Virtual vice-prefeito da chapa de reeleição de Aidan Ravin (PTB), o presidente do diretório municipal do PSDB de Santo André, Ricardo Torres, não mora na cidade. Ele reside com sua mulher, Luciana Mares Torres, no Itaim Bibi, em São Paulo. A situação deve complicar o registro de candidatura da dobrada, caso sofra questionamento na Justiça Eleitoral.

Caso semelhante aconteceu em 2000 com Celso Russomanno (hoje PRB, à época PP). Ele era candidato a prefeito de Santo André, mas teve o registro indeferido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), após o pleito, por morar na Capital. Perdeu a eleição no primeiro turno, mas se tivesse ganhado não poderia assumir.

A Lei Eleitoral (9.504/97) prevê que os concorrentes tenham domicílio eleitoral no município no mínimo um ano antes da eleição. A LOM (Lei Orgânica do Município) também faz essa exigência. Há uma corrente jurídica que defende ‘domicílio afetivo', no qual a cidade em que o título de eleitor está oficializado não é necessariamente o local de residência, e sim onde a pessoa tem vínculos políticos e sociais. Entretanto, corre-se risco de sofrer processo e a Justiça condenar o tucano. E indeferido o pedido, toda a chapa é impugnada. Assim, a reeleição de Aidan estaria vulnerável.

A equipe do Diário esteve ontem à noite no prédio onde reside Ricardo Torres. Dois porteiros avisaram que ele não estava, mas confirmaram que é morador do apartamento. Inclusive deram detalhes da vida social do tucano. No Facebook, a mulher do dirigente partidário informa que vive em São Paulo (veja fac símile nesta página). Na sua página na mesma rede social, no entanto, ele diz que vive em Santo André. Convidados de seu casamento, em 2011, disseram que os presentes comprados pela internet eram encaminhados para o endereço do Itaim Bibi.

Outras evidências de que o futuro candidato a vice é ‘forasteiro' são as informações passadas pelos próprios familiares. A reportagem telefonou para a casa dos pais de Ricardo Torres, no bairro Paraíso, em Santo André, em duas oportunidades: na quinta-feira e ontem. Em ambas seu tio José atendeu e disse que ele não mora mais lá, porque se mudou para a Capital. Frisou ainda que o tucano vai corriqueiramente ao local, pois montou um escritório político.

Ricardo desqualificou o parente, ao dizer que ele é "senil" e toma remédio controlado. Frisou que o imóvel de São Paulo é "funcional", que apenas "eventualmente" o utiliza, mas mora nos fundos da casa dos pais, no bairro Paraíso. Sobre o perfil de sua mulher no Facebook, afirmou que ela advoga na Capital e deve ter colocado para referência de seu trabalho.

Para Ricardo, a discussão de morar em outra cidade é "banal". "Porque sou nascido, criado e sempre trabalhei em Santo André. Passei mais tempo no apartamento quando estudei na PUC e trabalhei com Bruno Covas na Assembleia e na Secretaria (estadual do Meio Ambiente). Não tenho problema nenhum em provar isso judicialmente. Inventaram isso para desestabilizar (a entrada na chapa), porque minha vida é limpa", justificou.

Definido - Em evento ontem à noite em Mauá, o coordenador regional do PSDB, deputado federal William Dib, disse que já está acordado com o grupo governista que o vice da chapa de Aidan Ravin será um tucano e que tem "a impressão" de que será Ricardo Torres. O anúncio oficial deve ocorrer ainda nesta semana.

O cuidado dos tucanos é para não irritar ainda mais a vice-prefeita, Dinah Zekcer (PTB), a qual soube pelo Diário, na sexta-feira, que seria preterida. Aidan não havia avisado a correligionária da mudança na chapa. Ela esbravejou e conseguiu adiar a composição com o tucano.(Colaboraram Fábio Martins e Raphael Rocha)