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Polêmico Memorial do Holocasto é inaugurado em Berlim
Da AFP
10/05/2005 | 15:55
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Sessenta anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, um polêmico memorial dedicado aos seis milhões de judeus mortos pelos nazistas foi inaugurado nesta terça-feira em Berlim. O "Memorial aos Judeus Assassinados da Europa" foi apresentado em uma cerimônia solene, da qual participaram sobreviventes do Holocausto e líderes alemães e judeus.

O monumento é um vasto campo com 2,7 mil blocos de concreto cinza, próximo do Portão de Brandenburgo e do Reichstag, prédio do Parlamento. Criado pelo americano de origem judaica Peter Eisenman, está situado a poucos metros da antiga chancelaria de Hitler e do bunker no qual o líder nazista cometeu suicídio, no dia 30 de abril de 1945.

Com 95cm de largura e 2,38m de comprimento, os blocos têm alturas variadas de até 4,7m e ficam separados por 95cm, formando um grande labirinto. Sob os blocos, há uma galeria com fotos, nomes e destino das vítimas do holocausto, mas qualquer visitante precisaria de seis anos e sete meses para ler tudo o que está lá.

As histórias de algumas das vítimas do Holocausto são contadas em um centro para visitantes, localizado no subterrâneo do memorial.

Críticas – O monumento foi cercado de críticas antes mesmo da inauguração. Paul Spiegel, presidente do Conselho Central de Judeus da Alemanha, disse que o memorial falhou em analisar como os nazistas tomaram a decisão de tentar dizimar uma raça inteira. "Teria sido preferível mostrar as suas motivações", disse Spiegel, em um discurso durante a cerimônia. No entanto, ele disse que o memorial é "um sinal importante e necessário" na luta para evitar que o Holocausto caia no esquecimento.

Lea Rosh, uma jornalista alemã que desempenhou um papel-chave na campanha de construção do memorial, disse acreditar que o monumento atingirá seu objetivo. "Queríamos devolver os nomes das vítimas. Este é um memorial para as vítimas e não foi concebido para mostrar o que estava por trás do pensamento dos malfeitores", afirmou.

O amplo memorial, que se espalha por uma área equivalente a três campos de futebol, resultou de um longo processo emocional, que durou 17 anos. O ex-chanceler alemão Helmut Kohl rejeitou o plano original de placas gigantes de concreto com os nomes dos seis milhões de judeus mortos nas mãos dos nazistas.

Além disso, o projeto atrasou quando surgiu a notícia de que a companhia que forneceu a cobertura anti-grafite para os blocos de concreto havia fornecido gás para os campos da morte nazistas. O Parlamento alemão acabou aprovando os planos em 1999 e os trabalhos de construção começaram dois anos depois.

Wolfgang Thierse, porta-voz do Parlamento alemão que supervisionou o projeto, negou que ele represente "uma abordagem conclusiva do passado nazista". "O que pode ser contado hoje de forma tão vigorosa por testemunhas que estiveram lá pode ser contado no futuro por museus e pela arte", disse Thierse na cerimônia.

Em seu discurso, o arquiteto Peter Eisenman afirmou que seu projeto "desafiou o conceito geral do que deveria ser um monumento". Os críticos do projeto afirmam que o campo de pedras é abstrato demais e até mesmo grupos judaicos questionaram porque o monumento não presta tributo às vítimas não-judias dos nazistas.

Na véspera da inauguração, o arquiteto disse que estivera determinado a manter as pedras em branco. "Eu lutei para manter as pedras sem nome, porque inscrever nomes delas tornaria (o monumento) em um cemitério e eu não queria isso", explicou Eisenman. "Quero que este seja um lugar de esperança".

Eisenman também rejeitou críticas de que o memorial tenha perdido seu significado porque a Alemanha demorou 60 anos para erguer uma lembrança permanente do período mais negro de sua história. "Dentro de cem anos, as pessoas não dirão ‘chegou tarde demais’. Para mim, ainda é cedo", disse ele na segunda-feira.




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