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Marta Suplicy 'light', mas ainda Marta
Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
22/06/2009 | 07:00
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A ex-ministra e ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy vive uma fase tranquila. Em suas próprias palavras, está num momento "light". Mas esse período "à vontade", "leve", "sem tensão", não evita que mantenha sua característica de frases polêmicas e de críticas aos adversários. Ela ainda é Marta.

Os principais alvos da petista são o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), virtual candidato tucano à presidência em 2010, e o prefeito paulistano, Gilberto Kassab (DEM), adversário na corrida pelo Paço da Capital no ano passado. Sobre Serra e PSDB, é taxativa: "São maus administradores." Quando analisa a gestão do democrata, é categórica: "Não faz nenhum enfrentamento." Em campanha declarada em prol da candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), à sucessão do presidente Lula, Marta afirma que tentará um cargo eletivo no ano que vem, mas ainda não decidiu se ao Senado ou à Câmara Federal. Ao mesmo tempo, diz não estar "nem aí" para sua candidatura.

"Não tenho de ter preocupação em ser conhecida", observa a famosa petista. Entretanto, ao contrário de Marta, Dilma precisa expor sua imagem ao eleitorado brasileiro. Essa é uma das missões da ex-prefeita, que terá o papel de disseminar "a fibra da nossa candidata".

Em entrevista exclusiva ao Diário, Marta Suplicy fala também dos desafios do País para os próximos anos, nos acordos políticos para garantir a continuidade do PT no governo federal e da receita para que seu partido conquiste pela primeira vez na história o comando do Palácio dos Bandeirantes em 2010.

DIÁRIO - Já decidiu se disputará a eleição do ano que vem?
MARTA SUPLICY - Vou disputar, só não sei para qual cargo: senadora ou deputada federal. Para o governo do Estado apoio o (deputado federal Antônio) Palocci (PT-SP). Vai depender da conjuntura, do partido e da candidatura majoritária (à presidência), que é a que estou mais interessada, pois a prioridade é a Dilma. Acho que nunca tive isso na vida, ter a oportunidade de escolher.

DIÁRIO - Mas essa indefinição é melhor ou pior?
MARTA - Não penso assim. Na verdade estou me sentindo tão light. Estou me dedicando a fazer a campanha da Dilma no Interior (de São Paulo). Tem certas coisas que uma mulher expõe melhor do que os homens. Estou me sentindo confortável em fazer isso. A maioria aos companheiros partidários falam mais em conjuntura econômica, projetos estruturantes, eu falo em continuação do projeto Lula por meio de uma mulher diferente como a Dilma. O presidente sabe que teve uma questão peculiar, de entender que é uma mulher com perfil totalmente diferente que pode fazer a diferença no Brasil de hoje. Ela tem uma história, lutou contra a ditadura, tem uma vida pessoal interessante, uma mulher que tem posição de luta, é de esquerda. E ao mesmo tempo é completamente diferente dele, porque é mulher, tem outra formação, outra cultura, outro preparo. Está preparada para o futuro, para o século 21. Porque daqui a 30 anos não estaremos mais trabalhamos do jeito que a gente trabalha. A Dilma tem a competência de vislumbrar esse novo rumo.

DIÁRIO - A sra. parece estar mais à vontade trabalhando em bastidores do que na linha de frente, como executora...
MARTA - Estou mais à vontade, não estou tensa. Não sou candidata, não estou sob pressão. Estou leve, não tenho greve para resolver, não tenho de solucionar o trânsito, não estou respondendo por um cargo. Estou do jeito que sou. Espero que isso dure até março, porque depois vai haver dedicação maior à política.

DIÁRIO - Como ‘vender' Dilma à população no pleito?
MARTA - Qualquer candidato teria o problema de comparação com Lula, que tem uma popularidade enorme. E é o mesmo problema que a oposição enfrenta. Se ela apoia o Lula, o eleitor vai dizer: ‘por que é que vou votar num grupo que apoia o Lula? Vou votar no candidato dele'. Se não apoia o Lula, não ganha a eleição. A posição da oposição é muito difícil. Uma mulher como a Dilma tem espertezas. Quando saiu do hospital e foi indagada sobre a peruca (a ministra passa por tratamento de um câncer linfático), ela disse: ‘uma peruquinha básica!'. Essa é a fibra da nossa candidata que tem de ser mostrada. Meu papel é disseminar isso. Tenho de mostrar outra Dilma que o Brasil pode ter como presidente, que é fantástica. Temos de chegar com uma competência dessas, mas com a sensibilidade para sofrimento, para dor, e a Dilma tem isso.

