Na virada do século XIX para o XX, Santos era uma cidade portuária que crescia com a exportação do café, enquanto as demais da faixa litorânea do Estado de São Paulo eram pouco mais do que vilas, exceto São Sebastião. Essas paisagens, há muito transformadas, são temas de 90 telas em óleo sobre tela da exposição Pintores do Litoral Paulista, que abre quinta-feira, às 20h30, para convidados, e a partir de sexta-feira para o público, na Sociarte (Sociedade dos Amigos da Arte), em São Paulo (av. Dr. Arnaldo, 1.324, Metrô Sumaré. Tel.: 3864-3324). A entrada é franca de terça a domingo, das 12h às 19h, até 11 de maio.

É como abrir uma janela de frente para o mar em pleno centro paulistano. As telas pertencem a coleções particulares de associados da Sociarte e são sobretudo figurativas, com temas como marinhas e paisagens. Algumas obras são contemporâneas, como as de Anita Malfatti e Mário Zanini. Para quem costuma passar fins de semana na Baixada Santista ou nas praias do Litoral Norte, a exposição é uma boa oportunidade para observar as transformações ocorridas nos cenários e nos costumes.

O modo de vida fica retratado nas roupas, nas construções, nos meios de transporte e nos hábitos dos caiçaras (moradores do litoral). Algumas paisagens nem são possíveis de serem encontradas tal como foram pintadas, como uma vista da baixada do alto da Serra do Mar, retratada em 1925 por Paulo Vergueiro Lopes de Leão sem o aglomerado rodoviário, urbano e industrial de hoje.

Cenários de Santos, São Vicente e Guarujá são maioria. Do Litoral Norte, São Sebastião aparece em algumas obras, enquanto Ilhabela e Ubatuba, muito freqüentadas pelos veranistas da atualidade, têm poucas paisagens representadas. Uma tela de Aldo Bonadei, em início de carreira, e outra de Nicola Petti, são as duas paisagens de Ubatuba na mostra.

Os destaques da mostra são as telas de Benedito Calixto, pintor natural de Itanhaém que se dedicou a pintar cenários de Santos e região. Do porto ao centro da cidade, das praias às vilas de caiçaras, são múltiplos os cenários santistas que passaram pela paleta do artista. O céu azul, o verde da Mata Atlântica e o tom ocre das areias são cores que sobressaem em suas telas, que aproveitam as intensidades da luz do litoral, inclusive sombras, evitando o uso da cor preta como os impressionistas franceses.

Contemporâneo de Calixto, Pedro Alexandrino, de formação acadêmica e pintor de naturezas-mortas raramente dedicado a paisagens, rendeu-se a cenários do Guarujá. Oscar Pereira da Silva, da mesma época, teve como seus temas constantes ao visitar o litoral pescadores, praias e a bica de São Vicente.

Casebres, barcos e jovens brincando nas pedras são os motivos das telas do italiano Antonio Ferrigno. Outro italiano, Antonio Rocco, que chegou a São Paulo após a Primeira Guerra, retratou costumes do litoral, detalhes do porto de Santos e cenários como a simpática Ponte Pênsil, em São Vicente.

Outros que desceram a Serra do Mar e têm obras na mostra são Lucilia Fraga, João Dutra, Adrian Van Emelen, Jorge de Mendonça, Emigdio de Sousa (aluno e colaborador de Benedito Calixto), Felisberto Ranzini (arquiteto de Ramos de Azevedo), Renée Lefèvre (estudiosa do barroco brasileiro que documentou antigos edifícios e ruínas do litoral), os paisagistas Edgard Oehlmeyer e Arlindo Castellani, os retratistas do porto Durval Pereira e Silvio Pinto, além de Aldo Cardarelli, Clóvis Graciano, Antonio Carpentieri, Innocêncio Borghese e Renzo Gori.