Cada vez mais, as famosas its ganham seguidores e ditam moda e comportamento.
A expressão it girls nunca esteve tão em moda. Seja nas telinhas, telonas, palcos ou em plataformas digitais, as its ditam tendências e conquistam admiradoras pela forma de se vestir, maquiar e jeito de ser. Mas apesar dessas mulheres estarem bombando no século 21, muitas fizeram história bem antes!
O termo foi usado pela primeira vez há oito décadas com Clara Bow, no filme It, de 1927 (foto abaixo). Tanto a personagem como a atriz chamaram a atenção da escritora Elinor Glyn. Ela definia it como ‘algo que poucas mulheres têm, que as tornam diferentes, carismáticas e de que elas não são conscientes’. Foi então que as musas do cinema viraram essas garotas especiais. Nas décadas de 1950 e 1960, destacaram-se Audrey Hepburn, Grace Kelly e Marilyn Monroe.
No Brasil, a primeira it foi Carmen Miranda (foto acima), descoberta pelo violonista e compositor Josué de Barros. Ele percebeu ‘uma luz intensa em seus olhos’, além do talento musical. Carmen também se destacava pela ousadia dos looks. A empresária e consultora de moda Contanza Pascolato também se encaixa no grupo e ainda é respeitada por isso. Já na década de 1990 e início dos anos 2000 foi a vez das its saírem das passarelas. As modelos ganharam visibilidade, conquistaram espaço nas capas de revistas e no coração de seus seguidores.
Hoje tudo está mais democrático e todo mundo pode se candidatar ao cargo de it girl. A escritora e jornalista Plum Sykes é considerada responsável por esse boom. No início dos anos 2000, começou a entrevistar meninas anônimas para suas matérias na revista Vogue norte-americana.
“As its do momentos são mulheres comuns da sociedade, que aparecem por meio de alguma mídia”, explica a professora de moda da Escola Sigbol Fashion Lana Mayra. Segundo ela, o fenômeno ganhou força porque rola identificação com o estilo de vida delas. “As pessoas querem saber as tendências que podem ser usadas no cotidiano. As blogueiras conseguem fazer isso com os looks do dia. Tudo o que vestem vira objeto de desejo”, afirma.
No entanto, para a socióloga e professora do Departamento de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Estadual da Paraíba Waltimar Batista Rodrigues Lula, o conceito mudou. “Está desgastado. Não basta comprar o último lançamento da moda ou copiar alguém para ser it girl. É preciso ter a essência.” Mais do que gostar de moda e ter guarda-roupa com as últimas tendências, para ser é preciso ter algo único, exclusivo e que não está à venda: carisma, personalidade e atitude. O conselho vale para os garotos, já que o termo It Boy também está em pauta.
APRENDIZ
Giovanna Luna, 17 anos, começou a se interessar por moda há dois anos. Ela acompanha as blogueiras Bruna Vieira, Mariana Sampaio e Lia Camargo. “Gosto dos looks jovens e das informações que compartilham. Curto as inspirações, mas sei o que fica bom no meu corpo”, afirma. Na TV, a garota curte a Amora, personagem da atriz Sophie Charlotte na novela Sangue Bom, da Globo. “Ela tem lançado moda ao usar vários anéis nas mãos, por exemplo”, observa Giovanna, que já aderiu aos acessórios. Ela criou o blog http://hiluna.blogspot.com.br, que reúne tendências. “Gosto de postar a minha visão sobre o que observo nas ruas e revistas. Quero ajudar as minhas leitoras”, conta.
Blogueiras têm muitas seguidoras - Blogueiras não são atrizes nem cantoras, mas muitos as consideram celebridades. Atuam como personal stylists virtuais, traduzindo o que acompanham em desfiles. Mesclam roupas de grife, peças vintages e de lojas de departamento, tornando a moda acessível. Thássia Naves, Camila Coutinho (Garotas Estúpidas), Camila Coelho (Supervaidosa) e Natalia Cardoso são referências no País.
