Mexer com o universo de uma obra-prima não é nada fácil. Lançada originalmente entre 1986 e 1987, a saga Watchmen é tida como um ponto de virada na história dos quadrinhos, trazendo um ar mais adulto e maduro para a mídia. Quase 30 anos depois, a vida de seus protagonistas é revista na série Antes de Watchmen, que tenta chamar a atenção dos fãs ao vasculhar o cotidiano de figuras como Comediante, Ozymandias e Dr. Manhattan antes dos acontecimentos que os apresentaram ao mundo.

O primeiro volume a chegar no Brasil é Antes de Watchmen – Coruja (Editora Panini, 108 páginas, R$ 12,90), com duas capas variantes no mercado. Com roteiro de J. Michael Stracznski e ilustrações de Andy Kubert – a arte-final é de Joe Kubert (1926-2012), em seu último trabalho –, a HQ viaja até a década de 1960 para revelar a adolescência de Dan Dreiberg. A história passa pela adoração do garoto pelo Coruja original, seu contato com o ídolo combatente do crime e os primeiros momentos em seu papel como super-herói.

Entre os novos detalhes apresentados, os leitores que já tiveram contato com a obra primordial talvez se interessem mais pela parceria um tanto quanto instável com Rorschach, sua apresentação a Espectral e a inesperada paixão por uma vilã.

Quando o projeto Antes de Watchmen foi divulgado pela DC Comics, a polêmica ficou por conta da ausência do escritor Alan Moore (conhecido por repudiar sua mais famosa cria). A apreensão era de que o clima criado pelo autor se perdesse na mão de outros profissionais e na ânsia da editora em querer lucrar com o respeitado título. Mas o material visto em Coruja tem qualidade para dialogar com o universo caótico bolado por Moore – mesmo que com certa distância entre as conversas. Talvez seu principal trunfo seja não se prender ao que já vimos em Watchmen e desenvolver os primeiros passos dos problemas futuros do personagem em questão.

A HQ é complementada pela primeira parte do conto pirata extra A Condenação do Corsário Carmesim – O Demônio à Deriva, de Len Wein e John Higgins.