DIÁRIO - Esse esforço pessoal para eleger Dilma presidente pode atrapalhar sua candidatura?
MARTA - Não estou nem aí com a minha candidatura (risos). Não tenho de ter preocupação de ser conhecida. Tenho de decidir a que cargo concorrerei. A partir daí, vou para televisão e quem vota em mim vota e quem não vota, não vota. Mas se for ma governadora é diferente.

DIÁRIO - Para o governo do estado, o Lula já falou em Palocci, agora Zé Dirceu fala em apoiar o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE). O PT está sem rumo nesse momento?
MARTA - Não. Temos de aguardar o Palocci ser uma questão concreta. Depois temos de aguardar a posição pessoal dele e acatar a mudança de conjuntura. A candidatura do Ciro apareceu do nada. A gente está falando de um nome e esquecemos do partido PSB, que em São Paulo apoia o Serra. Como teremos candidato nessas condições? Se conseguir que o PSB seja enquadrado por uma candidatura da Dilma, agregando outras forças, acho que o PT pode até considerar. Mas me parece distante.

DIÁRIO - O que tem de ser feIto para ganhar o governo do Estado?
MARTA - Uma coisa que o Ciro faria bem (risos). Desconstruir o mito de bom gestor do PSDB, que é muito mau administrador. Se formos ver o transporte, não evoluiu do jeito que poderia. Na Habitação, com o poderio econômico do Estado não houve avanço. Em menos de dois anos o Serra teve três secretários de Educação. No desenvolvimento da indústria, não houve nenhuma ação contundente para incentivar a permanência o setor produtivo no Estado. O Rodoanel, uma bela proposta, só saiu do papel quando o governo federal entrou com recursos. Em São Paulo tem de fazer as melhorias.

DIÁRIO - Divulgar cargos e salários na internet tem de fazer?
MARTA - Não sou contra isso. Acho que saber quanto as pessoas ganham é um serviço público. No Senado seria melhor ainda.

DIÁRIO - O PMDB pode ser o grande fiel da balança, tanto na eleição de âmbito federal quanto a estadual?
MARTA - Pode. O peso do PMDB é fundamental. Temos de mantê-lo como aliado nacional. Já em São Paulo, é ruim não termos o PMDB. Aqui o PT é mais fechado e essa permanência de poder do PSDB, aliada à Prefeitura paulistana, coloca mais dificuldade ainda para termos esse partido conosco.

DIÁRIO - Qual sua análise do governo Kassab?
MARTA - Na primeira gestão Serra-Kassab (prefeito e vice da Capital, 2007- 2008), poderia ter organizado muita coisa, principalmente na área de transporte. E quando vejo o nada que foi feito e o trânsito que o cidadão enfrenta, fico muito triste. Fizemos corredor de ônibus, chegamos ao bilhete único e agora regredimos. Não há gestão, o trânsito não flui, a CET não conversa com a SP Trans e não há controle. É uma incompetência muito grande, porque há recurso. É um governo que não faz enfrentamento. Quando se faz corredor de ônibus, existe dificuldade. O comércio reclama, causa transtorno. E aí, para eles, é melhor não fazer.

DIÁRIO - E sobre a atual situação do Senado, que apresenta uma polêmica atrás da outra?
MARTA - Acho muito triste, porque vai criando um desapontamento da população em relação à instituição. Que é muito mais grave se fosse contra as pessoas. Hoje vemos os cidadãos desiludidos com a política, sentido-se impotentes, com raiva. As ações de transparência ajudam a diminuir os erros. A rotatividade de cargos importantes, como diretor-geral por exemplo, já evitaria a formação de relações escusas. Com mudanças podemos ter esperança de um Senado melhor.

DIÁRIO - A sra. teme a candidatura de Dilma fracasse e o adversário assuma Brasília?
MARTA - Tenho a percepção que o Brasil pode ir para trás se isso ocorrer. Se analisar o que o Serra discursa, é sempre a mesma coisa: vamos melhorar o que já existe. Como ele não fala. As diferenças de atuação do PT e do PSDB diante da crise também têm de ser mostrada. O Lula manteve os investimento do PAC, aumentou o número de beneficiados e o valor do bolsa-família, tirou o IPI dos carros e da linha branca de eletrodomésticos, aumentou a massa salarial por meio do aumento do salário mínimo e agora lançou o programa Minha Casa Minha Vida. O que o PSDB fez? Contingenciou o social e disse que continuou a aplicação dos recursos do Metrô. A redução do ICMS que lhe competia só ocorreu há pouco tempo. Foram duas propostas para enfrentar a crise muito claras.




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