Durante passagem pelo Brasil na turnê intitulada Voodoo Lounge, em 1995, grupo negociou com a prefeitura o uso do espaço, mas acabou desistindo
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Foi por muito pouco que a lendária banda britânica The Rolling Stones não marcou seu nome na história da região. Durante passagem pelo Brasil na turnê intitulada Voodoo Lounge, há 30 anos, o grupo planejava a gravação de um clipe na vila inglesa de Paranapiacaba, um dos principais pontos turísticos de Santo André e do Grande ABC. No dia 22 de janeiro de 1995, o Diário circulou uma notícia com o título ‘Stones devem gravar clipe em Paranapiacaba’, que previa a visita do banda ao local. A empolgação gerada, porém, acabou indo contra a possível gravação.
A produção da banda visitou duas vezes a vila ferroviária em busca de uma locação. Foi escolhido então um conjunto de barracões, onde ficam guardadas peças do sistema de cabos de aço e locobreques do século passado, conhecido como funicular. Segundo informações divulgadas naquele tempo, viriam cerca de 600 figurantes para a gravação. Local foi escolhido por reproduzir o clima de cidades inglesas do século passado, incluindo a neblina, ainda um traço marcante da vila. Na época, funcionários da Rede Ferroviária Federal estimaram que as gravações durariam mais de um dia.
No meio da turnê intitulada Voodoo Lounge, os Rolling Stones estavam gravando cenas de videoclipes por todos os lugares que passavam, sendo o responsável pela equipe o diretor-geral da tour, Stevie Howard. Naquele momento, a pacata Paranapiacaba tinha dias agitados com o rumor, sendo assunto principal em qualquer roda de conversa. Tinha gente planejando formas para poder acompanhar tudo de perto. “Pode ter certeza de que eu vou ficar doente”, brincou Sérgio Silva, na época com 21 anos, sobre fugir do trabalho. “Tem que ter uma forma de conseguir um autógrafo”, esperava Tatiana Mendes, que tinha 15 anos.
Apesar de todos os rumores, apenas uma pessoa da cidade esteve realmente próxima de conhecer Mick Jagger, Keith Richards, Ron Wood e Charlie Watts. A mineira Zilda Maria Bergamini, dona do popular Bar da Zilda, ainda em funcionamento na parte baixa da vila, estava cotada para ser a cozinheira da equipe durante sua estadia no distrito. O produtor que visitou Paranapiacaba em dezembro de 1994 foi apresentado a Zilda por um funcionário da Rede Ferroviária, com a garantia de que a comida dela era a melhor da vila.
Os membros da equipe de filmagem pediram que fosse providenciada comida brasileira durante as gravações. Zilda sugeriu um prato típico, para ser servido em recipientes térmicos, tipo marmitex: frango frito, farofa, arroz, feijão e batata frita. Seriam 50 refeições, provavelmente servidas em uma chácara que pertence a Zilda. A comerciante pretendia cobrar dos Stones o mesmo preço que cobrava de seus clientes de Paranapiacaba: R$ 4 por marmita. “É o preço certo”, afirmou Zilda ao Diário, na época.
MELOU
Após 30 anos do convite para servir os Rolling Stones, Zilda Maria Bergamini deu novo depoimento ao jornal. “Era muito bom naquela época, a gente trabalhava feliz, vinham muitos artistas fazer videoclipes aqui”, comentou, na semana passada.
Ela disse não se recordar se a gravação de fato ocorreu dias depois, mas segundo apuração do Diário, a banda se assustou com a repercussão do fato e desistiu da gravação para evitar tumultos.
A versão foi confirmada pela própria Prefeitura, que também revelou que o grupo britânico de fato esteve próximo de ter um videoclipe gravado na região. Segundo o Paço, existiram consultas da possibilidade de filmar imagens para serem utilizadas pela banda. “Nesta época, a administração chegou a autorizar a filmagem. Do outro lado, a banda queria filmar algo mais intimista. Porém, a notícia se espalhou entre os fãs e, temendo um tumulto generalizado, resolveram desistir”, apontou o Paço.
Assim como a administração municipal, o historiador e responsável pela página de Memória do Diário, Ademir Medici, também garantiu que a gravação não ocorreu.
“O Diário produziu matérias diariamente falando da possibilidade da gravação. Enviou até dois repórteres a Paranapiacaba, além do repórter fotográfico. Atraiu a mídia de São Paulo, inclusive a Rede Globo. Muita propaganda e o patrimônio histórico impediram a gravação”, explicou Ademir Medici.
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