Economia Titulo
Grossi diz que ex-diretor do BC era cotista do FonteCindam
Do Diário OnLine
05/06/2001 | 15:55
Compartilhar notícia


A diretora de fiscalização do Banco Central (BC), Tereza Grossi, afirmou nesta terça-feira, em depoimento na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, que um ex-diretor do BC era cotista de um dos fundos de investimento do Banco FonteCindam, que foi socorrido junto com o Marka na época de desvalorização do Real.

Grossi não quis informar o nome do ex-diretor. Para ela, a revelação seria leviandade, já que ele não ocupava tal cargo na época. A diretora do BC se negou a responder uma questão levantada pelo senador Pedro Simon (PMDB), sobre a identificação do ex-diretor. Ele perguntou se ele seria, na verdade, um ex-presidente do Banco Central. "Da maneira como responder, posso estar quebrando o sigilo bancário", rebateu Tereza, que afirmou que o ex-diretor não era maior cotista do fundo. De acordo com Grossi, ele tinha um valor razoável de cotas.

O presidente do BC, Armínio Fraga, afirmou que tomou conhecimento sobre a operação de socorro do BC aos bancos Marka e FonteCindam, na época da desvalorização cambial (1999), por meio da imprensa. Na ocasião, o presidente da instituição era Francisco Lopes, acusado de vender informações privilegiadas a bancos privados na época da crise.

Fraga, que na época estava nos Estados Unidos, reiterou que não participou de qualquer decisão do BC antes de comandá-lo e classificou como leviana qualquer tentativa de envolvê-lo no caso. “É um absurdo qualquer insinuação que me relacione ao caso antes da minha sabatina”, afirmou.

O presidente do BC também disse que não está satisfeito com o sistema de liquidação de instituições financeiras que existe atualmente. Para Fraga, o sistema pode ser aperfeiçoado para que não ocorram prejuízos nos cofres públicos, mas explicou que depende da aprovação do Congresso Nacional.

Armínio Fraga falou que não houve necessidade formal de comunicar ao Ministério da Fazenda sobre a operação de venda de dólares abaixo da cotação do mercado aos banco Marka e FonteCindam, em janeiro de 1999. Segundo ele, no momento atual, devido à aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, haveria recomendação de que isso fosse comunicado ao Ministério da Fazenda e ao Ministério do Planejamento devido ao ‘risco fiscal’.

Além disso, também afirmou que a decisão de vender dólares abaixo da cotação do mercado poderia ter sido tomada sem qualquer contato com a BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros).

Durante depoimento voltou a afirmar que a versão de Grosssi, de que havia um risco sistêmico no início de 1999, é absolutamente plausível. “Me parecia razoável pelo menos considerar a possibilidade de risco sistêmico. Não sei que decisão tomaria", afirmou.

Irritação – Tereza Grossi ficou irritada com as insinuações dos Senadores de que teria participações com o caso. “Não posso aceitar nenhuma insinuação, porque não há nada que o Banco Central precise esconder”. E desafiou os senadores: “Desafio qualquer um a mostrar alguma prova concreta. Não posso mais aceitar acusações levianas. Não é mais possível”, desabafou.

Tereza Grossi disse em depoimento que nunca se sentiu “obrigada, chantageada ou pressionada a ter qualquer tipo ação”. Segundo ela nunca houve qualquer pressão por parte dos diretores. “O clima era nervosismo, mas pela situação que o país enfrentava”. Além disso garantiu que nunca teve nenhum tipo de contato com Francisco Lopes. “A única vez que me encontrei com ele foi durante o depoimento do presidente do Banco Central, Armínio Fraga, no final de maio”.

Grossi explicou que, com relação a contrapartes, quando se faz uma operação na BM&F, não se sabe quem é o comprador. “Seria necessário que tivesse vazamento de informações na BM&F para a contraparte saber quem precisava de ajuda”.

Resultados Financeiros – O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) pediu informações sobre os resultados financeiros dos bancos Marka, FonteCindam, Modal, Boa Vista e Pactual durante o período de 1997 e 1998, para verificar os lucros das operações de arbitragem no mercado de câmbio e de juros. Suplicy reafirmou que teria uma testemunha de vazamento de informações em 1998, antes do Real ser desavalorizado.

Fraga, que prometeu enviar as informações para o senador, disse que o Banco Central já tentou avaliar as mudanças de posição de alguns bancos pouco antes da maxidesvalorização cambial, que aconteceu em janeiro de 1999, mas não conseguiu chegar a uma conclusão. Para Armínio, aconteceram diversos alarmes falsos e mudanças de posição nos anos que antecederam a desvalorização em janeiro de 1999.

Dificuldades nas Fiscalizações – Tereza Grossi disse que o número reduzido de funcionários e o valor dos salários pagos pelo Banco Central dificultavam as fiscalizações em 1999. "Precisamos pagar salários adequados para não perdermos funcionários que treinamos", afirmou. Grossi comentou que, “atualmente, o trabalho é realizado por cerca de 700 inspetores com a função de fiscalizar 200 bancos, 1, 3 mil cooperativas de crédito e de 700 a mil consórcios, além das distribuidoras e corretoras de valores e fundos de investimentos. Além disso, informou que tomou conhecimento, em uma publicação internacional, que o BC brasileiro é o que tem a menor relação entre o número de funcionários e a população do país.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;