A empresa, que vendeu no fim de outubro 20% de suas açoes a um grupo de companhias francesas, deve manter a rota de crescimento acelerado em funçao do aquecimento do mercado de aviaçao regional e da necessidade de renovaçao da frota de avioes turboélices das companhias aéreas americanas e européias.

Segundo David Wheeler, da Bear Stearns, a American Eagle, subsidiária da American, Airlines que tem em sua frota 35 jatos ERJ-145 e 5 ERJ-135 - além de outros 242 dos dois modelos na carteira de pedidos -, está interessada na nova versao de 44 lugares, o ERJ-140. A empresa pode fechar um grande contrato com a Embraer ainda este ano.

Crescendo de forma meteórica desde o lançamento do ERJ-145, em 1996, a Embraer deu sua grande cartada em direçao à virada do século com a aliança estratégica estabelecida em 25 de outubro com as francesas Aerospatiale-Matra, Dassault, Snecma e Thompson, avalia Wheeler.

Com uma carteira de pedidos da ordem de US$ 17,2 bilhoes - US$ 6,5 bilhoes em encomendas firmes e o restante em opçoes -, a empresa está muito bem posicionada para explorar outras áreas de crescimento.

De acordo com seu presidente, Maurício Botelho, a aliança vai permitir à Embraer dobrar sua base de clientes - salta dos atuais 1 mil avioes voando para 2 mil - , capitalizar a excelente presença de suas sócias no mercado europeu e asiático, onde nao tem participaçao, e ter uma presença forte na produçao de aeronaves militares.

A expectativa é de que a participaçao do segmento de defesa no faturamento suba dos atuais 10% para 30% nos próximos anos.

Para a Bear Stearns, a empresa brasileira deve incrementar seus negócios na área de peças e serviços e entrar no mercado de jatos corporativos, usando a plataforma do ERJ-135. A parceira Dassault tem presença expressiva nesse mercado com o Falcon.

A sinergia é fundamental. Aerospatiale-Matra detém 38% do consórcio Airbus e forte ligaçao com a Uniao Européia, exatamente a regiao que deve ser responsável por boa parte das encomendas de jatos regionais nos próximos anos. A aliança vai oferecer ao mercado ampla gama de opçoes de aeronaves de tamanhos e configuraçoes.

Outra vantagem é o fato de a Matra ser proprietária da ATR, que fabrica dois avioes turboélice e detém 21% do mercado de aviaçao regional. Além disso, a aliança elimina um potencial competidor da Embraer, já que a ATR estava estudando entrar no mercado de jatos regionais.

Outro ponto é a possibilidade de ampliar negócios da divisao de peças de reposiçao e serviços. Um dos principais concorrentes da Embraer é a Fairchild Dornier, que tem grande contratos de reposiçao de peças com a Airbus.

A médio prazo, aponta a Bear Stearn, o maior potencial da aliança está na área de aviaçao de defesa. Nao só na produçao de avioes militares, mas também na fabricaçao de armas e no aumento das vendas de seus atuais modelos, o Tucano, o Super Tucano, o caça subsônico AMX-T e o jato de vigilância AEW&C.

O estudo da consultoria aponta para a possibilidade de a Embraer tornar-se parceira de risco na fabricaçao dos caças Mirage e Rafale, adquirindo tecnologia da Dassault para produzir peças. Outra possibilidade seria fabricar no Brasil um caça para o mercado latino-americano.

O problema que a empresa brasileira deve superar, segundo o analista David Wheeler, é a excessiva concentraçao da composiçao da carteira de pedidos. Dos US$ 17,2 bilhoes em encomendas e opçoes, 67% sao de três grandes companhias regionais: Continental Express (21%), American Eagle (23%) e Crossair (23%).

É que o mercado está muito aquecido. As empresas maiores fazem grandes pedidos, aponta Wheeler, que prevê: a maturaçao do mercado deve garantir à Embraer encomendas menores, permitindo a diversificaçao de sua carteira.