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População faz 'ginástica' para comprar remédios
Antonio Rogério Cazzali
Do Diário do Grande ABC
15/11/2002 | 20:42
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No início desta semana, a Câmara de Medicamentos, órgão ligado ao governo federal, anunciou o reajuste dos remédios, em caráter extraordinário, por conta da alta do dólar. A determinação atinge todos os medicamentos, inclusive genéricos e similares. Os produtos já começaram a subir nas farmácias, com reajuste médio de 9%. O aumento é maior do que a inflação, que neste ano, segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), está em 5,6%. Se o aumento pesa no bolso da população economicamente ativa, para aposentados e pensionistas o reajuste reforça o descaso do governo com esta significativa parcela da população.

Segundo o presidente da Associação dos Trabalhadores Aposentados e Pensionistas do Grande ABC, Benedito Marcílio, que também é presidente do Conselho de Entidades de Aposentados, Pensionistas e Idosos do Estado de São Paulo, o Brasil conta atualmente com 21 milhões de aposentados e, deste total, 14 milhões recebem somente um salário mínimo, ou seja, R$ 200 por mês. "Para o brasileiro, a aposentadoria, em vez de ser uma bênção, é um castigo. O governo gasta como bem entende um dinheiro que é nosso, de anos trabalhados, e depois não tem como elevar os nossos salários."

De acordo com Marcílio, a previdência é a maior receita da União e, no entanto, os aposentados recebem quase nada. "Os idosos são os que mais precisam de medicamentos, mas com um salário irrisório e os remédios cada vez mais caros, não sei onde vamos parar. Aliás, o Fernando Henrique foi um padrasto malvado para o aposentado. Se ele até retirou recentemente o Estatuto do Idoso da pauta de votação do Congresso Nacional, dá para se ter uma idéia do 'grau de preocupação' dele com os aposentados e seus medicamentos de uso contínuo."

A aposentada Darcy Peixoto, de Santo André, retrata bem a disparidade entre o valor recebido mensalmente de aposentadoria e seus gastos com medicamentos. "Ganho R$ 200 por mês, mas gasto com remédios exatos R$ 142,30. São sete comprimidos por dia e uma consulta periódica com um especialista em cardiologia do Incor (Instituto do Coração), de São Paulo, cuja consulta custa R$ 196." Segundo ela, o governo deveria olhar com mais atenção a questão dos idosos, proporcionando medicamentos gratuitos e pensões mais dignas.

Judith Colombo, também aposentada, de Santo André, tem as mesmas dificuldades para adaptar seus R$ 200 mensais com a compra dos medicamentos, que fica em torno de R$ 60 por mês. "O governo acha que a única coisa que resta ao idoso é comprar seus remédios e pronto. Para ele, o idoso não come, não veste, não tem sonhos, não paga aluguel, energia elétrica, nem água." Judith só não gasta mais porque compra genéricos e percorre farmácias em busca de promoções.




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