Um inédito e um quase inédito. A mostra prevê também projeções de Wilsinho Galiléia, documentário que permaneceu no subsolo durante 24 anos. Rodado como um especial para o Globo Repórter, o filme cheirou a subversão para o regime em 1978, que o censurou por considerá-lo uma apologia à criminalidade infantil. Veio à tona na última edição do festival É Tudo Verdade e integra o ciclo do CCBB na próxima quinta-feira.
João Batista policiou artisticamente a repressão. Não foi cegamente ostensivo porque o minguado aparelho cultural não permitia; não foi alegórico para não correr riscos de fragmentação de sua ascese. Na trajetória de oposição aos cassetetes, passou pelo Grande ABC. Primeiro foi a Paranapiacaba, onde rodou Doramundo (1978), uma caleidoscópica tese do sistema policial baseado mais no “achismo” do que em evidências. Em 1979 voltou para documentar a semeadura sindical com o curta Greve!. Doramundo será exibido no próximo sábado e Greve!, no domingo.
João Batista de Andrade filmou a frustração solapada pela coerção – mas não viveu assim. Continuou a observar a lobotomia política até fazer O Homem que Virou Suco (1979). Exibido no sábado, o filme tem José Dumont (cabra competente) na pele de Deraldo, artista de rua que deixa o Nordeste para reivindicar um lugar na terra das oportunidades que São Paulo vendia. Confundido com um assassino, Deraldo é perseguido e acuado. Seria um Joseph K. à brasileira – falta para isso o dado absurdo, a causa inexistente. Todavia, frente às manobras esotéricas da ditadura militar para justificar óbitos e desaparecimentos, não falta mais nada.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.