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BNDES oferece 'cheque especial' à Vale
05/10/2009 | 07:08
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A crise financeira, que fechou o acesso das companhias ao mercado de crédito internacional, levou a mineradora Vale a solicitar pouco mais da metade dos R$ 7,3 bilhões colocados a sua disposição, desde abril de 2008, pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). A linha de crédito oferecida pela instituição funciona como um cheque especial e foi a maior já aprovada para uma empresa privada brasileira.

O empréstimo de R$ 3,8 bilhões foi aprovado pelo BNDES no dia 18 de dezembro do ano passado, em duas operações, uma referente a projetos no Pará e outra no Espírito Santo, ambas com objetivo de dar suporte ao plano de investimento da empresa para os próximos cinco anos. O financiamento do Pará contou com apoio do banco de R$ 1,2 bilhão; o do Espírito Santo, de R$ 2,6 bilhões.

A Vale não divulgou as aprovações, ocorridas em dezembro, mas o financiamento é liberado aos poucos, conforme o andamento dos projetos.

Mesmo com o reforço de caixa dado pelo banco de fomento, a Vale, cinco meses depois, cortou em US$ 5,2 bilhões seus investimentos programados para 2009 (36,5% do total), sob a alegação de ajustes ao novo cenário de retração da economia mundial.

Ao longo do ano, a empresa anunciou ainda cortes de produção e novas demissões (em novembro de 2008, fez 1.300 dispensas), o que acirrou as críticas do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, à gestão de Roger Agnelli, à frente da mineradora. O desconforto explícito manifestado por Lula à pisada no freio imposta por Agnelli aos projetos de expansão da companhia no auge da crise gerou rumores de que o governo estaria trabalhando nos bastidores para tirar o executivo do comando.

Para reverter o quadro de embate com o governo, a Vale voltou suas baterias para investimentos em siderurgia, um dos principais alvos de críticas. Desde então, elevou sua fatia acionária na CSA (Companhia Siderúrgica do Atlântico), no Rio de Janeiro. O aumento teve como objetivo garantir a entrada em operação da usina em 2010 ameaçada pela maior fragilidade financeira da sócia alemã ThyssenKrupp. Além disso, a empresa voltou a manifestar o interesse em implementar, mesmo que sozinha, a construção de usinas no Espírito Santo e no Pará.

O cenário mais conturbado abriu caminho para a tentativa do empresário Eike Batista de entrar no bloco de controle da mineradora, que já foi presidida por seu pai, Eliezer Batista. A oferta de US$ 9 bilhões pela fatia da Bradespar não foi aceita. Mas, no mercado financeiro, especula-se que Eike estaria tentando agora negociar a participação da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil que, junto com a Bradespar, BNDES e a japonesa Mitsui, dividem o controle da companhia brasileira. Na semana passada, a fundação negou ter recebido oferta formal do empresário.

O BNDES informou que até o momento já liberou 31,6% dos R$ 3,8 bilhões solicitados pela companhia, ou R$ 1,2 bilhão. A Vale confirmou ter sacado US$ 587 milhões. Além dos recursos obtidos com o BNDES, a mineradora captou ainda US$ 1,942 bilhão com duas operações no Exterior.

Companhia captou R$ 19 bi com ações

O dinheiro colocado à disposição da Vale não é o único recurso que a mineradora tem para bancar seus projetos. O chefe da área de análise da Modal Asset, Eduardo Roche, lembra que a companhia tem uma estrutura de caixa privilegiada por ter realizado antes da crise uma oferta pública de ações, na qual captou R$ 19 bilhões.

Por isso, segundo ele, é difícil saber se a empresa irá sacar mais recursos do BNDES ou intensificar o acesso ao mercado de crédito internacional. "Ela não tem necessidade efetiva de levantar caixa para investimentos", disse. Entretanto, o analista aponta como uma dúvida do mercado um possível impacto da interferência política na elaboração do plano de investimentos para os próximos anos.

Além dos financiamentos de dezembro, o BNDES já havia aportado, em operações de capitalização, R$ 1,8 bilhão para manter inalterada sua fatia no bloco de controle da Vale durante a oferta pública feita em julho do ano passado.




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