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Metalúrgico diz que lay-off reduz qualidade de vida
Gustavo Baena
Especial para o Diário
15/01/2000 | 19:14
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Mesmo recebendo parte dos salários, os funcionários da Ford que estao em lay-off (suspensao temporária do contrato de trabalho) afirmam que o padrao de vida deles caiu sensivelmente desde que o regime entrou em vigor, em dezembro de 1998, e que a situaçao ficou ainda mais complicada com a reduçao progressiva dos pagamentos - que começou em dezembro passado e termina em julho, quando chega ao limite de 50%. A partir daí, se o acordo firmado nas últimas negociaçoes entre o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a Ford for mantido, 850 trabalhadores nao têm mais garantia de manutençao de seus empregos.

O prensista Carlos Antonio dos Santos está sustentando sua família com o dinheiro pago pela montadora e vem tendo dificuldades para conseguir "bicos". "Quem tem algum bico para oferecer prefere aqueles que têm experiência e assim fica difícil, já que conheço mais da minha área", disse.

Santos gasta o que recebe, segundo ele, apenas com o que julga essencial. "Estou usando o dinheiro para pagar o aluguel, outras contas da casa, como água e luz, e algumas despesas, como as de alimentaçao." Nao bastasse o aperto no orçamento, o metalúrgico e sua família estao enfrentando outro problema. Na última quarta-feira, com as fortes chuvas que caíram sobre o Grande ABC, a casa do metalúrgico ficou totalmente alagada e ele perdeu quase tudo o que tinha. "Conseguimos recuperar pouca coisa, mas a maioria, como sofá e guarda-roupa, nao deu para salvar." Agora, Santos tenta junto à Ford uma ajuda extra para cobrir seu prejuízo.

Apesar dos problemas, ele ainda tem esperança de retornar ao trabalho. "Estou acompanhando tudo junto ao sindicato e à Ford, mas a situaçao está difícil, as negociaçoes estao seguindo muito devagar. A cada dia surge uma história diferente e nossa situaçao vai ficando na mesma", reclamou.

Caso nao fique na Ford, Santos pretende aplicar o dinheiro da demissao na compra de um terreno para construir sua casa. Por enquanto, ele nao consegue fazer economia, "até mesmo porque nao tem sobrado dinheiro para isso". Ele nao tem interesse em assinar o Plano de Demissao Voluntária oferecido pela montadora. "Meu interesse é voltar a trabalhar."

Carlos Pires, outro funcionário da Ford em regime de lay-off, disse que suas contas chegam e ele já nao tem como pagar. Na sexta, após 22 anos de trabalho, Pires esteve na empresa para aderir ao PDV. "Estou devendo para parentes, bancos, e se nao agisse dessa forma acabaria endividado também com agiotas, ou seja, fico com dinheiro disponível, mas com dívidas na praça."

Ele, no entanto, nao reclama do método adotado pela montadora. "A Ford nunca atrasou o pagamento, mas nao dá para conciliar as despesas domésticas com os rendimentos diminuindo e as contas aumentando mês a mês. Diante da incerteza, cortei muitas despesas. O padrao de vida que tinha acabou e também a minha perspectiva de voltar à Ford. A própria fábrica nao tem perspectiva de melhora se nao colocar modelos novos no mercado."

Após deixar a Ford, Pires nao vai começar a trabalhar em outro lugar, pelo menos por enquanto. "Vou esperar pela aposentadoria especial. O PDV garante um dinheiro que alivia a situaçao por mais algum tempo."

O embalador de peças e acessórios Josafo Gomes da Silva, também em lay-off, pretende, assim que saldar alguns compromissos que assumiu, começar a poupar o que recebe da Ford. "A gente nunca sabe o que pode acontecer mais tarde." Silva pertence à turma de lay-offistas que deixou a montadora em outubro do ano passado e, por isso, está recebendo seu salário integral, apesar de estar em casa.

Entre os planos do funcionário que foram adiados, estao o de concluir a reforma de sua casa, em Rio Grande da Serra, e o de trocar seu Chevette modelo 85 "por um carro melhor". "Trabalhei até setembro de 1999 e desde outubro estou nessa situaçao. Nao procurei fazer bico, até porque está difícil de achar e estou confiante que vou voltar à Ford. Espero que a direçao da empresa se posicione a nosso favor."




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