Diarinho Titulo
À espera de uma nova chance
Marcela Munhoz
Do Diário do Grande ABC
02/08/2009 | 14:00
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De que adianta o pássaro saber cantar, ter plumagem colorida para atrair a fêmea, ser líder do bando se está preso? No caso, a gaiola serve para aprender a voar. É assim que se sentem os 6.100 infratores internados nas 142 unidades da Fundação Casa (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente) no Estado.

Até cometerem as infrações graves (roubo em 45,6% dos casos), esses adolescentes de 12 a 17 anos tinham vida quase normal. Quase porque a maioria já havia abandonado a escola e partido para uma rotina criminosa.

É o caso de Bernardo*, 17, interno da Fundação Casa de Mauá há seis meses e, como faz questão de frisar, 11 dias (até o último dia 28). Quando foi pego por tráfico de drogas, morava sozinho, tinha moto e se sustentava com o dinheiro do crime. "Ganhava muito e comprava o que queria, inclusive cocaína. Fui ameaçado de morte. Tinha dívida de R$ 2.000", conta.

O garoto deve sair em um mês e confessa se sentir mais seguro lá dentro. "Foi difícil me acostumar com a rotina, mas aprendi um monte de coisas. Agora só penso na liberdade."

SEM MOLEZA - A rotina na Fundação é rígida, principalmente para quem não estava acostumado com disciplina. Todos acordam às 6h, estudam, fazem algum curso extra, têm atendimento psicológico, limpam os quartos e o refeitório. Às 21h30 em ponto voltam para os dormitórios. "Aqui a gente cobra mesmo. Muitos dizem que preferiam estar na cadeia, porque não teriam de fazer nada. Mas eles precisam de limites", fala a diretora da unidade de Mauá, Solange Camargo, 46 anos.

Mateus*, 17, recluso há 1 ano e dois meses, responde por roubo, porte ilegal de arma de fogo e tentativa de homicídio. "Me iludi com más companhias. Minha família me deu tudo e não aproveitei". Ele teve de passar três vezes por lá para se enquadrar ao sistema.

"Não vou dizer que gosto ou vou sentir falta daqui quando sair, não quero nem passar pela frente, mas amadureci, cresci. Estou tentando aproveitar para estudar. Vou prestar vestibular. Quero ser advogado."




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