‘Diário’ flagrou ao menos 20 pessoas ‘internadas’ em macas espalhadas pelo Hospital Municipal de Diadema; prefeito vai investir R$ 1 milhão em pintura
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Macas com pacientes nos corredores: esta é atual realidade do Hospital Municipal de Diadema, no bairro Piraporinha. “Se morrer é mais um”, diz Gilvania Cavalcanti da Silva, filha de uma idosa internada há mais de uma semana.
Enquanto pacientes clamam por atendimento diante da falta de leitos e poucos médicos, a gestão do prefeito José de Filippi Júnior (PT) anunciou no início da semana a pintura externa do complexo hospitalar ao custo superior a R$ 1 milhão. Desde o fim de 2023 até meados de maio deste ano, a Prefeitura gastou valor semelhante para adequações internas.
Na noite fria da última quarta-feira, vídeos e fotos foram enviados à redação do Diário em um apelo de pacientes em busca de ajuda. “A enfermeira foi super grossa e ignorante”, declarou uma paciente, em condição de anonimato, à reportagem. Ela explicou que, depois de cinco horas, desistiu de ser atendida e foi embora.
Ontem, equipe de reportagem flagrou, em dois corredores do Hospital Dra. Zilda Arns Neummann, conhecido como Hospital Piraporinha. ao menos 20 pacientes em macas. Na enfermaria, superlotação. Camas ficavam poucos centímetros umas das outras.
Na ala de emergência, enfermeiros entravam e saiam a todo instante. Nos contatos entre médicos e pacientes, o uso de máscaras e luvas por parte dos profissionais não era notado. Nesta sala está Lúcia Maria Cavalcanti, 69 anos. Sem muitas informações sobre o diagnóstico da mãe e nervosa com a situação, Gilvania afirmou que a falta de cuidados poderia agravar a situação dos pacientes: “a Covid não acabou”
Gilvania ainda relatou ao Diário que, em visita à mãe, quando ainda estava na enfermaria, uma auxiliar lhe fez a seguinte indagação: “Nossa, o que aconteceu aqui? Está vazio”. Na resposta, afirmou: “Graças a Deus, todos tiveram alta”. Na réplica, a enfermeira discorreu: “A morte é cega”, ao sugerir que todos ali vieram a óbito diante da precariedade no atendimento.
A pintura da fachada externa do prédio – que, em breve, será devolvido ao proprietário, o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), quando o novo hospital prometido por Filippi sair do papel – é uma forma de o petista ‘maquiar’ problemas.
Para Eduardo Minas (Progressistas), vereador de oposição, o atual prefeito – que exerce o quarto mandato e foi secretário na gestão de José Augusto (de 1989 a 1992) – está há pelo menos 20 anos na linha de frente da cidade e nunca fez um hospital, além de aplicar mal os recursos. “Diadema não atende o básico. Gasta-se pouco mais de R$ 2 milhões por dia na Saúde. Não falta dinheiro, falta é gestão”, disse.
O governo Filippi se manifestou e afirmou que, “de quarta-feira até 16h de ontem, 1.006 pacientes foram atendidos no pronto-socorro do Hospital e realizadas 45 internações”. “O prédio inaugurado no anos 1970 não comporta mais o atendimento da população”, continuou. A Prefeitura negou falta de médicos e enfermeiros e afirmou que o uso de máscaras e luvas não é obrigatório.
A nota também faz referência à paciente citada na reportagem. “(Ela) encontra-se em sala de emergência sob vigilância permanente e continuação de investigação clínica.”
Prefeito desiste de férias após polêmica
José de Filippi Júnior (PT) desistiu de tirar 30 dias de férias para fazer política e cuidar de sua campanha à reeleição. O chefe do Executivo comunicou oficialmente à Câmara de Diadema ontem que abriu mão da ideia de se afastar. “Solicito as providências para cancelamento do descanso anual do exercício do cargo de prefeito no período entre os dias 5 de setembro e 4 de outubro”, trouxe trecho do ofício lido em plenário. “Filippi arregou”, disse Eduardo Minas (Progressistas), vereador de oposição que poderia ser beneficiado com o afastamento do titular do Paço.
O aviso de férias havia sido enviado à presidência do Legislativo na semana passada. Porém, após repercussão negativa e saia justa, restou a Filippi a opção de voltar atrás. Isso porque os próximos na linha sucessória recusaram-se a assumir o posto para não ter os registros de candidatura a vereador indeferidos. Patty Ferreira (PT) afirmou ao Diário que seguiria na função de “vice-prefeita”. Orlando Vitoriano (PT), presidente da Câmara, também se manifestou quando o pedido de férias chegou à Câmara. “Não posso”, disse, ao lembrar da legislação eleitoral.
A substituição do prefeito nos casos de ausência é obrigação e não opção. Com isso, circulava nos corredores da Câmara a informação de que Patty e Vitoriano apresentariam atestados médicos para afastamento de suas funções e, dessa forma, preservar os projetos políticos.
Com o movimento no tabuleiro de xadrez político, Eduardo Minas, primeiro vice-presidente da Câmara, poderia ficar apto a assumir o comando do Paço. Neste caso, seriam abertas as portas para o grupo opositor, liderado por Taka Yamauchi (MDB), ex-presidente da SPObras e principal adversário de Filippi, fazer uma devassa nos contratos da Prefeitura assinados pela atual gestão.
“Na semana passada eu já entendia como precoce qualquer possibilidade de a cidade ficar sem governabilidade. Eu, por estar ali na linha de sucessão, jamais permitiria um desgoverno”, declarou Minas ao término da sessão da Câmara.
Ainda ao Diário, o vereador afirmou que “a (atual) gestão é um trem desgovernado”. “O prefeito Filippi precisa rever sua equipe técnica. Após uma semana e diante de análise mais ajuizada, (prefeito e equipe) entenderam que eu estava na linha de sucessão.”
No entendimento do oposicionista, em meio ao risco de colocar um aliado de Taka no comando do Paço, o prefeito mudou de ideia. “Filippi arregou. Isso prova a total desgovernança e precariedade da gestão”, pontuou.
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