Cerca de 660 mil usuários brasileiros da Internet (30% do total de 2,2 milhoes de internautas, sem contar o meio acadêmico) devem desligar seus modems nesta quarta-feira em adesao à greve que promete atingir os provedores de acesso à rede. A estimativa é do presidente da Associaçao dos Provedores de Acesso à Internet (Abranet), Antônio Tavares, que vê a greve como um movimento importante, porém mal endereçado. "Se baixarmos os preços vamos perder dinheiro. Nós apenas repassamos ao consumidor os altos custos pagos com insumos (Embratel e companhias telefônicas)", garante Tavares.

Por ser um movimento que nasceu dentro da rede, a greve nao tem um único idealizador. Grande parte dos usuários brasileiros começou a enviar e receber e-mails sugerindo a greve. Segundo Tavares, a idéia provavelmente conta com o apoio de adolescentes que passam horas plugados na rede.

Enquanto os usuários reclamam dos "altos preços" cobrados pelos 327 provedores brasileiros, os acusados falam que a vila da história é a Embratel, que cobra caro demais pelo uso de seus backbones (via principal de acesso). A America OnLine (AOL), o maior provedor de acesso dos Estados Unidos e do mundo, cobra US$ 21 mensais por tempo ilimitado. No Brasil, este valor sobe para US$ 27 e nem sempre o tempo de uso é livre.

A Embratel, operadora telefônica de longa distância, divulgou nesta terça comunicado no qual afirma que seus preços pelos serviços Internet caíram até 25% em 1998 e cerca de 30% em 1997. A Embratel foi privatizada em julho do ano passado e agora está sob o controle da americana MCI.  De acordo com a Embratel, a reduçao que ela promoveu nos custos resultou em queda de até 50% nos preços finais. A empresa controla 85% do tráfego de Internet comercial no país.

Para atender à demanda crescente, a rede cresceu 30 vezes na capacidade de transmissao nacional e 500 vezes no entroncamento internacional nos últimos três anos, segundo a operadora. ‘‘Tudo isso representa um grande esforço organizacional e de investimentos, e significa que a Embratel reconhece a importância econômica e social da Internet no país e continuará trabalhando para prestar serviços cada vez melhores e mais acessíveis’’, afirma a empresa no comunicado.  

Para a Embratel, a greve dos internautas convocada para quarta está baseada em dois equívocos: centrar- se nos preços de conexao dos provedores de acesso à Internet e considerar esses valores muito elevados. ‘‘As greves ocorridas na Alemanha, França, Itália e Espanha, que inspiraram o movimento brasileiro, visavam os altos preços das tarifas telefônicas de acesso local, e nao os preços de conexao cobrados pelos provedores de acesso à Internet como ocorre aqui’’, argumenta a empresa.  ‘‘O segundo equívoco é considerar que esses preços no Brasil estao altos’’, diz o texto. ‘‘Uma rápida comparaçao com os preços praticados no mundo, exceto EUA/Canadá, mostra que os preços dos provedores brasileiros estao no mesmo patamar dos europeus e sao mais baixos do que os dos outros países da América do Sul’’. A operadora diz ainda que a comparaçao com os preços dos Estados Unidos é improcedente porque a competiçao no setor de telecomunicaçoes americano nao tem similar no mundo e o país é o maior mercado de Internet, com 70 milhoes de usuários.