Economia Titulo Direito trabalhista
Projeto atualiza
relações trabalhistas

Para especialista, proposta de lei de acordo especial para
amamentação deixa País mais próximo do resto do mundo

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
01/07/2012 | 07:23
Compartilhar notícia


A Volkswagen e as trabalhadoras da fábrica Anchieta da montadora viviam, há anos, um impasse: como atender a legislação trabalhista que estabelece intervalo de uma hora de amamentação, para as que voltam da licença-maternidade, já que elas perderiam muito mais tempo para sair do complexo industrial da empresa em São Bernardo, ir até suas casas, e depois retornar. A solução, negociada em 2010 com a direção da companhia pelo comitê sindical (representação eleita pelos funcionários) e aprovada em assembleia, atendeu o interesse de ambos: as mães metalúrgicas puderam ficar oito dias a mais em licença-maternidade, pelo acúmulo de horas da amamentação, em troca de não fazer esse horário no meio da jornada.

A negociação não tem o respaldo da CLT, mas pode ganhar base legal, se for aprovado projeto de lei idealizado pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC que estabelece a criação do ACE (Acordo Coletivo Especial). Essa proposta, atualmente em análise na Casa Civil para ser apresentada nos próximos dias ao Congresso como projeto do governo Dilma, destina-se a atender condições específicas de trabalho, com a possibilidade de adequação da legislação trabalhista, desde que não se desrespeite o artigo 7 da Constituição (que contém desde férias, FGTS, 13º salário, seguro-desemprego, repouso semanal remunerado etc).

Para especialistas, a proposta amplia as possibilidades de negociação entre capital e trabalho, ao inserir nova ferramenta na arcaica legislação. Mas para que patrões e empregados fechem um ACE, são necessários requisitos mínimos: por exemplo, que o sindicato tenha comitê sindical eleito na empresa e também mínimo de 50% de sindicalizados mais um naquela companhia e ainda que haja votação secreta com aprovação por 60% ou mais, com participação de 50% dos funcionários envolvidos; e que a empresa, por sua vez, não tenha pendências na Justiça por práticas antissindicais e reconheça o comitê sindical.

Trata-se de avanço que colocará o Brasil mais próximo do que se pratica no resto do mundo, afirma o professor Helio Zylberstajn, da FEA (Faculdade de Economia e Administração) da USP. "Lá fora (na maioria dos outros países), a convenção coletiva começa dentro da empresa; já no Brasil é o contrário, quase nada se resolve dentro da empresa", cita.

O projeto, que Zylbestajn considera iniciativa inovadora, é resultado de três anos de debate com o movimento sindical, com o setor empresarial e com o governo, assinala o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre.

E a proposta, que tem como ponto de partida a existência da organização dos trabalhadores no local de trabalho (com os comitês sindicais), além de ajustar a legislação às novas demandas do trabalhador, pode desafogar a Justiça, entre outras vantagens, cita o dirigente. Atualmente, há por volta de 2 milhões de processos trabalhista anualmente. "E o tempo médio da ação são seis anos, e quando o trabalhador ganha a causa, de 20% a 30% vai para o advogado", afirma Nobre.

COMITÊ

Um dos pontos de partida para que haja um acordo coletivo especial, dentro da proposta de lei criada pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a organização dos trabalhadores no local de trabalho está fazendo 30 anos na unidade Anchieta da Volkswagen.

A montadora não está sozinha. Os comitês sindicais são realidade em boa parte da categoria na região. Na base dessa entidade (São Bernardo, Diadema, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra), 89 empresas contam com essa representação. O número inclui cinco montadoras e é quase 90% do total de empregos do segmento nessas cidades. E os executivos das empresas onde o comitê existe têm motivos para elogiar o modelo. "A melhor solução é a solução conjunta. O diálogo constante minimiza os problemas", afirma o diretor de Recursos Humanos da Volkswagen, Nilton Júnior. "Reconhecemos a entidade como legítima e oferecemos estrutura organizacional e física (incluindo sala para os diretores sindicais)", acrescenta.

Na montadora, são 28 diretores, eleitos a cada três anos pelos 14.800 funcionários e que se dedicam a conversas com a empresa, para negociar reivindicações dos funcionários (desde discussões sobre banco de horas, ergonomia, participação nos lucros etc). "A gente tira resoluções e leva para os trabalhadores, em assembleia no pátio, para validar os acordos", explica o coordenador do CSE na fábrica, José Roberto Nogueira da Silva, o Bigodinho.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;