Internacional Titulo
Entorpecente é vendido em toneladas no Afeganistao
Do Diário do Grande ABC
09/05/2000 | 11:39
Compartilhar notícia


Num longínquo recanto do interior do Afeganistao, a rotina dos traficantes chega a ser chocante para os padroes do Ocidente, envolvido numa campanha sem precedentes contra as drogas. Nestes locais, traficantes iranianos e paquistaneses compram o ópio (um alucinógeno à base de papoulas) nao em trouxinhas, mas em toneladas. A cena foi testemunhada numa pequena aldeia do deserto, na província de Helmad, ao Sul do Afeganistao, provavelmente o maior mercado de ópio no mundo.

Ao final de uma rota desgastante, no coraçao da província - controlada pelos talibas - que em 1999 produziu a metade das 4.600 toneladas de ópio produzidas no país, Sangin se parece com qualquer outra aldeia do deserto, tem constantemente um sol abrasador e uma brisa que mais lembra um bafo quente, levantando poeira por todos os lados, sujando as casas baixas que compoem o povoado.

Neste local, os estrangeiros, principalmente ocidentais, nao sao bem-vindos e devem circular acompanhados sempre dos talibas, que formam a milícia islâmica que tomou o poder em 80% do país, transformado em 1999 no principal fornecedor de ópio do mundo inteiro.

O ópio é a base da economia para os cerca de 200 comerciantes ``pashtu' da localidade. O produto é vendido na forma líquida ou sólida, na primeira etapa de uma longa viagem que, após processamento, vai transformá-lo em morfina e depois em heroína. Na outra ponta do processo, estao os ricos mercados consumidores do Ocidente, a Europa e EUA.

Sangin é líder na produçao de ópio na regiao que compreende três províncias do Sul do Afeganistao - Helmand, Kandahar e, em menor medida, Uruzgan - porque, à falta de uma rede bancária, os comerciantes de ópio da cidade conquistaram a exclusividade da compra criando uma hábil política de empréstimos sem juros aos agricultores antes da safra da papoula.

Mas os moradores dizem com orgulho que, acima de tudo, o privilégio é fruto da competência comercial e da paciência dos negociantes locais, eles sabem esperar os compradores, principalmente iranianos, além dos paquistaneses. Eles chegam em veículos com traçao nas quatro rodas para comprar entre 3 e 4 toneladas de ópio, após longas negociaçoes nas escuras tendas impregnadas pelo odor acre da droga, uma pasta de cor marrom escura, vendida em bolsas plásticas.

Ao contrário do que ocorre no Ocidente, em Sangin a violência nao entra. ``Os traficantes vêm ao povoado sem armas', afirma Haji Mira Jan, proprietário de várias tendas onde vende ópio há 16 anos. ``Suas escoltas armadas os esperam em algum lugar no deserto', afirma.

Segundo fontes especializadas, os comboios de traficantes estao sempre muito bem equipadas com armas pesadas, metralhadoras e às vezes até com sistemas antiáreos instalados sobre plataformas em caminhoes.

Mira Jan nao tem que enfrentar a polícia, nem disputar o ponto com grupos rivais, mas diz que o lucro é pequeno. Compra o quilo de ópio ao agricultor a dois milhoes afeganis (cerca de US$ 35) e o revende a 2.200 milhoes de afeganis, ou seja, ganha apenas US$ 3,5.

Ele sabe que os lucros aumentam mais à frente, na longa rede do tráfico. ``Nós nao temos muitos lucros, mas sabemos que o ópio gera para outras pessoas lucros de milhares de dólares', afirma.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;