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Fundação Sto.André traz palestras sobre erotismo
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
27/08/2003 | 18:52
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O que é o erótico, na visão do psicanalista Renato Mezan. Doutor em Filosofia pela USP e professor da Pós-Graduação em Psicologia Clínica da PUC-SP, Mezan faz na sexta-feira a segunda palestra do Ciclo Erótico do projeto Filosofia & Cotidiano, parceria da Fundação Santo André com a Casa da Palavra. A Fundação Santo André abriga a palestra com entrada franca.

Mezan dará ao tema um enfoque psicanalítico. “O tema do erótico é muito vasto. Não se esperaram os psicanalistas para que as pessoas se interessassem por ele. Ou não haveria humanidade, ela teria se extinguido na pré-história. Então, a leitura que se pode fazer desse tema é múltipla”, afirma.

Assessor da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), da Capes (Fundação de Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e coordenador editorial da revista Percurso, especializada em psicanálise, Mezan não dispensa uma abordagem artística sobre o erótico. “Na arte ocidental, do Renascimento para a frente, para que se pudesse representar o corpo humano sem vestes, freqüentemente se utilizaram subterfúgios”, diz.

Exemplos são “cenas mitológicas, nas quais as ninfas aparecem com seios de fora”. Ou “cenas da vida dita primitiva, por exemplo no Novo Mundo, nas quais aparece o nu”. Ou, ainda, “na representação de cenas religiosas, quando aparecem, sobretudo, mártires”.

Estas formam um caso à parte. “O olho do psicanalista não pode deixar de perceber que juntamente com a mensagem espiritual havia também uma quantidade de erotismo nessas representações”, afirma. Mezan cita imagens de São Sebastião flechado: “Nas representações mais conhecidas dessa história há um jovem de uns 18 anos, bonito, atraente, com traços finos, praticamente nu, com um pano amarrado em volta dos quadris, amarrado, se contorcendo, sangrando”.

E isso não é obra do acaso. O erotismo cumpre a função de “provocar e canalizar a excitação sexual por formas indiretas”. Para retratar cenas assim, “o artista teria de observar não só a mão, o joelho, a orelha, mas também o sexo, os seios, a bunda”. “Então poderia ser uma forma desse artista sublimar uma parte das suas fantasias sexuais”, diz.

Existem, ainda, “temas muito mais explicitamente sexuais, como bacanais romanas e leões devorando cristãos”, que revelam mais do que supõe o senso comum. “Essas cenas são situadas num passado distante, no tempo dos romanos, e têm o efeito de mostrar como eles eram pecadores, e portanto como nós não somos ou como o espectador não deve ser. E visando educar, converter, propagar a fé, suscitar ódio dos que perseguiam os cristãos”, afirma.

Para Mezan, o erótico, em um segundo sentido, está no jogo explícito-implícito. Estrelado por Rita Hayworth, o filme Gilda, de Charles Vidor, é um exemplo: “Quando ela tira a longa luva preta, dedo por dedo, é um deslumbre. E ela não faz nenhum rebolado de vedete. Mas aquele gesto, obviamente, é uma metáfora para o tirar a roupa. O erótico está na combinação entre o mostrar e o ocultar, em fazer devagar e de maneira provocante, com olhares e gestos não vulgares”.

E que não se confunda o erótico com o sexual. “Quando se fala de algo erótico está se falando de algo sexual, mas também de algo um pouco a mais e um pouco diferente do que o explicitamente sexual. Para que se possa falar do erotismo é preciso que haja um certo deslocamento do imediatamente sexual”, diz.

Evidentemente, há uma dimensão erótica na relação sexual consentida, que não é especificamente o coito. “São os jogos preliminares, o desejo de mobilizar no parceiro sensações prazerosas, a referência a fantasias sexuais que cada um possa ter, as situações que já viveram ou gostariam de viver. O erótico é algo que envolve diretamente o sexual, até mesmo na relação sexual”, afirma.

Segunda palestra do Ciclo Erótico – Projeto Filosofia & Cotidiano. Com Renato Mezan. Sexta-feira, às 19h30. Na Fundação Santo André – av. Atlântica, 420, Santo André. Tel.: 4979-4329. Entrada franca.




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