Setecidades Titulo Mal de Hashimoto
Vizinhos da Braskem sofrem com barulho, poluição e mau cheiro

Moradores do Parque Capuava, na divisa de Sto.André com Mauá, relatam consequências na saúde devido à frequente exposição a produtos químico

Da Redação
13/03/2025 | 09:39
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FOTO: Denis Maciel/DGABC

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Problemas crônicos na região, como poluição, mau cheiro, barulho e doenças, ainda afetam os vizinhos da Braskem, empresa com quatro das 14 unidades localizadas no Polo Petroquímico. Os moradores do Parque Capuava, na divisa entre Santo André e Mauá, relatam as consequências à saúde e qualidade de vida devido à frequente exposição a produtos químicos nocivos. 

Os efeitos considerados mais graves são relacionados com registros de desenvolvimento de doenças e outros sintomas devido à poluição e ao forte cheiro. O aposentado Osmar Aparecido Morelli, 60 anos, viveu a vida toda na Rua Patagônia, endereço localizado em frente das unidades da Braskem, e apesar dos impactos na convivência, como barulho e fuligem que invadem diariamente a sua casa, a situação clínica da sua esposa, Genilza Maciel Da Silva Morelli, 58, foi a mais preocupante. 

“Ela desenvolveu problemas na tireoide devido à poluição, o médico afirmou na época que foi essa a causa. A recomendação foi que a gente se mudasse, porque vivendo aqui sempre estaremos expostos. Para driblar os problemas, fechei o teto do corredor do quintal para tentar diminuir o volume de poeira que entra em casa e deixo as portas fechadas por causa do barulho”, disse Osmar, que celebrou a chuva registrada no fim da tarde de da útilma quarta-feira (12), pois, “ajuda na qualidade do ar”. 

A dona de casa, Sandra Gonçalves, 48, sofre com constantes dores de cabeça e sinusite, provocadas pelo mau cheiro e pela poluição oriunda do Polo Petroquímico. “Há anos é o mesmo ciclo, vou ao hospital, o médico receita os remédios para ajudar a aliviar os sintomas, fico melhor e depois começa de novo. No calor, é um cheiro insuportável de gás, no outono e inverno, sobe um cheiro de enxofre”, revelou. Sandra, que mora com o marido e os dois filhos, pretende se mudar para o município de Extrema, em Minas Gerais. “Como fico em casa, sou a que mais sofro. Estamos só esperando meu marido se aposentar para sair daqui”, revelou. 

Em 2018, o Diário mostrou que conjunto de estudos, realizado pela FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) e FMUSP (Faculdade de Medicina da USP), a pedido do MP (Ministério Público) de Santo André, indicou que a poluição registrada no entorno do Polo Petroquímico de Capuava potencializa o desenvolvimento de doenças, entre elas o mal de Hashimoto, problema na tireoide.

OUTROS PROBLEMAS

A gestora do lar Izaura Ramos Souza, 75, moradora há mais de 50 anos do local, denuncia que nas últimas semanas o cheiro de gás está mais forte que o ‘normal’, fator que tem provocado mal-estar entre os familiares. “O cheiro tornou-se insuportável, parece que deixamos o gás ligado em casa. Sem contar a limpeza dos móveis, que é uma tarefa constante, pois o pó preto acumula praticamente toda hora na superfície dos objetos. Independente de quantas vezes eu limpe, o pano sempre sai preto”, lamentou. 

O forte cheiro também incomoda o jardineiro Wilson Silva de Sousa, 40, que vive há 10 anos no Parque Capuava. A emissão de gases pressurizados faz com que os vidros da janela da sua casa se movam de maneira instável. “Depois que me mudei para cá, comecei a ter crises de rinite. E o ambiente fica muito desconfortável por causa desse movimento constante e instável nas janelas que ocorre por causa do deslocamento dos gases”, afirmou.

A aposentada Sandra Freitas, 78, vive em frente às indústrias da Braskem e sofre com os mesmos problemas, forte cheiro, poluição e barulho. A idosa, que trabalhou por 14 anos na empresa petroquímica por meio de empresas terceirizadas na área da limpeza, contou que foi diagnosticada com pneumonia semana passada devido à fumaça. “A fumaça aqui fede, é complicado. Você coloca roupa no varal e ela fica toda amarela”.

O filho de Sandra, o operador de máquinas Cláudio Freitas Barbosa, 47, pontuou ainda a falta de zeladoria e manutenção no Polo Petroquímico, fato que tem contribuído para proliferação de insetos pela rua, além de possíveis focos de dengue. “Ultimamente, o maior problema tem sido o foco constante de proliferação do Aedes aegypti, o que aumenta a preocupação com a saúde da comunidade”, completou. 

Questionada, a Braskem não respondeu até o fechamento desta edição.


MULTAS

Nos últimos anos, a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) tem multado as indústrias localizadas no Polo Petroquímico de Capuava por poluição, forte odor, entre outras violações ambientais. Em 2021, o órgão estadual emitiu duas multas para a Braskem, totalizando R$ 581 mil, pela emissão de substâncias odoríferas químicas na atmosfera, provenientes de suas instalações, perceptíveis fora dos limites de sua propriedade, atingindo diversos bairros da região.

Em 2024, a Cetesb aplicou multa de R$ 282.800 à Recap (Refinaria de Capuava, da Petrobras), localizada no complexo industrial, devido à precipitação de um pó branco na região ocorrido no dia 25 de maio. A companhia não informou o total de infrações emitidas no ano passado.


Documentário relata desastre em Maceió

A saudade, por onde quer que olhe, passou a estar nas palavras e também no silêncio do vendedor de churros Valdemir dos Santos, de 54 anos. O maceioense, morador do bairro do Flexal de Cima, que sofre com isolamento socioeconômico pela desocupação causada pelo desastre da Braskem, tem a casa e a vida com rachaduras desde 2018. 

Histórias como a de Valdemir, que permanecem em suas residências e vítimas do desastre causado pela extração de sal-gema pela mineradora em Maceió, têm destaque no filme Ainda Há Moradores Aqui, de 42 minutos. A estimativa é que o desastre ambiental tenha afetado diretamente 15 mil residências e 60 mil pessoas da região devido ao afundamento do solo provocado pela atividade da petroquímica. Cinco bairros foram evacuados por causa da tragédia: Mutange, Bebedouro, Pinheiro, Bom Parto e Farol.

O documentário foi lançado em fevereiro no Teatro Deodoro, em Maceió, capital de Alagoas. Um debate com moradores de áreas atingidas sucedeu a exibição. O filme tem a direção de Tiago Rodrigues. Ele avalia que a maior parte dos brasileiros desconhece a gravidade, as causas e consequências do que ele chama de “crime”.

Para evitar que o desastre seja esquecido, ele entende que o filme pode contribuir com a memória do País. “Dar rosto e voz às vítimas desse crime perpetrado por uma grande mineradora”, afirmou. (da ABr)




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