Esportes Titulo
Navajas faz história longe do Brasil
Kati Dias
Do Diário do Grande ABC
27/01/2008 | 07:29
Compartilhar notícia


O controverso técnico Ricardo Navajas fez história, mas bem longe do Brasil. O ex-treinador do Suzano, equipe que ganhou o octacampeonato paulista e o tri na Superliga de Vôlei Masculino, ajudou a seleção da Venezuela a conquistar um feito inédito: a classificação à Olimpíada de Pequim, em agosto. Ao falar do país, Navajas exaltou a nação comandada pelo presidente Hugo Chávez. Para o técnico, porém, o que emperra o desenvolvimento das modalidades na Venezuela é a falta de conhecimento. No país, quem dá as cartas são os aliados de Hugo Chávez. Apesar do bom trabalho que é feito por lá, Navajas crê que ainda está longe da Seleção Brasileira. O técnico também cutucou as cidades que fazem dos Jogos Regionais e Abertos uma prioridade. “São competições que não servem para nada”, disse o Navajas, que pode assumir a diretoria de Esporte Amador do Corinthians. Confira alguns trechos da entrevista ao Diário.

DIÁRIO – Qual é o comprometimento do governo da Venezuela com o esporte?
RICARDO NAVAJAS – Os venezuelanos gostam muito do esporte. O mais popular é o beisebol. Tanto que um jogo entre os principais times locais pode levar 50 a 60 mil pessoas. O maior problema é que quem administra o esporte não entende do assunto. Lá estão os amigos dos amigos e isso gera muita burocracia.

DIÁRIO – O que falta para o vôlei da Venezuela evoluir?
NAVAJAS – Pessoas capacitadas para gerir o esporte. O vôlei brasileiro evoluiu porque foi e é administrado por quem entende. O Nuzman (Carlos Arthur, ex-presidente da Confederação Brasileira de Vôlei e atual presidente do Comitê Olímpico Brasileiro) implantou uma gestão profissional e trouxe quem de fato entende do negócio. Mas para o Brasil chegar a este patamar precisou de muito tempo. Espero que a Venezuela não demore tanto para atingir o topo.

DIÁRIO – Cuba se transformou em exemplo para o presidente Hugo Chávez. O esporte da Venezuela é parecido com o da ilha de Fidel Castro?
NAVAJAS – Nada a ver. Temos liberdade de ir e vir. Podemos treinar em qualquer lugar e não precisamos de autorização do governo para sair do país. Antes do Pan no Rio, por exemplo, viemos ao Brasil e disputamos alguns amistosos com times do Sul, como a Ulbra, o Bento Vôlei e o Fátima/UCS.

DIÁRIO – Você crê que a forma de dirigir uma equipe ajudou a seleção venezuelana a atingir o primeiro objetivo?
NAVAJAS – Sou disciplinador e o jogador tem de saber que para chegar a ser um Giba tem de treinar duas vezes por dia, com ou sem dor. Além disso, tem de ter sangue nos olhos, espírito vencedor. E a equipe da Venezuela tem. Eles eram indisciplinados taticamente, faziam o que queriam na quadra. Mas isso não é culpa deles, já que aprenderam a jogar de qualquer maneira.

DIÁRIO – A conquista do ouro nos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo (2003) ajudou a instalar a crise no vôlei venezuelano, já que os atletas adotaram o famoso ‘salto alto’. E a vaga olímpica, não vai aguçar o ego dos jogadores?
NAVAJAS – Não sei te dizer. Um ou outro usa a medalha no Pan de Santo Domingo como argumento de que são os melhores quando chamo a atenção. Mas sempre lembro que aquele ouro não quer dizer nada. A vitória no Pan não leva a lugar algum e não tem peso algum.

DIÁRIO – Você acredita que o trabalho feito na Venezuela pode valorizar o seu passe no Brasil?
NAVAJAS – Algumas pessoas não valorizam o meu trabalho, mas outras consideram este feito muito importante. Tanto que tem alguns clubes que estão interessados no meu trabalho como diretor de Esportes. Recebi algumas propostas e estou estudando. (Navajas foi convidado pelo Corinthians para dirigir o departamento de Esportes Amadores).

DIÁRIO – Você deixaria a seleção da Venezuela para aceitar o cargo?
NAVAJAS – Assinei em maio de 2007 com a federação venezuelana para levar o país aos Jogos de Pequim. Cumpri este objetivo. Agora, a nossa meta é a medalha olímpica.

DIÁRIO – Você ainda sonha em dirigir a Seleção Brasileira?
NAVAJAS – Todo técnico de alto rendimento sonha em ser técnico de seleção. Tenho orgulho de dizer que já alcancei este degrau. Já a equipe brasileira, bem, quem não gostaria de dirigir o melhor time do mundo? Mas sei que hoje, eles não precisam de mim.

DIÁRIO – Você tem outros objetivos?
NAVAJAS – Tenho a pretensão de um dia comandar uma secretaria de Esportes. Venho me preparado para a gestão esportiva e implantaria algumas mudanças na pasta que, um dia, eu venha administrar.

DIÁRIO – Dê um exemplo?
NAVAJAS – Acho um desperdício uma equipe de alto rendimento disputar os Jogos Abertos e Regionais.São competições que não servem para nada, não levam para lugar algum. Para mim, estes torneios seriam mais úteis se fossem disputados por atletas amadores apenas.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;