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Madame Satã funde Geni e Max
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
28/11/2002 | 18:42
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Miúdo ali em seu canto, Geni é um personagem rico embora coadjuvante em Ópera do Malandro, a peça de Chico Buarque. Estava sempre, em sua contida homossexualidade, entre o amor-negócio do cafetão Max e de Margot, sua mulher e prostituta. É muito mais do que a microscópica atenção dada por Ruy Guerra em sua versão cinematográfica do texto. Pois bem, pareceria fenomenal unir a navalha e os traquejos da rua do malandro Max e a sensibilidade ultrajada de Geni. Karim Aïnouz nem precisou recorrer à ficção. O personagem existia, lá sob os arcos da Lapa carioca, e atendia pelo nome João Francisco dos Santos, Madame Satã para meganhas. Madame Satã, em cartaz em São Paulo, tem à frente esse híbrido de Geni e Max.   

O ator Lázaro Ramos reconstrói Madame (1900-1976), negro e malandro, pobre e pai adotivo, transformista e presidiário. Em casa acolhe uma prostituta, um cúmplice para os golpes de subsistência e uma filha que de seus genes nada tem. Filme forte em ano que já teve Cidade de Deus, O Invasor e Abril Despedaçado (do qual Aïnouz é co-roteirista). É o Brasil olhando de novo – sem as mesmas regras, com as mesmas metas do Cinema Novo – para seus miseráveis, náufragos nesse maremoto social.




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