 de novembro, procurado pelo Diário para se explicar sobre o fato de ele não ir trabalhar na Prefeitura, o pessedista garantiu que aparecia no Paço todos os dias e verificava o serviço diário para ser executado externamente. Ontem, afirmou que tinha acordo verbal com a administração para se ausentar por dez dias da função.

“Não entendi o que você me falou (no dia 29). Entendi que você me falou ‘como você vai fazer com seu escritório?’ Foi isso que entendi. O telefone celular de repente não pega legal. Se eu tivesse entendido de outra forma, diria que não estaria trabalhando”, comentou.

No dia 29, além de afirmar que atuava diariamente no Executivo, disse que passava em seu escritório somente “no horário de almoço” e adicionou que “várias vezes ficou até a noite” no governo. “Só quando termino é que vou descansar”, afiançou o político que, pela publicação, teria de cumprir expediente de 40 horas semanais na administração – ou oito horas diárias.

Por uma semana o Diário acompanhou a rotina de Peixoto e flagrou diversas vezes o pessedista em seu escritório durante horário em que ele deveria fiscalizar obras públicas. Em um dos dias, Orlando Peixoto encerrou o dia no escritório.
 




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