Com o título Urbano Urbanidade Humanidade, duas mostras em Mauá trazem composições em arte postal de 33 artistas do Grande ABC (no Teatro Municipal) e cerca de outros 200 trabalhos (na Biblioteca Cecília Meireles) criados por alunos de 1ª a 4ª série da Escola Estadual Professora Iracema de Barros Bertolaso, no Jardim Haydee. Arte postal é a modalidade em que trabalhos são trocados por artistas via correio. Ambas exposições têm entrada franca.

Há três anos, a arte-educadora Cecília Camargo, coordenadora pedagógica da escola mauaense, desenvolve com os alunos trabalhos de arte postal. Em 2000, tendo como tema os 500 anos do Descobrimento do Brasil, mostrou os resultados no Anfiteatro Vinicius de Moraes e na escola. No ano passado, tratou da temática Diversidade Cultural e exibiu as composições das crianças apenas na escola.

“Esse projeto de arte postal é riquíssimo, pois tem muitas facetas. Falando de disciplinas, trabalhamos da matemática (que aparece no formato dos cartões e na disposição dos desenhos sobre o suporte) ao português, presente no próprio endereçamento das cartas”, afirma Cecília.

No caso dessas exposições, a arte postal é readequada. Originalmente, ela é trocada entre artistas. No projeto, os alunos enviaram as cartas para a biblioteca, e os artistas, para o teatro. “Alguns alunos que não conheciam o serviço de correios. Eles sabiam da existência dos carteiros, mas não da instituição”, diz a coordenadora pedagógica.

A temática escolhida fez com que as crianças mostrassem como enxergam a cidade de Mauá, e o que dela esperam. Em um dos trabalhos, a Mauá de antigamente é revelada repleta de árvores. O município de hoje foi retratado sem nenhuma árvore e, para o futuro, o desejo da criança é o de uma Mauá que mescla presente e passado, quer dizer, urbanizada, mas com árvores.

As crianças, com idades de 7 a 12 anos, algumas portadoras de deficiências (auditiva e mental), também são levadas à biblioteca e ao teatro para ver as exposições. “Mostramos para elas esses espaços da cidade dedicados à cultura. Outro ponto é que deixamos claro que elas podem produzir arte, basta querer”, afirma Cecília.

O rótulo arte postal, ou mail-art, surgiu nos Estados Unidos nos anos 50, com Ray Johnson. No início, eram simples cartas ou cartões-postais que traziam textos e interferências como desenhos e colagens, presentes até nos envelopes.

A linguagem ganhou expressividade nos anos 60, mas o auge foi nos 70, quando surgiram até selos e carimbos personalizados. Hoje, em tempos de internet, quando as pessoas se comunicam por e-mail, a arte postal é pouco comum.

O italiano Gugliemo Achille Cavellini é considerado o papa do gênero. No Brasil, Hudinilson Jr. é um dos nomes de destaque na linguagem. Na região, entre 1986 e 1999, Santo André abrigou mostras internacionais de arte postal. Este ano, no saguão do Teatro Municipal de Santo André, o Movimento Artistas Cidadãos também realizou uma mostra sobre o assunto. Em 1981, na 16ª Bienal Internacional de São Paulo, a arte postal ganhou até sala especial.