Pelo fato de a atriz, produtora e diretora atuar em causas sociais, esse documentário transparece autenticidade. Lucélia narra em um off engajado, e deixa as imagens completarem o resto. São fortes em seu conteúdo – pessoas assassinadas, torturadas, massacradas. Sua voz quase chorosa sobre essas cenas denota sua intenção parcial. Lucélia faz questão de mostrar também que os timorense sabem tirar o luto pelos seus mortos e festejar a vida.
As imagens de massacres são de arquivos da televisão estatal portuguesa RTP e do cineasta Max Stahl, documentarista inglês presente aos conflitos.
O projeto começou em 1995, quando o ativista José Ramos Horta, da Fretilin (Frente Revolucionária do Timor Leste Independente), visitou o Brasil em uma das etapas de sua peregrinação para chamar atenção para seu país. Só quando Horta e o bispo de Dili (capital do Timor Leste), Carlos Ximenes Belo, ganharam o Nobel da Paz em 1996 surgiu a idéia de mostrar o sofrimento dos timorenses em um filme. Lucélia compareceu à cerimônia em Oslo como convidada.
Durante um mês, ela registrou no país sua trágica situação, acompanhada do filho Pedro Henrique Neschling, co-autor do roteiro. Lucélia explica o contexto geográfico e histórico da Ilha de Timor, que fica no Pacífico Sul, e que pertencia desde 1520 a Portugal (leste) e Holanda (oeste, transferido em 1949 para a Indonésia). Quando a Revolução dos Cravos encerrou a ditadura em Portugal em 1974, os timorenses do leste (ainda português) proclamaram a independência. Mas no ano seguinte, a Indonésia anexou o país e lá ficou até 1999, quando um referendum fez a maioria optar pela independência.
Lucélia entrevistou pessoas chave na independência do Timor Leste (como Horta, Belo, o atual presidente e ex-líder nacionalista Alexandre Xanana Gusmão, e outros). As imagens são, contudo, a força deste filme. Engajado, sim, mas necessário contra a perpetuação da indiferença.
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