Das 63 vitórias que conquistou na Fórmula 1, a de domingo, talvez, tenha sido a mais fácil da carreira de Michael Schumacher. Para comemorar os dez anos de sua primeira vitória, em Spa-Francorchamps no dia 30 de agosto de 1992, o alemão da Ferrari deu um passeio no mesmo circuito e ganhou o GP da Bélgica, 14ª etapa do Mundial. Em sua rotina de recordes, mais dois: seis vitórias em Spa (deixou Ayrton Senna para trás) e dez na temporada – nunca, na história, alguém havia vencido tantas corridas no mesmo campeonato.

A superioridade de Schumacher deu sono. Ele chegou a ter 25s8 de vantagem sobre seu companheiro Rubens Barrichello depois do segundo pit stop, quando tirou o pé do acelerador e passou a fazer voltas até 7s mais lentas do que as que vinha registrando, para receber a bandeirada apenas 1s9 à frente do brasileiro. Foi a sexta dobradinha da Ferrari no ano. “Àquela altura da corrida notamos que muitos motores estavam quebrando e não havia por que arriscar alguma coisa”, disse o alemão. “Meu carro esteve perfeito, é um carro que se comporta muito bem em pistas rápidas como esta.”

Schumacher começou a ganhar a corrida ao fazer a pole e ao escolher pneus mais macios para a corrida do que Barrichello, que apostava em temperaturas mais altas. Mas fez frio, a temperatura não passou dos 15ºC, e os pneus de Schumacher foram a escolha certa. Sua melhor volta na corrida, 1min47s176, foi 1s020 mais rápida que a de Barrichello. Da volta cinco à 11, Michael registrou sete melhores voltas consecutivas. “Não dava para acompanhar o ritmo dele”, afirmou Barrichello. “Minha escolha de pneus foi errada e eu não achei o acerto ideal para esta pista desde sexta-feira. No fim, a largada definiu meu resultado e não foi ruim porque aumentei em dois pontos minha vantagem sobre Montoya.”

Barrichello, de fato, largou bem e passou Kimi Raikkonen, da McLaren, na primeira curva. Com o segundo lugar, pulou para 51 pontos contra 44 de Juan Pablo Montoya, da Williams, terceiro colocado. O quarto foi David Coulthard, da McLaren, seguido por Ralf Schumacher, da Williams, e Eddie Irvine, da Jaguar. Raikkonen, que era o segundo no grid, estourou o motor a nove voltas do final. “Foi mais uma corrida de sonho. Não existem palavras para descrever nossa temporada”, disse Jean Todt, diretor da Ferrari.

O domínio de Schumacher foi tão claro em Spa que Barrichello sequer cogitou sugerir, pelo rádio, uma troca de posições, algo que o ajudaria na luta pelo vice-campeonato. “Seria pedir demais. Ele mereceu vencer domingo. Fez a pole, escolheu os pneus certos e depois de três voltas eu percebi que não seria possível andar no mesmo ritmo dele”, disse. Na F-1 de segunda-feira, a Ferrari só deixa migalhas para os outros.