Vereador associa sacerdócio católico a abusos com base em fake news, recebe críticas de próprios colegas do Legislativo e se retrata
Depois de declarar que a Igreja Católica privilegiava a seleção de pedófilos, o vereador Luiz Henrique Watanabe (PRTB) foi duramente repudiado pela Diocese de Santo André e pelos próprios colegas na Câmara de São Bernardo. O parlamentar causou polêmica durante o uso da tribuna na sessão de quarta-feira (19), enquanto se discutia uma moção de apoio ao papa Francisco, o qual se encontra adoentado, e gerou reações, principalmente após publicação do caso pelo Diário. O legislador voltou atrás na manifestação e assegurou que vai se retratar na próxima sessão.
LEIA MAIS: Comissão que avalia compras de Morando pede informações sobre novo galpão
Em nota assinada pelo bispo diocesano do Grande ABC, dom Pedro Carlos Cipollini, a Diocese de Santo André classificou as falas de Watanabe como “lamentáveis”, por disseminar preconceito e desinformação. O vereador são-bernardense disse, na tribuna, que leu sobre um autor norte-americano que pesquisou, durante 30 anos, quais eram as preferências de psicólogos na escolha das pessoas que iriam estudar para ser padres, e assim teria provado que o sacerdócio nos Estados Unidos privilegiava pessoas com tendência à pedofilia.
“A fala do vereador ocorreu durante a discussão de uma moção de apoio ao papa Francisco, apresentada por outros vereadores. Enquanto alguns parlamentares expressavam solidariedade ao santo padre, o vereador Watanabe utilizou o momento para fazer acusações infundadas contra a Igreja, desviando-se do propósito da moção e desrespeitando a fé de inúmeros cidadãos”, expressou a Diocese de Santo André em nota, também assinada pelos padres José Aparecido Cassiano e Marcos Wanderlei Vinicius.
Questionado pelo Diário na quinta-feira (20), Watanabe disse que se referiu ao Relatório John Jay, encomendado pela Igreja Católica dos Estados Unidos e publicado em 2004, que investigou práticas de crimes sexuais cometidos por religiosos e acobertadas pela instituição. Entretanto, o estudo não menciona nada a respeito do processo de seleção voltado à escolha de pedófilos para o exercício do sacerdócio.
LEIA MAIS: Nina Braga sobe o tom contra moção de apoio ao papa Francisco
Pela Câmara de São Bernardo, 22, dos outros 27 vereadores, assinaram repúdio às declarações de Watanabe até o início da tarde desta sexta-feira (21), entre eles, pessoas com linhas ideológicas no campo político próximas ao parlamentar do PRTB, como Nina Braga (PL).
“Não compactuamos com a disseminação de informações falsas e prejudiciais, ao mesmo tempo que reafirmamos nosso respeito aos valores e à atuação da Igreja Católica, que há séculos contribui para a formação ética, social e cultural de nossa sociedade. Reconhecemos a dedicação dos sacerdotes e fiéis ao serviço da fé e da caridade, promovendo o bem comum”, se posicionou o Parlamento.
O Legislativo afirmou que o debate público deve ser pautado por meio da responsabilidade e do respeito, e tal pronunciamento não o representa. Em seguida, os parlamentares manifestaram solidariedade à Diocese de Santo André e demais católicos que se sentiram ofendidos.
Líder de governo, Julinho Fuzari (Cidadania) reafirmou contrariedade à fala de Watanabe. “Antes da posição da Câmara, tem um ofício de minha autoria, solicitando à presidência, como instituição, para nos manifestar publicamente e deixar claro que é uma fala unilateral de um parlamentar, e não um pensamento da maioria dos vereadores que compõem essa legislatura”, frisou.
A moção de apoio ao papa Francisco, levantada pelos vereadores Ananias Andrade e Ana do Carmo (ambos do PT), foi aprovada por 22 votos, com quatro ausentes e uma abstenção, por parte do próprio Watanabe.
LEIA MAIS: Comissão Especial começa a investigar compras da gestão Orlando Morando
Após repercussão negativa da fala, Watanabe decidiu se retratar e garantiu que fará esse gesto também na tribuna, durante a sessão da próxima quarta-feira (26). “Eu li aquele estudo faz tempo e não estou conseguindo encontrar, então quero me retratar daquela fala a respeito da pedofilia. Retiro o que foi dito, porque, apesar de ter muitos outros casos documentados e até pelo estudo que apontei, não é o caso agora. E o tom utilizado (na tribuna) talvez dê a entender que a afirmação foi para todos os padres e isso não corresponde com a verdade, até porque sou fruto da Igreja e meu alicerce veio dos padres”, justificou.
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.