Economia Titulo Setor empresarial
Crescimento das empresas
é ofuscado pela corrupção

Na América Latina, 73% dos executivos acreditam que a
corrupção tem grande impacto negativo em seus negócios

Leone Farias
Do Diário do Grande ABC
22/06/2012 | 07:30
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As famílias latino-americanas não são as únicas que se incomodam com a corrupção das administrações públicas. A economia também é prejudicada com a má condução dos órgãos estatais. Esta é a conclusão de pesquisa desenvolvida pela Duke University, FGV (Fundação Getulio Vargas) e CFO Magazine. O levantamento aponta que 73% dos executivos responsáveis pelas decisões financeiras de suas empresas, na América Latina, acreditam que a corrupção tem grande impacto negativo em seus negócios, tornando o crescimento das companhias mais lento.

A mesma pesquisa é aplicada em outros continentes e países. E os resultados dessas regiões deixam os números captados na América Latina bem mais alarmantes. Na Ásia, menos da metade dos executivos de finanças entrevistados apontou a corrupção como prejudicial. O percentual oriental foi de 43%.

Nos Estados Unidos, a disparidade em relação aos latinos-americanos é ainda maior. Apenas 24% dos entrevistados colocaram a má gestão governamental como prejudicial à expansão de seus negócios. As instituições não abordaram o assunto na região europeia.

A pesquisa, denominada Panorama Global dos Negócios, tem universo de 811 executivos de quatro regiões e foi concluída no dia 6. Professor de Finanças da FGV e codiretor do estudo, Antônio Gledson de Carvalho destacou que a corrupção apresentada pelo levantamento é, basicamente, referente ao comando de estado e seus agentes, e não de relações entre parceiros comerciais.

Ao exemplificar, o acadêmico disse que o prejuízo é grande às empresas. "Imagine você sendo achacado toda a semana por um fiscal que passa em sua porta. Se por algum motivo você concordar (com uma chantagem), acaba elevando o seu custo. Então o resultado é passar ao preço do produto, ou serviço, e desta maneira perde mercado."

Carvalho complementou que a legislação no País tem brechas e é obscura em algumas situações. E isso dá muita autoridade a alguns agentes de todas as esferas governamentais. "Mesmo sem provas, os empresários já passaram ou têm conhecimento de alguém que já passou por situação de chantagem. Ele acaba se sentindo muito vulnerável à corrupção", observou.

No Grande ABC, a situação não é diferente. Porta-voz do empresariado da região, o diretor titular do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo) de Diadema, Donizete Duarte da Silva, classificou os empresários em três grupos, sem dar nomes ou quantidades. "Hoje temos a seguinte divisão: existem os indignados, pois não aceitam a corrupção; os indignados, que aceitam, mas não participam; e aqueles que enriquecem com ela."

E foi além. "O problema é que ele (que aceita e participa da corrupção) prejudica o próximo, que muitas vezes é o seu cliente, seu mercado", alertou.

O primeiro vice-diretor do Ciesp de Santo André, Norberto Luiz Perella, destacou que as empresas que se relacionam com a entidade são prejudicadas por empresários que aceitam a corrupção. "A indústria que é séria sofre com isso. Exemplo disso são aquelas que atuam na área ambiental, que têm altos custos. No fim, esse tipo de atitude (se corromper) fomenta a corrupção, já que ela só existe se tem gente que se corrompe."

Experiente na colaboração para a formação de pesquisadores e executivos que passam pela FEA/USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) e FIA, o professor Celso Grisi, que também é presidente do Instituto Fractal, afirma que os gestores estão fartos da exposição "aos riscos típicos do subdesenvolvimento". "O pior é que qualquer projeto acaba dependendo de aprovações de órgãos públicos e você se vê muitas vezes chantageado. O mesmo acontece em processos licitatórios, como você observa nas atuais CPIs", argumentou Grisi.

Perella criticou também os empresários que compram sem nota. "A corrupção começa aí."

OTIMISMO

Enquanto as empresas estão insatisfeitas com a corrupção, estão otimistas sobre o caminho a ser trilhado nos próximos 12 meses, revelou a pesquisa. E quem ganhará com isso será o mercado de trabalho.

Em relação ao quadro de funcionários, os diretores avaliaram que deverão ampliar, em média, 7% o número de empregados de suas empresas nos próximos 12 meses.

Junto a isso, também haverá expansão média de 20% nos gastos das companhias. Isso ao considerar que entre a elevação de custo está o acréscimo de 8% na folha de pagamento em valores monetários.

ECONOMIA

Segundo o estudo, 43% dos executivos de finanças latino-americanos estão pessimistas sobre as perspectivas econômicas de seus países. Na contra-mão, outros 27% apresentaram otimismos.

Professor de Finanças da FGV e codiretor da pesquisa, Antônio Gledson de Carvalho disse que a compacta expectativa otimista dos executivos sobre a atividade econômica de suas nações é um reflexo das fracas expectativas para a economia dos países nos próximos 12 meses. Inclui a esse grupo a falta de otimismo em relação aos mercados globais em que essas economias atuam.

No entanto, o acadêmico salientou a confiança dos gestores nas próprias empresas como o lado bom da história.

"Curiosamente, o otimismo dos diretores financeiros sobre suas próprias empresas continua forte, o que sugere que muitas empresas latino-americanas estão prontas para um crescimento rápido, o que pode acontecer caso ocorra uma melhora no panorama econômico global", argumentou Carvalho.




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