O blog Supervaidosa surgiu em 2011 para compartilhar beleza, moda e fitness. “A ideia partiu das seguidoras do meu canal de tutoriais de maquiagem no YouTube”, conta Camila Coelho, 25 anos. Ela passou a se interessar mais por moda após a criação do blog. “Hoje sou apaixonada e fico de olho nas tendências”, afirma a blogueira, que define seu estilo como romântico com pegada rock. Mesmo com looks e tutorais desejados, Camila não se considera it girl. “Tenho muito a aprender, mas tomo cuidado na hora de me vestir e maquiar. É gratificante saber que tem quem se espelha em mim.”
Também foram os seguidores de Natalia Cardoso, 20, que há quatro meses pediram para que ela criasse um blog. Assim surgiu o Nahcardoso. “Sempre curti postar fotos e participei de webséries e programas na web que ajudaram a criar relação com os seguidores. As pessoas gostavam de saber como me vestia.” Natalia se considera it girl. “Isso por causa da quantidade de pessoas que atinjo. Meu público (entre 12 e 20 anos) é fiel.” Ela admite que não segue todas as tendências e curte se vestir conforme o humor e a ocasião. “Não sou de achar que dá para montar looks só com roupa cara. É possível se vestir bem com marcas acessíveis. O importante é ter personalidade.”
Amora é referência fashion - A personagem de Sophie Charlotte, 24 anos, está dando o que falar em Sangue Bom. Apesar de ser vilã, Amora se veste bem e inspira várias garotas. Em entrevista ao D+, Sophie Charlotte disse que começou a curtir o mundo fashion por causa do papel. “Pesquisei sobre o poder das it girls e de seus blogs, além de assistir a documentários para descobrir o que fazia uma menina se destacar e influenciar tantas pessoas.”
Os looks de Amora são os mais procurados pelos telespectadores. “Ela aposta em tons neutros e tem uma sensualidade que não é óbvia”, analisa. Sophie não se acha referência fashion. “As pessoas sabem diferenciar o que é trama e o que é vida real. Claro que tento me vestir de maneira bacana para não quebrar essa fantasia, mas não sou it girl”, ressalta a atriz, que se considera básica e clássica. Para ela, cada it girl deve pensar o motivo de querer ser uma, mas sem exageros. “É por causa da fama, poder ou por que realmente gosta de moda?”
Empresas querem as its - É fato: tudo o que as its informam, compartilham ou vestem são de extrema importância para suas seguidoras. “As blogueiras vendem um lifestyle (estilo de vida), dão dicas e indicam serviços. Tudo isso faz com que as pessoas se identifiquem e queiram ser como elas”, explica a professora de moda da Escola Sigbol Fashion Lana Mayra.
Sabendo dessa força, muitas empresas têm investido no segmento. Isso porque fazem a conexão direta entre a marca e seus consumidores de maneira simples. É um marketing discreto. Quando um consumidor recebe um folheto ou vê uma publicidade na revista identifica o objetivo da marca. Porém, quando a blogueira veste uma roupa ou usa determinado produto não fica nítido para todos se é ou não publicidade. Também é forma rápida de despertar o desejo de consumir o mesmo produto”, explica Lana. Além disso, os blogs têm espaço para banners de publicidade.
Waltimar Batista Rodrigues Lula, do Departamento de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Estadual da Paraíba, afirma que a prática é cada vez mais comum. “Os blogs tinham mais autonomia e personalidade. Hoje as marcas influenciam muito mais”, analisa a socióloga.
Dicas: o que é preciso ter
> Carisma acima da média
> Estilo, atitude e personalidade própria
> Saber valorizar os pontos fortes do corpo e disfarçar os negativos
> Gostar e entender de moda
> Saber cuidar da própria imagem
> Se for criar um blog, que tenha conteúdo próprio, diversificado e com posts frequentes
>Não precisa vestir só marcas. A mistura hi-lo (peças caras e baratas no mesmo look) é bem-vinda.
Na literatura - Quem gosta de moda não pode deixar de ler It Girls – Todos os segredos de uma verdadeira it girl (editora ArteEnsaio, 235 págs., R$ 42), boa opção para entender mais sobre esse universo. Com linguagem simples e design fashion, o livro é de Alessandra Garattoni, do blog www.itgirls.com.br, que selecionou posts e os reorganizou em seis capítulos. Além de desvendar mitos e verdades sobre as its, as páginas abordam temas como moda, beleza, etiqueta, mercado de trabalho e viagem.
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