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Morre o ex-deputado estadual Campos Machado, aos 84 anos

Advogado criminalista esteve na Assembleia Legislativa por nove mandatos consecutivos

Raphael Rocha
06/01/2024 | 09:02
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Claudinei Plaza


Deputado estadual por nove mandatos e uma das figuras mais representativas do PTB em São Paulo, o advogado criminalista Campos Machado morreu neste sábado, em decorrência de complicações do tratamento contra leucemia. Ele tinha 84 anos e estava havia quase um mês internado no hospital Sírio-Libanês, na Capital.

O velório será Assembleia Legislativa, a partir das 13h30 deste sábado. O sepultamento está agendado para as 10h de domingo (dia 7) no Cemitério Parque Morumby.

Natural do município de Cerqueira César, perto de Santa Cruz do Rio Pardo (a 292 quilômetros de distância da Capital), Antônio Carlos Campos Machado se formou em Direito pela Faculdade do Largo São Francisco, da USP, e depois se especializou em Direito Penal, área na qual atuou por duas décadas.

Em 1986, se candidatou e se elegeu pela primeira vez para a Assembleia Legislativa, ao receber 31.874 votos - ele aproveitou a exposição do bem-sucedido escritório de advocacia na Capital. Campos se reelegeu em 1990, 1994, 1998, 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018, sempre pelo PTB. Ele deixou o partido em 2021, depois que a sigla em âmbito nacional passou para as mãos do ex-deputado federal Roberto Jefferson e virou linha auxiliar do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL).

Em 2022, no Avante, Campos perdeu a tentativa de renovar seu mandato e deixou a Assembleia depois de três décadas. No ano passado, Campos se filiou ao PSD, partido cujo maior expoente é o secretário paulista de Governo, Gilberto Kassab. Ele também criou a SP Frente Cidadã, um movimento que buscava fomentar a geração de novos líderes políticos.

Em 1996, Campos se candidatou a prefeito de São Paulo. Recebeu 28.479 votos, ficando na sexta colocação - aquele pleito foi vencido por Celso Pitta, indicado de Paulo Maluf.

Por duas vezes Campos concorreu ao posto de vice-prefeito de São Paulo - ambas na chapa liderada pelo hoje vice-presidente da República, Geraldo Alckmin (PSB). Em 2000, a dupla ficou na terceira colocação - atrás de Marta Suplicy, a prefeita eleita à época pelo PT, e de Paulo Maluf. Em 2008, novamente Alckmin disputou a prefeitura paulistana com Campos de vice. Ainda no PSDB, Alckmin viu o então governador José Serra levar boa parte do tucanato para campanha do então prefeito Gilberto Kassab, que se reelegeu.

Campos tinha três filhos - Larissa, Marco Antônio e Antônio Carlos.

FRASES, LEALDADE E BRIGAS
Ao longo de sua trajetória política, Campos Machado se notabilizou por ser um político autêntico e com frases que viraram verdadeiros mantras por onde ele passava.

Uma das que ele mais repetia era “a lealdade é a cicatriz da alma de um político”. Foi com esse lema que Campos comprou uma das maiores brigas de sua carreira, a com o ex-governador João Doria (sem partido). Leal a Alckmin, Campos assumiu a frente das críticas quando Doria, ainda em 2017 e recém-eleito prefeito da Capital com a bênção de Alckmin, ensaiou ser candidato à Presidência da República, tentando passar rasteira no antigo padrinho político.

Doria não concluiu o plano de ser presidenciável, mas se elegeu governador em 2018 e Campos, na Assembleia, foi uma voz de oposição ao tucano.

No Grande ABC, Campos também protagonizou alguns embates e contabilizou triunfos eleitorais. Um dos mais icônicos foi com o prefeito de São Caetano, José Auricchio Júnior (PSDB). Auricchio foi eleito e reeleito prefeito de São Caetano em sua primeira passagem pelo PTB, dando continuidade a um legado petebista na cidade consolidado com o ex-prefeito Luiz Olinto Tortorello. Quando Auricchio deixou de ser prefeito, Campos teve influência direta em indicá-lo como secretário estadual do Esporte, Lazer e Juventude na gestão Alckmin.

Porém, Auricchio decidiu deixar o PTB para tentar retornar ao Palácio da Cerâmica em 2016 - migrou para o PSDB -, em um movimento sem aviso a Campos Machado, que nunca escondeu a frustração com o então aliado. Em fevereiro de 2016, em entrevista ao Diário, Campos fez mea culpa das brigas com o ex-prefeito de Santo André Aidan Ravin (morto em 2021) para criticar Auricchio. “O (ex-prefeito) de São Caetano foi altamente prestigiado pela direção do PTB. Pela primeira vez, São Caetano teve um secretário de Estado. Santo André não teve o que de São Caetano teve. Quem sabe eu tenha me equivocado na escolha.”

Outro episódio icônico de Campos com o Grande ABC envolveu São Bernardo. Em 2012, o vice-prefeito da cidade era Frank Aguiar. O cantor havia sido eleito em 2008 na chapa com Luiz Marinho (PT), mas, em 2012, anunciou que desistiria da política. Campos interveio, fez série de reuniões e convenceu o correligionário a mudar de ideia. Só que Marinho já havia dado início às tratativas para trocar o vice na campanha de reeleição - o ex-vereador Tunico Vieira (MDB) havia ganhado força nos bastidores. O poder de Campos junto a Marinho fez com que Frank seguisse como a dobrada do petista, que se reelegeu no primeiro turno naquela campanha.
 




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