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FHC critica protecionismo de ricos em comemoraçao do BID
Do Diário do Grande ABC
04/12/1999 | 14:53
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A comemoraçao, neste sábado, dos 40 anos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que reuniu Chefes de Estado de países americanos, se transformou numa extensao da polêmica comercial entre o Brasil e os Estados Unidos. O presidente Fernando Henrique Cardoso saudou o aniversário do banco com críticas ao protecionismo dos países ricos e reivindicando regras mais justas para o comércio internacional, que favoreçam os mais pobres.

Num discurso sobre a necessidade de abertura comercial, Fernando Henrique disse que o Brasil deixou muito clara sua posiçao nas negociaçoes da reuniao preparatória para a Rodada do Milêmio da Organizaçao Mundial do Comércio (OMC), em Seattle (EUA). O pronunciamento foi acompanhado pelo secretário do Tesouro norte-americano, Lawrence Summers, que também fez referência às relaçoes comerciais. "Os mercados internacionais nao sao tao estáveis como gostaríamos", disse o norte-americano.

Fernando Henrique foi enfático. "(O país) deixou claro que o sistema multilateral de comércio precisa escolher entre duas alternativas: o regime de discriminaçao, que protege os ricos e penaliza os pobres, ou um caminho de construçao de regras efetivamente universais que permitam também aos países menos desenvolvidos o acesso a mercados em condiçoes justas."

Antes, em café da manha no Palácio Rio Negro, Summers e Fernando Henrique haviam conversado informalmente sobre as declaraçoes do presidente norte-americano Bill Clinton feitas quarta-feira na reuniao da OMC. Clinton abordara a questao do trabalho infantil no Brasil, interpretada como justificativa para a imposiçao de barreiras comerciais a produtos brasileiros. No dia seguinte, Summers endossou as declaraçoes de Clinton.

A conversa entre Fernando Henrique e Summer foi relatada mais tarde, pelo assessor diplomático da Presidência, Eduardo Santos. Segundo ele, o presidente brasileiro defendeu o fim das barreiras comerciais como a saída para acabar com o trabalho infantil no País. Santos disse que o assunto veio à tona "naturalmente". "O presidente explicou com algum detalhe ao secretário Summers os programas sociais que têm contribuído para reduzir de forma sensível o trabalho infantil, que o coloca hoje concentrado na zona rural", afirmou Santos.

O assessor disse que a reuniao "foi apenas informativa" e que Summer pareceu entender as explicaçoes de Fernando Henrique. Segundo ele, os dois discutiram ainda a situaçao político-econômica da América Latina, o ajuste fiscal do governo brasileiro e projetos de desenvolvimento social. Na cerimônia no Hotel Quitandinha, onde a criaçao do BID começou a ser idealizada, em 1954, Summers disse que a funçao essencial do banco deve ser a de apoiar o livre fluxo de capitais.

"Tem sido dito que o século 20 foi o século americano" disse o secretário do Tesouro. "Tenho certeza de que, com a ajuda do BID, o século 21 será o das Américas." As declaraçoes foram entendidas pelos presentes como uma alusao à formaçao da Area de Livre Comércio das Américas (Alca).

O presidente Fernando Henrique já havia falado, em seu discurso, sobre a importância do bloco econômico. "Nao podemos hoje imaginar o crescimento econômico sustentado sem a perspectiva de fortalecimento dos diversos esquemas que deram realidade à palavra integraçao", disse ele. "Basta ver os avanços do Mercosul, da comunidade andina, do mercado comum centro-americano, do Caricon (organizaçao comercial entre os países do Caribe), do Nafta (regiao de livre comércio da América do Norte)." Segundo ele, "o próprio fato de que hoje se possa pensar em uma Area de Livre Comércio das Américas (Alca) dá uma boa medida de até que ponto a integraçao se tornou inseparável do desenvolvimento". O presidente afirmou ainda que é necessário ter um portfólio de projetos para a América Latina e Caribe elaborados em comum pelos países da regiao em parceria com o BID.

O presidente do Peru, Alberto Fujimori, também foi duro em relaçao às medidas protecrionistas. "Os países pobres e os em via de desenvolvimento acertaram programas de ajuste, reformas internas, a reestruturaçao do papel do Estado e participaçao na economia de livre mercado", disse. "Respeitaram os princípios dessa economia mas, no caminho, encontraram alguns países em desenvolvimento que voltaram a estabelecer injustos e inoportunos mecanismos de proteçao à produçao agropecuária em contradiçao com os postulados da chamada globalizaçao." E encerrou seu pronunciamento lembrando os violentos protestos em Seattle que, segundo ele, "nos eximem de maiores comentários".




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