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HBO exibe documentário sobre racismo
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
20/11/2002 | 19:52
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Negro, magro, de camiseta escura, calção, chapéu de pescador e uma pistola Derringer. Pelo PX (rádio) da polícia, essa descrição ziguezagueava na manhã de 7 de maio de 2000. Eram dados do suspeito de fuzilar a turista Mary Ann Stephens em Jacksonville, na Flórida. A polícia não tardou, mas falhou ao prender Brenton Butler, 15 anos, perto do local. E daí que o detido não usava qualquer chapéu, não portava arma alguma, era pelo menos 10 cm mais baixo e dez anos mais novo do que o procurado? “Era um negro. Para os policiais do caso, isso queria dizer que era o primeiro negro que eles vissem”, aponta Patrick McGuinness, advogado e figura central de Assassinato numa Manhã de Domingo, ganhador do Oscar de documentário neste ano e exibido nesta quinta, às 23h, na HBO (Canbras/TVA).   

A data da estréia tem sua razão. Há exatos dois anos, foi dado o veredicto do caso Butler, desfecho para um drama que custou seis meses de xadrez ao adolescente. As algemas foram brindes concedidos pelo depoimento de James Stephens, marido da vítima e única testemunha ocular, e pela confissão assinada pelo réu. Duas provas, dois efeitos da coação policial, da tortura mesmo.   

Na desconstrução das provas forjadas por um trio de detetives (um deles negro), Assassinato... leva McGuinness, o advogado de defesa, ao Olimpo da Justiça. Seu ego é igual ou maior do que a negligência dos policiais que prenderam Butler – não recolheram digitais nem consultaram os pais ou vizinhos do acusado, por exemplo. McGuinness, espirituoso, arrogante e consciente da câmera onipresente do diretor Jean-Xavier de Lestrade, não saiu das páginas de John Grisham. É real, é o lastro que viabiliza uma ficção vicejada nos Estados Unidos, que trata de Kunta Kinte, que faz fama com Hurricane – O Furacão, de Norman Jewison, e Um Crime Verdadeiro, de Clint Eastwood. A ficção da metodologia racista.




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