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Grande ABC tem apenas nove mulheres vereadoras

Número representa 6,33% das 142 cadeiras nas Câmaras da região; homens são 133

Luiza Feitosa
Especial para o Diário
10/03/2024 | 07:01
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Divulgação


 No Grande ABC, 52,4% da população é composta por mulheres. Entretanto, não existe um cenário parecido dentro das Câmaras Municipais da região. Do total de 142 vereadores eleitos nas sete cidades, apenas nove cadeiras são ocupadas por mulheres (6,33%). Já os homens, somam 133 vagas (93,66%).

Na eleição de 2020 em São Caetano foram eleitas três vereadoras: Bruna Biondi (Psol), Thai Spinello (Sem Partido) e Suely Nogueira (Podemos). Suely, no entanto, sofreu uma parada cardíaca e morreu em 2021, dando lugar a um suplente homem (Edison Parra). Em Ribeirão Pires, são duas mulheres no Legislativo: Márcia do Coletivo das Mulheres (PT) e Amanda Nabeshima (PRD). O mesmo cenário acontece em São Bernardo, também com duas vereadoras: Ana do Carmo (PT) e Ana Nice (PT). Já Santo André, Diadema e Rio Grande da Serra possuem apenas uma vereadora cada: Ana Veterinária (União Brasil), Lilian Cabrera (PT) e Leda Xavier (PRD), respectivamente. Mauá é a única cidade que não elegeu diretamente nenhuma mulher. Hoje, no entanto, Cida Maia (PT) exerce a função por 31 dias devido ao afastamento do vereador Geovane Corrêa (PT). 

Segundo a doutoranda pela UFABC (Universidade Federal do ABC) especializada nos temas participação e representação política, Angélica Fernandes, existem dois fenômenos que contribuem para esse quadro de baixa participação feminina na política. “Há uma sub-representação da mulher e uma super-representação do homem pelo modo que a sociedade visualiza a reprodução social da vida, na qual as mulheres possuem muito mais responsabilidades em casa e no cuidado com os filhos do que o homem. Por conta dessas preocupações, ela acaba tendo menos tempo para se engajar ativamente na política”, avalia. 

Pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística) em 2022 corrobora com essa análise. De acordo com o levantamento, em média, as mulheres dedicam 6,8 horas a mais do que os homens aos afazeres domésticos e/ou no cuidado de pessoas.

“As cidades perdem muito tendo poucas mulheres assumindo cargos de liderança. Por exemplo, metade da população não está representada no parlamento, espaço onde se faz discussão orçamentária, onde se discute políticas públicas para mudar a vida das pessoas. Desta forma, muitos temas importantes para as mulheres não estão na ordem do dia das câmaras”, reflete Angélica. 

Algumas vereadoras do Grande ABC contaram à reportagem do Diário que já tiveram dificuldades para aprovarem projetos e que também já foram subestimadas pelos próprios colegas de Legislativo. 

Para a doutoranda é possível transformar a política em um ambiente mais acolhedor para o sexo feminino. “Temos que ter políticas muito assertivas que possam fazer com que o espaço público seja menos hostil às mulheres. Também precisamos que haja maior pluralidade. Hoje, infelizmente, para uma mulher se sentar no Legislativo um homem tem que se levantar. É essencial que melhorem as condições para autonomia das mulheres”, aponta. 

A especialista conclui esperançosa. “Tivemos retrocesso no governo anterior, mas estamos retomando e esperamos ver mais mulheres na política e até, quem sabe, na Presidência.”

Apenas duas mulheres estão nos Executivos da região

De acordo com dados do TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral), das 645 Prefeituras do Estado de São Paulo, apenas 60 têm mulheres no comando. Também há 109 vices-prefeitas. E das sete Prefeituras do Grande ABC, somente Rio Grande da Serra e Diadema possuem mulheres no Poder Executivo. Em Rio Grande da Serra, a prefeita Penha Fumagalli (PSD), e em Diadema, a vice-prefeita Patty Ferreira (PT).

“Ainda vivemos em uma sociedade machista. É um desafio imenso comandar uma Prefeitura sendo apenas a segunda mulher prefeita da história da cidade”, observa Penha. 

Já Patty Ferreira conta que a trajetória para ela é ainda mais difícil por ser uma mulher negra. “Os preconceitos fazem com que as mulheres sejam vistas como menos capazes e menos adequadas para cargos de liderança. Não somos vistas da mesma forma que nossos colegas masculinos”. E complementa deixando um recado para as mulheres que almejam a vida política. “Acredite em si mesma, suas qualidades podem mudar significativamente a sua comunidade. Dedique-se, estude sobre a política”, conclui.

Penha também incentiva a participação das mulheres. “Lembre-se que você não está sozinha. Confie em si mesma, confie em seu potencial.”




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