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Apenas 1% dos moradores
de favelas tem faculdade

Em contrapartida, 12,64% da população de áreas
urbanizadas do Grande ABC cursaram graduação

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
07/11/2013 | 07:00
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Arquivo/DGABC


Apenas 1,06% da população que vive em favelas na região tinha completado o Ensino Superior em 2010. Em contrapartida, 12,64% dos moradores das áreas urbanizadas alcançaram o mesmo patamar educacional. Os dados integram a pesquisa Áreas de Divulgação da Amostra para Aglomerados Subnormais, divulgada ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e levam em conta apenas as cidades de Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá.

São Bernardo era o município com maior quantidade de moradores de núcleos não urbanizados com Ensino Superior completo em 2010 – 1.983 indivíduos, o equivalente a apenas 0,30% da população total. O segundo lugar no ranking ficou com Santo André (941 formados), seguida por Diadema (870) e Mauá (619). Cerca de 413,1 mil pessoas viviam em favelas nestas quatro cidades naquele ano, o correspondente a 18,40% do total de habitantes.

Os números do Grande ABC são inferiores aos nacionais. Em todo o País, 1,6% dos moradores de favelas tinha curso superior naquele ano, enquanto nas áreas urbanizadas o índice é de 14,7%. A região Sudeste é a que tem menor percentual de moradores de favelas que concluíram uma faculdade – 1,2%. Já o percentual de pessoas que residem em áreas urbanizadas com curso superior é de 15,3%.

De acordo com o IBGE, os dados evidenciam as desigualdades entre a população que residia em aglomerados subnormais – classificação dada pelo órgão a assentamentos irregulares conhecidos como favelas, invasões, comunidades, entre outros – e a que morava nas demais regiões dos municípios em 2010. A pesquisa feita por amostra só leva em conta 89 municípios onde foi possível aplicar questionário do instituto a pelo menos 400 domicílios.

EXCEÇÃO

A estudante universitária Letícia Gomes de Oliveira, 19 anos, considera-se exceção à regra evidenciada pelo IBGE. Moradora do núcleo habitacional Sacadura Cabral, em Santo André, a jovem é uma das poucas pessoas que residem na favela e iniciaram uma faculdade. Aluna do segundo semestre do curso de Jornalismo na Universidade Metodista de São Paulo, ela atribui o feito à estrutura familiar e apoio dos pais.

“Geralmente o pessoal que se forma no Ensino Médio tem que procurar emprego para ajudar a família e não tem condições de pagar uma faculdade”, opina Letícia. Segundo ela, muitos de seus colegas de infância são chefes de família ou estão perdidos no mundo do crime e das drogas.

Apesar de nunca terem sentado nos bancos universitários, os pais de Letícia, um metalúrgico e uma manicure, ajudam a pagar a faculdade. “Tenho bolsa de 50% porque faço estágio em um projeto da universidade, mas o que ganho não é suficiente para a mensalidade”, diz a jovem, que começou a estagiar em uma editora para conseguir suprir os gastos com os estudos.

 
 

Sobe número de autodeclarados pretos e pardos

Dados do Censo 2010 publicados ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apontam que o número de pessoas do Grande ABC que se declaram pretas ou pardas teve crescimento maior que o total da população desde 2000. Durante o questionamento, o recenseador é orientado a respeitar a resposta dada, sem influenciar na escolha.

O levantamento de 2010 registra que 135.298 pessoas afirmaram ser pretas ao entrevistador, ante 88.052 em 2000 – 53,6% a mais. Entre os pardos, o aumento foi de 34%, passando de 567.834 para 760.766. O total de habitantes das sete cidades cresceu apenas 7,7% no período.

A média de moradores da região que se classificam como negros, de 5,3%, é inferior à nacional, de 7,6%. Rio Grande da Serra e Diadema, que têm, proporcionalmente, a maior quantidade de pretos, com 8,2% e 7,8%, respectivamente, são os únicos municípios com índices superiores aos do Brasil no item. São Caetano apresenta a menor porcentagem de autodeclarados negros, com 2,2%, e pardos: 10,6%.

Por outro lado, a quantidade de participantes que se declararam brancos teve queda de 2%, passando de 1.650.570 para 1.618.808. Mesmo assim, a população que se diz branca ainda é maioria no Grande ABC, com 63,4% do total. O índice é superior à média nacional, de 47,7%.

Entre os que se declararam indígenas, o Grande ABC apresentou significativa queda de 37,8%. Somente 2.358 entrevistados se enquadraram nessa categoria. Proporcionalmente, Ribeirão Pires é a cidade com maior número de índios ou descendentes. A porcentagem em relação ao universo global, no entanto, é baixa: 0,12%.

No grupo dos amarelos, composto por participantes de origem oriental, houve aumento de 17% na comparação com o Censo 2000: de 29.108 para 34.056. Hoje, essa fatia é correspondente a 1,3% da soma dos habitantes das sete cidades. Durante a elaboração do levantamento, 42 pessoas não declararam cor ou raça. (Fábio Munhoz) 




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