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MIS exibe ciclo sobre arte contemporânea
Do Diário do Grande ABC
03/05/1999 | 14:56
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Tudo, ou quase tudo, o que você queria saber sobre arte contemporânea e tinha vergonha de perguntar está no ciclo "Evidência", que o Museu da Imagem e do Som (MIS) começa a exibir nesta terça-feira. A série, patrocinada pela Petrobrás com curadoria do realizador de vídeos Marcello Dantas, é apresentada desde o ano passado com grande sucesso no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio, e vai trazer este mês a Sao Paulo 13 vídeos com obras sobre artistas plásticos como Claes Oldenburg e David Hockney, cineastas como o inglês Peter Grenaway, diretores de teatro como Peter Brook, escritores (Paul Auster) e roqueiros (Lou Reed), entre outros grandes nomes.

O ciclo começa com três vídeos sobre artistas plásticos. "Um Retrato em Andamento", de Marion Cajori, foi realizado no ano passado e tem como objeto de estudo a obra de Chuck Close que trabalha com fotos Polaroid. No circuito desde 1969, o artista norte-americano é autor da mais divulgada fotografia do compositor, também americano, Philip Glass, um retrato do artista quando jovem reproduzido em série, numa busca de equivalência visual para a entao emergente música minimalista no mundo.

Gigantes - No programa inaugural, o MIS exibe ainda um documentário sobre as esculturas pantagruélicas do sueco Claes Oldenburg, criado nos Estados Unidos e um dos mais disputados artistas das bienais internacionais. O vídeo de Gerald Fox, Claes Oldenburg, realizado há dois anos, tenta explicar as relaçoes entre as gigantescas dimensoes dos objetos criados por Oldenburg (martelos, pás, picaretas) e o ideário pop dos anos 60.

Mais recente, o vídeo de Gero von Boehm sobre o pintor inglês David Hockney, "Prazeres do Olho" (1998), quer montar os fragmentos de uma trajetória iniciada em Londres nos anos 60 até a consagraçao desse artista que já fez cenários para óperas de Stravinski, ilustrou livros de Kaváfis e ficou famoso por suas pinturas de efebos em piscinas azuis.

Sintonia - O curador Marcello Dantas, por intermédio de sua empresa, a Magnetoscópio, consegue ter acesso a essas produçoes simultaneamente às estréias mundiais desses vídeos. É o caso do vídeo de David Hockney, exibido na mesma semana, no ano passado, em que o Beaubourg de Paris promovia seu lançamento em Paris. "É importante estar sintonizado com o que está acontecendo e nós pesquisamos tudo nessa área", diz, revelando ter assistido a 567 vídeos apenas no ano passado para selecionar os 36 do ciclo "Evidência" que o MIS vai exibir.

Já no próximo programa, que começa dia 11, o museu exibe um documentário dirigido pelo próprio Marcello Dantas, o vídeo "Item Número Zero: Peter Greenaway". Ele foi gravado no ano passado, quando o cineasta inglês (Afogando em Números) passou pelo Brasil para mostrar sua ópera "100 Objetos para Representar o Mundo". "De certa forma, é um vídeo para explicar as obsessoes de Greenaway", define seu diretor, adiantando que o diretor de "A Ultima Tempestade" conta nele a origem de sua fixaçao em afogamentros e quedas de aviao.

Greenaway, aos oito anos, viu um amiguinho morrer afogado e, dois anos depois, uma centena de pessoas atingidas pela queda de um aviao num show aéreo ao qual foi levado por seu pai. "Ele conta também que preferia ter sido um biólogo a cineasta", acrescenta Dantas. Greenaway foi levado pelo realizador à Colônia Juliano Moreira, onde viveu durante muitos anos o artista Arthur Bispo do Rosário, que, como o inglês, queria representar o mundo por objetos.

Teatro - Na semana que vai de 18 a 23, a principal atraçao será a ópera de Peter Brook baseada no livro do neurologista Oliver Sacks, "O Homem Que Confundiu Sua Mulher Com Um Chapéu". O vídeo, de Chritopher Rawlence, registra a montagem dessa ópera que relata um caso clínico de Sacks, o de um cantor incapaz de reconhecer objetos e pessoas. Ele é salvo pelo poder da música, que o ajuda a reorganizar o mundo caótico em que vive. Como complemento, o programa exibe um documentário dirigido por David Thomas há dez anos, que mostra a carreira do diretor Peter Brook responsável por montagens históricas como a de "Marat-Sade".

No mesmo programa de Peter Brook entra um vídeo sobre o teatro físico de Lloyd Newson, "Entre Achilles", dirigido por uma mulher, Clara van Good. Com oito artistas da companhia, Newson simula uma conversa de bar entre homens, que revela a insegurança de quem se esconde por trás de um copo de cerveja e palavreado grosseiro.

Ainda este mês o ciclo "Evidência" vai mostrar vídeos sobre a obra do escritor e cineasta norte-americano Paul Auster (Contos de Nova York, Lulu on the Bridge), do compositor de vanguarda John Cage e outros músicos experimentais (Brian Eno e John Cale). As atraçoes, porém, nao acabam no primeiro semestre. Até dezembro serao apresentados vídeos sobre David Lynch, Rebecca Horn, Jeff Koons, Steve Reich e Isamu Noguchi, entre outros. "O público nao gosta de arte contemporânea porque nao conhece", observa Dantas. "Queremos mudar isso".




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