Para cientista político, as eleições mostraram surgimento de candidatos de direita radicais
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O resultado final das eleições deste ano mostram um novo cenário político no Grande ABC, com maior distribuição de Prefeituras entre os partidos, mas com a maioria da população comandada por legendas de centro e direita a partir de 2025.
Se no pleito de 2020 o PSDB saiu das urnas como a maior força política da região ao reeleger os prefeitos de Santo André, Paulo Serra; de São Bernardo, Orlando Morando; e de São Caetano, José Auricchio (que migrou para o PSD), neste ano o partido venceu apenas em uma cidade. A partir de 2025, o tucano Gilvan Junior assumirá o Executivo de Santo André.
São Bernardo passou para as mãos do Podemos, onde o vitorioso no último dia 27 foi Marcelo Lima. Já em São Caetano, Tite Campanella, do PL, foi eleito prefeito. Dessa forma, a concentração de forças do PSDB e PT – que elegeu prefeitos em Mauá e Diadema – em 2020, foi pulverizada nas eleições deste ano entre seis partidos.
Com as vitórias de Marcelo e Gilvan, as duas maiores populações do Grande ABC serão comandadas pela direita e centro-direita, tendo em vista que São Bernardo tem, segundo estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 840.499 habitantes e Santo André, 778.711.
O PL, de direita, terá duas cidades sob sua administração. Além de São Caetano, em Ribeirão Pires Guto Volpi foi reeleito. Com isso, os liberais vão comandar, juntos, uma população estimada em 290.986 pessoas.
A esquerda, que também conta com dois municípios sob seu comando, Mauá e Rio Grande da Serra, terão sob sua gestão 474.697 habitantes. Em Mauá, o petista Marcelo Oliveira foi reeleito e em Rio Grande, Akira Auriani, do PSB, saiu vitorioso das urnas.
O PT, que em 2020 elegeu dois prefeitos, no pleito deste ano só reelegeu Marcelo Oliveira. Em Diadema, o prefeito José de Filippi perdeu para o engenheiro Taka Yamauchi, do MDB, que passará a administrar, em 2025, uma cidade com população estimada em 404.118 habitantes.
Em relação à composição da Câmaras, o PL saiu das eleições como a maior força política no Grande ABC, ao conquistar 17 cadeiras no dia 6 de outubro, contra nove em 2020. Na mesma base comparativa, o PSDB perdeu 20 vereadores, caindo de 26 para seis. O PT, com 16 cadeiras, e PSD, com 13, figuram entre as três maiores bancadas da região.
FRAGMENTAÇÃO
Segundo o cientista político e professor de Políticas Públicas da Universidade Federal do ABC, Ivan Filipe de Almeida Lopes Fernandes, houve uma fragmentação da direita em diversos projetos, com consolidação, sobretudo do centro-direita, em decorrência do enfraquecimento do bolsonarismo como projeto político da família Bolsonaro.
“Entretanto, o bolsonarismo como ideologia e forma de ver a política mostrou força. Se a gente for pensar na figura de Pablo Marçal (PRTB), a eleição na Prefeitura de Guarulhos (Lucas Sanches/PL) e outras figuras em São Paulo, como o governador Tarcísio (de Freitas/Republicanos) e em outros Estados, há uma demonstração da força do tipo político antissistema. Você tem o surgimento de lideranças da direita radicais, que se contrapõem e vão disputar com Bolsonaro a hegemonia sobre esse espectro político, o que ajuda a explicar essa fragmentação”, pontuou Fernandes.
Para o professor, em relação à esquerda, é necessária modernização e reestruturação do espectro político, a fim de que em médio prazo consiga ter bons resultados eleitorais, independentemente da figura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Eleição trouxe bolsonarismo sem Bolsonaro, diz especialista
As eleições municipais mostraram um cenário diferente do que os cronistas políticos preconizaram, com polarização entre os pró-Lula (PT) e os pró-Bolsonaro (PL). Segundo Ivan Filipe de Almeida Lopes Fernandes, professor de Políticas Públicas da Universidade Federal do ABC, diferentemente do que se prega, as eleições municipais não são uma prévia para as nacionais. Segundo o especialista, neste ano o bolsonarismo se mostrou maior que o ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Esse resultado não é inesperado. O surpreendente foi o surgimento de uma nova direita radical. Um bolsonarismo sem Jair Bolsonaro. Havia uma interpretação por parte dos cronistas políticos, de uma análise mais conjuntural da política, que o Bolsonaro exercia uma liderança pela sua posição carismática no centro desse espectro político, mas (o pleito) mostrou que a liderança dele é muito frágil. Bolsonaro foi um dos perdedores destas eleições. Saiu enfraquecido e isso mostra a pulverização da direita”, destacou.
ESQUERDA
Segundo Ivan Filipe, se para a esquerda o pleito de 2024 não teve bom resultado, também não foi muito pífio, sendo ligeiramente superior às eleições de 2020. O docente ressaltou que a esquerda tem dificuldades de se reencontrar nas eleições subnacionais, porque esse espectro político continua se organizando em volta da figura do presidente Lula.
“A esquerda continua sendo muito forte na eleição presidencial, sobretudo por causa do presidente Lula e da liderança que exerce. Porém, não vai bem nas eleições para governador, nem nas prefeituras. Lula continua sendo a maior liderança de esquerda. Ninguém despontou dentro destas eleições municipais como potencial alternativa, ou uma nova figura da esquerda fora do controle exercido pelo lulopetismo.”
Para o cientista político, até hoje a esquerda não conseguiu se recuperar do grande tombo que tomou na política brasileira a partir de 2016, e as dificuldades que enfrenta nas eleições municipais não são apenas uma questão do fortalecimento da direita.
“O PT e o Lula exercem uma hegemonia sobre o campo ideológico, fazendo com que o partido ainda não tenha conseguido se atualizar para a nova realidade do trabalho. Para as mudanças de comportamento ocorridas pela revolução religiosa que houve no Brasil, da expansão das igrejas pentecostais, da expansão da abordagem ao trabalho mais voltado ao empreendedorismo, no qual o Estado é visto menos como instrumento de construção de justiça social e mais como um instrumento que atrapalha o dia a dia do indivíduo”, destacou.
NÚMEROS
Na esfera nacional, o PT elegeu 252 prefeitos neste ano. Em 2020, havia eleito 183. Os petistas conseguiram emplacar apenas um chefe de Executivo de Capital, com Evandro Leitão em Fortaleza, Ceará. No pleito anterior, a sigla do presidente Lula não havia vencido em nenhuma Prefeitura de Capital.
Já o PL, de Jair Bolsonaro, elegeu 516 prefeitos nas eleições municipais deste ano, e terá quatro Capitais sob seu comando a partir de 2025: Rio Branco, no Acre; Aracaju, em Sergipe; Maceió, em Alagoas; e Cuiabá, no Mato Grosso.
“Hoje a esquerda está muito presa à figura do Lula. É pouco esperado que nas próximas eleições tenham resultados tão bons quanto tiveram no passado sem a presença do atual presidente. É um ponto que se espera que seja discutido dentro da esquerda.”
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