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Abatido, Papa não abandona comando
Do Diário do Grande ABC
16/10/2003 | 20:14
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A frágil saúde de João Paulo II, debilitada pelo Mal de Parkinson, fez crescer no último ano os boatos de que renunciaria ao cargo. Não parece ser a intenção do polonês Karol Wojtyla, 83 anos, que se mantém à frente do Vaticano apesar das especulações e faz questão de cumprir sua agenda de compromissos.

Há duas semanas, visitou o santuário de Nossa Senhora, em Pompéia, sul da Itália, onde rezou pela paz mundial. Cansado, teve de interromper o discurso. Também já não pode caminhar por causa da artrose que atinge o joelho desde fevereiro deste ano, e a maior parte das celebrações é feita por auxiliares.

Mas a viagem a Pompéia não deixou de ser uma resposta firme às especulações que surgiram depois das declarações do cardeal alemão Joseph Ratzinger. Em entrevista à revista alemã Bunte no início deste mês, Ratzinger afirmou que João Paulo II estava ‘mal’ e pediu aos fiéis que rezassem por ele.

Os primeiros sinais do Mal de Parkinson surgiram em 1994. Mas a saúde de João Paulo II começou a declinar após o atentado de 1981, na Praça de São Pedro, que o deixou gravemente ferido, obrigando-o a suprimir parte do intestino. Em 1992, retirou um tumor benigno do tamanho de uma laranja do intestino. No ano seguinte, caiu e deslocou o ombro, permanecendo durante semanas engessado. Nos anos 40, foi atropelado por um caminhão à noite, acidente no qual fraturou a cabeça e que também atingiu um dos ombros. Em 1994, uma nova queda o obrigou a implantar uma prótese no fêmur fraturado. Dois anos depois, o sumo pontífice teve o apêndice retirado.

Nos últimos dois anos, João Paulo II tem mostrado dificuldade para ler os parágrafos dos textos públicos. Inicia com voz clara e alta, mas depois ela fica baixa, quase inaudível.

Na sexta-feira passada, o porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, desmentiu as informações de que João Paulo II estaria se submetendo à diálise, divulgada por uma agência de notícias européia. A informação dizia que os médicos do papa decidiram fazê-lo passar por diálise para ajudar suas funções renais, prejudicadas pelo excesso de remédios para combater o Mal de Parkinson.

A doença, responsável pela figura abatida de Karol Wojtyla, fez crescer, no ano passado, as especulações de que iria se recolher definitivamente em um mosteiro da Polônia, sua terra natal. Mas isso não ocorreu. Recentemente, ao falar sobre as especulações sobre abrir mão do trono de São Pedro, João Paulo II respondeu, brincando: "Eu não saberia a quem apresentar minha demissão".

O código de Direito Canônico prevê a renúncia do sumo pontífice, em documento assinado pelo próprio João Paulo II em 1997. Define que ela possa ocorrer em duas circunstâncias: em caso de demência ou por decisão própria, por crer que não pode mais manter suas funções de governar a Igreja.

O Mal de Parkinson atinge o sistema nervoso e leva à incapacidade física e mental. "Fisicamente está esgotado, mas não seu espírito nem sua valentia", defendeu o cardeal belga Gustaaf Joos, no auge das especulações sobre a renúncia, na mesma época em que o Vaticano se viu envolvido no chamado 'escândalo dos padres pedófilos. "O papa sabe toda a responsabilidade que pesa sobre ele. O dia que compreender que já não pode continuar, terá a coragem de assumir", afirmou Joos.




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