Momentos marcantes da história do Grande ABC, que deram novo rumo ao País, não passaram despercebidos pelas lentes do cineasta mineiro João Batista de Andrade. Eles serão exibidos no 5º Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo.

Aos 70 anos - sendo 47 de carreira -, Andrade é homenageado pelo evento, que apresentará 20 de suas obras. O outro homenageado é o argentino Marcelo Piñeyro. "Ambos cineastas são muito importantes para o cinema latino-americano e têm produções que aliam postura autoral e diálogo com o público em narrativas contextualizadas nos meios sociais onde atuam", diz um dos diretores e curadores do festival, Francisco Cesar Filho.

O trabalho de Andrade sempre esteve ligado a questões sociais com visão política. Ele desvenda conflitos e dificuldades da sociedade, observando o comportamento das pessoas nessas situações. "São filmes mais reveladores e não há pregação política", diz Andrade.

O cineasta mineiro perdeu a conta de quantas obras assina, mas lembra detalhes de algumas filmagens, como de Greve! (1979), que será exibido amanhã, às 18h, na Cinemateca Brasileira. Com tom de voz nostálgico, ele conta sobre a repercussão do documentário, que fez circular internacionalmente imagens de março de 1979, quando metalúrgicos do Grande ABC desencadearam a primeira greve geral urbana do País após o golpe de 1964. "A TV era proibida pela ditadura de transmitir as imagens e achei importante fazê-las. Filmei durante três dias e editei rapidamente de forma que o filme foi visto ainda durante a greve. O Grande ABC é fundamental para o desenvolvimento brasileiro, pelos movimentos sociais que mudaram a face do Brasil", diz Andrade.

Paranapiacaba, em Santo André, é cenário de outro filme de Andrade, Doramundo (1977), que será apresentado no Memorial da América Latina na quarta-feira, às 20h. Ficção inspirada em fatos reais, o longa é baseado no romance de Geraldo Ferraz e se passa em 1939. No ambiente sombrio da vila ferroviária, mortes misteriosas transformam moradores em suspeitos. "Doramundo ganhou como melhor filme e melhor diretor no Festival de Gramado, em 1978", lembra o premiado. No elenco, Rolando Boldrin, Irene Ravache, Antonio Fagundes e Armando Bogus.

Os outros 18 filmes do cineasta mineiro a serem exibidos não retraram o Grande ABC. Da lista, ele indica dois: "São exemplos muito fortes de minha atividade como cineasta". Em O País dos Tenentes (1986), sobre a transição política do Brasil da ditadura para a democracia, Paulo Autran interpreta um general que se corrompeu. A exibição será amanhã, às 20h, no MIS (Museu da Imagem e do Som). O outro é Wilsinho Galiléia (1978), documentário proibido pela ditadura que seria exibido na TV Globo e conta história de um garoto da periferia que virou bandido e foi fuzilado pela polícia. A apresentação será na sexta-feira, às 18h, na Cinemateca Brasileira.

Seu mais novo filme é Travessia (2009), que contará histórias de pessoas que tiveram participação expressiva na ditadura militar e na abertura política, no sábado, às 17h, na Cinemateca Brasileira.

O outro homenageado do festival, Marcelo Piñeyro, terá seis longas exibidos, com destaque para o inédito As Viúvas das Quintas-Feiras (Argentina/Espanha, 2009), sobre assassinatos em condomínio de luxo. Serão duas sessões: quinta-feira, às 21h, no CineSesc, e domingo, às 17h, no Memorial da América Latina.

EM PARALELO - Três eventos serão dedicados aos homenageados no Memorial da América Latina. Na quarta-feira, às 18h, será lançada edição atualizada da biografia João Batista de Andrade - Alguma Solidão e Muitas Histórias, de Maria do Rosário Caetano. No mesmo dia, às 20h, o crítico Jean-Claude Bernardet comandará mesa-redonda para discutir a obra de Andrade. No sábado, às 16h, Marcelo Piñeyro fará aula magna.