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Auricchio fará reforma administrativa
Juliana de Sordi Gattone
Do Diário do Grande ABC
18/03/2005 | 12:30
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Uma reforma administrativa será promovida no próximo mês em São Caetano. A intenção do prefeito José Auricchio Júnior (PTB) é dividir a Secretaria da Fazenda em duas pastas, a de Finanças e a de Orçamento. O projeto está em fase inicial de elaboração e deverá ser enviado à Câmara nas próximas semanas. Os titulares das pastas ainda não foram definidos, mas o prefeito já nomeou Luiz Morceli como assessor técnico de orçamento e finanças.

Parte da reforma começou a ser feita na última segunda-feira, quando José Auricchio exonerou a secretária da Fazenda Maria Carmem Gonzales Reys Campos e o assessor especial de gabinete, Antônio de Pádua Tortorello. Ambos foram os estopins da ruptura entre José Auricchio e o grupo aliado do prefeito Luiz Tortorello, que morreu em dezembro.

O secretário de Assuntos Jurídicos, João da Costa Faria, assumiu interinamente a pasta da Fazenda. O prefeito afirma que, em breve, escolherá o titular para o cargo. Já o lugar de Antonio de Pádua será ocupado por Claudio Demambro (PSDB), que assumiu o DAE (Departamento de Águas e Esgoto) e também dividirá com o irmão do prefeito, Marcelo Auricchio, as vezes de articulador político. O então presidente do DAE, Wenceslau Teixeira, passará a dirigir a nova pasta de Meio Ambiente, criada no fim do ano passado.

Outro ilustre tucano fará parte da administração Auricchio: o ex-prefeito Antonio Dall’Anese (1992-1996). Ele será nomeado assessor especial do gabinete.

José Auricchio garante que mais nenhum secretário será exonerado, mas não descarta mudanças no segundo escalão, já que os novos titulares das pastas têm autonomia para indicar profissionais de confiança, os chamados comissionados.

Na segunda-feira à tarde, a cisão do grupo político que comanda a prefeitura foi concretizada depois de acalorada discussão entre José Auricchio, Antonio de Pádua e Carmem. Tanto o irmão de Tortorello, Antonio de Pádua, como Carmem, mantinham-se nos cargos que ocupavam desde a última gestão. Quanto à ruptura, o prefeito diz que é muito sectário dividir uma cidade em grupos políticos. "O que vem primeiro é o bem-estar da população." Mas afirma que as exonerações são definitivas e desmente boatos de que Carmem e Pádua voltariam após suposta licença-prêmio. Segundo o prefeito, os dois não estariam mais correspondendo às expectativas da atual administração.

Na noite de quarta-feira, José Auricchio reuniu-se com os vereadores da base de sustentação – nove dos 11 que compõem a Câmara – para falar sobre as exonerações de Antonio de Pádua e Carmem. Conseguiu o que esperava: unir forças. Mesmo esperando encontrar resistências, Auricchio manteve a base aliada e o líder de governo, Gilberto Costa (PSB). O encontro acabou literalmente em pizza, com refeição conjunta entre o chefe do Executivo e os parlamentares.

Manter a governabilidade significa ter a Câmara de Vereadores em sintonia, o que não vinha acontecendo durante os três primeiros meses de administração. Isso porque o irmão de Luiz Tortorello era o porta-voz do Executivo no Legislativo e também teria sido o principal articulador de ação para evitar que os projetos de Auricchio fossem aprovados pelos parlamentares. O motivo seria a discordância de atitudes do prefeito, como a extinção de 84 cargos, a não-nomeação de quase 300 comissionados e a substituição da chamada velha guarda que ocupava o primeiro escalão por técnicos e funcionários de carreira.

Medo – A esperada filiação do prefeito José Auricchio Júnior ao PSDB tem assombrado a alta cúpula do PTB. Isso porque a mudança foi impulsionada após a ruptura definitiva com o ponta-de-lança do então prefeito Luiz Tortorello. A divulgação de que a troca de legendas acontecerá em no máximo duas semanas, fez o deputado federal Luiz Antonio Fleury Filho, presidente estadual do PTB, telefonar para um dos vereadores do partido em São Caetano questionando a possibilidade. O vereador garantiu a Fleury que a ida de José Auricchio para o PSDB era remota, tentando acalmar o presidente. Mesmo assim foi alertado da necessidade de montar força-tarefa para tentar mantê-lo nos quadros petebistas.

Mas a debandada parece ser inevitável. José Auricchio começou a abrir as portas da administração para os tucanos e cercou-se com dois importantes quadros do PSDB na cidade: Claudio Demambro e o ex-prefeito Antonio Dall’Anese.

A filiação de José Auricchio ao PSDB pode transformar São Caetano no mais forte reduto tucano da Região Metropolitana de São Paulo. Condição mais que favorável ao partido do governador Geraldo Alckmin para as eleições do ano que vem, que, além da capital paulistana, terá na vitrine tucana o município com o maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do país: 0,919 sendo a média do Brasil de 0,766.

Namoro – Na quarta-feira, José Auricchio recebeu telefonemas de três deputados tucanos – dois federais e um estadual –, que reforçaram o convite de filiação ao PSDB feito pessoalmente há um mês pelo vereador da capital José Anibal. Em visita a São Caetano em fevereiro, José Anibal ressaltou a identificação do PSDB com o estilo do prefeito. "Para nós é satisfatório poder tê-lo como interlocutor no campo administrativo e político", argumentou o tucano.

José Auricchio mostrou-se bastante animado, uma vez que no PSDB terá condições de alçar vôos mais altos. Além de ganhar um prefeito em início de mandato, a legenda certamente irá engrossar o número de vereadores, que deverão seguir a decisão política de José Auricchio e ingressar na sigla.

A ida de José Auricchio para o PSDB não é apenas resposta à cisão com o grupo político herdeiro de Luiz Tortorello que tentou inviabilizar a governalibidade nos primeiros meses da administração. Anterior às desavenças domésticas, o interesse dos tucanos em atrair o chefe do Executivo de São Caetano apresenta claramente os planos político-eleitorais para 2006 encabeçados pela candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência da República. O prefeito administra a cidade considerada melhor do Brasil e referência em qualidade de vida estadual e nacional, verdadeiro trunfo que o PSDB poderá explorar no próximo ano, quando estarão em jogo os palácios dos Bandeirantes e do Planalto.

A reaproximação do tucanato com São Caetano, após distanciamento causado pela não-indicação de Luiz Tortorello ao governo pelo PTB que apoiou Geraldo Alckmin, mostra outra face: a necessidade de reverter a baixa representatividade do PSDB na cidade nos últimos anos. Além de não ter eleito nenhum vereador, o partido sequer teve candidatura própria para o Executivo em 2004.

Assim que José Auricchio assinar a ficha de filiação, o PSDB ganha a segunda Prefeitura na região – a primeira é Rio Grande da Serra – e tem ainda a seu lado o prefeito de Ribeirão Pires, Clóvis Volpi, hoje no PV, mas que já integrou o ninho tucano. Alinhados ao governador Geraldo Alckmin também estão o prefeito interino de Mauá, Diniz Lopes (PL), e William Dib (PSB), de São Bernardo. O novo mapa de alianças, no mínimo, desestabiliza o PT, principal adversário dos tucanos na corrida sucessória do próximo ano.




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