A disputa de poder na Receita Federal aguçou o apetite dos partidos aliados, de olho na cadeira do secretário Jorge Rachid. O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) tem apadrinhados para indicar e o PTB também quer o cargo, embora Rachid não esteja demissionário. Também no Congresso, aliados do governo cobram providências do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. "Eu acho que o ministro da Fazenda tem que enquadar esses funcionários da Receita, porque eles não podem ficar brigando em público", afirmou o líder do PL na Câmara, deputado Bispo Rodrigues (RJ).

O PL, que já comandou a Receita, nega que queira de volta o comando da instituição. "Nós achamos que Receita, Polícia Federal e INSS têm de ficar fora de negociações políticas", disse Bispo Rodrigues.

Palocci continua em silêncio sobre a crise na Receita. O ministro passou a manhã em reuniões no Palácio do Planalto e retornou à tarde ao seu gabinete. Na entrada, foi questionado se Rachid estaria deixando o cargo, mas não respondeu. Desde que começaram a surgir denúncias contra o secretário da Receita e de pessoas próximas a ele, Palocci tem evitado manifestar-se publicamente sobre o tema.

A única reação mais forte às acusações de corrupção e prática de irregularidades partiu oficialmente da própria Receita Federal. O órgão emitiu na terça-feira uma nota à imprensa rebatendo as acusações do corregedor-geral da Receita, Moacir Leão, de que o gabinete de Rachid poderia estar forjando provas para comprometê-lo. A divulgação da nota foi autorizada por Palocci. Além disso, outras providências estão sendo tomadas no âmbito administrativo.

É possível que Leão seja convocado a explicar suas acusações e, caso ele não seja convincente, não está descartada a possibilidade de um processo administrativo ou até mesmo judicial. Leão também é apontado, nos bastidores do governo, como autor do vazamento de informações sobre investigações internas que apuram suspeitas de corrupção na cúpula da Receita. "A pessoa ou pessoas que expõem a instituição Receita Federal serão responsabilizadas inclusive pelo vazamento de informações", afirmou Rachid, sem mencionar nomes. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, disse que órgãos de inteligência da Polícia Federal estão apurando o vazamento.

Uma manifestação de Palocci a respeito da crise foi prometida nesta quarta-feira pelo ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. "O ministro Palocci fala no momento adequado. Tenho certeza que o ministro vai falar, se já não falou", comentou.